O fragmento, extraído do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, narra a desventura de Custódio, dono de uma confeitaria no Rio de Janeiro, que, às vésperas da proclamação da República, mandou fazer uma placa com o nome “Confeitaria do Império" e agora temia desagradar ao novo regime. A ironia com que as dúvidas de Custódio são narradas representa o:
(...) “Confeitaria do Custódio”. Muita gente certamente lhe não conhecia a casa por outra designação. Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que chamasse a atenção dos dois regimes, e conseguintemente que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara, menos ainda a vida do proprietário e dos empregados. Por que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma coisa com a troca de uma palavra por outra, Custódio em vez de Império, mas as revoluções trazem sempre despesas.
(Machado de Assis. Esaú e Jacó. Obra completa, 1904.)
Gabarito comentado
Resposta correta: C
1. Tema central: trata-se da leitura de um trecho literário que ilustra uma reação social diante de uma mudança política — a Proclamação da República (15/11/1889). É preciso identificar a atitude social implícita no texto: não entusiasmo nem oposição apaixonada, mas indiferença/pragmatismo.
2. Resumo teórico curto: nas transformações políticas, as reações populares variam entre apoio ativo, resistência, mobilização social ou mera indiferença. O trecho usa ironia para mostrar um pequeno comerciante preocupado com custos e com evitar problemas práticos, não com ideologia. Essa postura corresponde ao alheamento diante do conteúdo ideológico da mudança.
3. Fontes/Referência: texto literário: Machado de Assis, Esaú e Jacó (1904). Contexto histórico: Proclamação da República, 1889 — ver sínteses em Boris Fausto, História do Brasil, e Emília Viotti da Costa sobre as reações sociais ao evento.
4. Justificativa da alternativa C: o narrador ironiza as preocupações de Custódio com a simples troca de nome na placa e com gastos materiais — sinal claro de distanciamento político. Não há comprometimento ideológico; há pragmatismo e desinteresse político, isto é, alheamento.
5. Por que as outras opções estão erradas:
A — fala de “desconsolo popular” e idolatria ao imperador; o trecho mostra preocupação prática, não luto afetivo ou saudosismo político.
B — supõe respaldo social que transformou a mudança em revolução social; o texto indica ausência de mobilização popular, não adesão coletiva.
D — afirma reconhecimento da ampliação de direitos; a cena não aborda cidadania nem ganhos jurídicos, apenas o custo da mudança de placa.
E — diz “impacto profundo” e apoio imediato; o episódio mostra impacto limitado e reações pragmáticas, não apoio entusiástico.
6. Estratégia de interpretação: procure no enunciado pistas práticas/linguísticas (ironias, detalhes cotidianos) que indiquem atitude social (engajamento vs. indiferença). Em questões históricas com texto literário, priorize o tom narrativo — aqui, a ironia revela desalinhamento político.
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