Como os gentios do Brasil não têm por costume o trabalho cotidiano, como os da costa da
África, e só lavram quando têm necessidade, vagando enquanto têm que comer, sentiam
de forma a nova vida, o trabalhar por obrigação e não voluntariamente, como usavam na
sua liberdade, que na perda dela e na repugnância e pensão do cativeiro morrendo infinitos,
vinham a sair mais caros pelo mais limitado preço. (SCHWARTZ, 1995, p. 68).
A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre a colonização do Brasil, é correto afirmar:
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa A.
Tema central: organização do trabalho na colonização brasileira — transição da escravidão indígena para a escravidão africana motivada por razões econômicas, demográficas e logísticas.
Resumo teórico: No início da colonização houve uso da força sobre indígenas, mas fatores como alta mortalidade indígena por doenças, fuga para o interior, conhecimento do território e resistência social e religiosa dificultaram o estabelecimento de mão de obra contínua. O mercado atlântico já fornecia africanos escravizados; para os senhores coloniais, o interesse mercantil — obter trabalho obrigatório e contínuo para plantations de açúcar — tornou a importação de africanos uma solução mais viável e lucrativa, sem que a escravidão indígena tenha desaparecido imediatamente.
Por que a alternativa A está correta: Ela afirma que o interesse mercantil pela mão de obra compulsória foi decisivo na opção pelo trabalho africano, mesmo com a continuidade da escravidão indígena. Isso sintetiza a explicação econômica predominante nas pesquisas (ver, por exemplo, Stuart B. Schwartz; Gilberto Freyre para contexto social), onde a lógica do lucro e a disponibilidade de escravos africanos pela rota atlântica foram determinantes.
Análise das incorretas:
B: exagera ao reduzir o fracasso das capitanias apenas à incapacidade de estabelecer trabalho compulsório; houve problemas administrativos, falta de investimento, ataques estrangeiros e isolamento.
C: incorreta porque reprime a ideia de que a Igreja se opôs uniformemente à escravidão; houve defesa dos indígenas por ordens como os jesuítas, mas a Igreja como instituição não se opôs de modo sistemático à escravidão africana.
D: afirmação simplista e ideológica — não foi questão de “adaptação” natural dos povos, mas de fatores econômicos, demográficos e do comércio atlântico; a frase promove visão racista e equivocada.
E: falso: a escravidão existia em diversas sociedades (incluindo europeias e africanas), e a narrativa de “tribos atrasadas” é cientificamente incorreta e tendenciosa.
Estratégia de prova: procure na frase-chave do enunciado termos como “mão de obra compulsória” e relacione com motivos econômicos e logísticos; elimine alternativas absolutistas ou que usem juízos de valor não históricos.
Fontes sugeridas: Stuart B. Schwartz (obras sobre açúcar e escravidão), Gilberto Freyre, e manuais de História do Brasil para concursos.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





