Durante a Idade Média
Em 1900, Sigmund Freud escrevia:
[...] Apaixonar-se por um dos pais e odiar o outro figuram entre os componentes
essenciais do acervo de impulsos psíquicos que se formam nessa época [a infância] e
que é tão importante na determinação dos sintomas da neurose posterior. [...] Essa
descoberta é confirmada por uma lenda da Antiguidade Clássica que chegou até nós:
uma lenda cujo poder profundo e universal de comover só pode ser compreendido se
a hipótese que propus com respeito à psicologia infantil tiver validade igualmente
universal. O que tenho em mente é a lenda do Rei Édipo e a tragédia de Sófocles que
traz o seu nome. Édipo, filho de Laio, Rei de Tebas, e de Jocasta, foi enjeitado quando
criança porque um oráculo advertira Laio de que a criança ainda por nascer seria o
assassino de seu pai. A criança foi salva e cresceu como príncipe numa corte
estrangeira, até que, em dúvida quanto a suas origens, também ele interrogou um
oráculo e foi alertado para evitar sua cidade, já que estava predestinado a assassinar
seu pai e receber sua mãe em casamento. Na estrada que o levava para longe do
local que ele acreditava ser seu lar, encontrou-se com o Rei Laio e o matou numa
súbita rixa. Em seguida, dirigiu-se a Tebas e decifrou o enigma apresentado pela
Esfinge que lhe barrava o caminho. Por gratidão, os tebanos fizeram-no rei e lhe
deram a mão de Jocasta em casamento. Ele reinou por muito tempo com paz e honra,
e aquela que, sem que ele o soubesse, era sua mãe deu-lhe dois filhos e duas filhas.
Por fim, então, irrompeu uma peste e os tebanos mais uma vez consultaram o oráculo.
É nesse ponto que se inicia a tragédia de Sófocles. Os mensageiros trazem de volta a
resposta de que a peste cessará quando o assassino de Laio tiver sido expulso do
país. (CAMPOS & MIRANDA, 2005, p. 67-68).
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: a circulação e preservação do legado filosófico grego durante a Idade Média. A questão avalia quem, entre os agentes culturais medievais, atuou de modo decisivo na apropriação, tradução e difusão das obras gregas.
Resumo teórico: após o declínio do Império Romano, muitos textos gregos foram preservados e comentados no mundo islâmico (séculos VIII–12). Centros como a Casa da Sabedoria em Bagdá e a escola de tradutores de Toledo promoveram traduções do grego e do siríaco para o árabe e depois para o latim. Filósofos como Al-Kindi, Al-Farabi, Avicena (Ibn Sînâ) e Averróis (Ibn Rushd) leram, comentaram e transmitiram Aristóteles e Platão, possibilitando a redescoberta desses autores na Europa e influenciando a escolástica (ex.: Tomás de Aquino).
Justificativa da alternativa C: A alternativa afirma que “a cultura muçulmana se apropriou de muitas das concepções filosóficas gregas, contribuindo para a preservação desse legado cultural.” Isso é historicamente correto: a transmissão e os comentários islâmicos foram fundamentais para que a ciência e a filosofia antigas chegassem ao Ocidente medieval.
Análise das alternativas incorretas
A — incorreta: o teatro medieval desenvolveu-se a partir do drama litúrgico e das peças de mistério/moralidade, não como mera imitação do teatro grego para atrair fiéis.
B — incorreta: a nobreza raramente foi o agente intelectual que “usou” a filosofia grega para contestar a Igreja; o debate filosófico ocorreu principalmente em escolas, monastérios e universidades, e a recepção aristotélica se deu por vias acadêmicas, não por iniciativas políticas diretas da nobreza.
D — incorreta: embora houvesse tensões, a Igreja não negou por completo a cultura grega; muitos textos foram traduzidos e estudados no âmbito cristão (escolástica) — houve filtro crítico, mas não rejeição absoluta.
E — incorreta: monges copistas foram parte central na preservação de manuscritos; afirmar que destruíram “a grande totalidade” é uma generalização falsa. Houve perdas, porém os mosteiros foram centros de conservação textual.
Dica de prova: desconfie de enunciados absolutos ("por completo", "grande totalidade"). Busque agentes históricos reais (Casa da Sabedoria; Toledo; Averróes; Avicena) e períodos (séculos VIII–XIII) para validar a resposta.
Fontes sugeridas: Encyclopaedia Britannica (entradas sobre "House of Wisdom", "Averroes", "Medieval philosophy"); obras sobre a transmissão do saber, como estudos da escola de tradutores de Toledo.
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