Segundo o historiador francês Michel de Certeau,
Não existem considerações, por mais gerais que sejam, nem leituras, por mais longe que as estendamos, capazes de apagar a particularidade do lugar de onde eu falo e do domínio por onde conduzo uma
investigação. Toda pesquisa historiográfica é articulada a partir de um lugar de produção socioeconômico, político e cultural. É por acaso que se passa da “história social” à “história econômica” durante
o período situado entre as duas guerras mundiais, por volta da crise econômica de 1929, ou que no
momento atual a história cultural prevalece, quando se impõe, por todas as partes, com o lazer e os
mass media, a importância social, econômica e política da “cultura”?
(Adaptado de: CERTEAU, M. A operação histórica. In. LE GOFF, J.; NORA, P. História: novos problemas. Trad. de Theo Santiago.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p.17-18 e p.25.)
Sobre o conteúdo do texto, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Resposta correta: C
Tema central: o texto discute a postura historiográfica de Michel de Certeau: toda pesquisa histórica parte de um "lugar de produção" (condições socioeconômicas, políticas e culturais) e, portanto, a prática do historiador está situada e condicionada por esse ponto de partida. Compreender essa ideia é essencial para responder à questão.
Resumo teórico breve: Certeau defende que a investigação histórica não é neutra nem totalmente universalizável; ela é articulada a partir de um contexto social e ideológico. Isso aproxima-se da crítica à objetividade absoluta e enfatiza a historicidade do historiador e do discurso histórico (ver: CERTEAU, M. "A operação histórica", em LE GOFF & NORA, História: novos problemas).
Por que a alternativa C é correta: O enunciado afirma que "toda pesquisa historiográfica é articulada a partir de um lugar de produção socioeconômico, político e cultural". A alternativa C resume essa ideia: as indagações ao documento dependem do lugar de produção e a prática histórica é relativa às estruturas sociais. Essa leitura está em total sintonia com Certeau.
Análise das alternativas incorretas:
A — Errada: afirma que Certeau adota uma concepção positivista (neutralidade metodológica científica). Na verdade, ele critica a pretensão de neutralidade, destacando a posição situada do historiador.
B — Errada (parcialmente verdadeira, mas enganosa): o texto descreve movimentos entre enfoques (social → econômico; hoje cultura), mas Certeau não está propondo simplesmente um "afastamento" da economia em favor dos estudos culturais; ele explica como contextos históricos condicionam as prioridades historiográficas. A alternativa reduz e transforma explicação em proposição normativa.
D — Errada: pressupõe que Certeau defende neutralidade como caminho para a verdade histórica. Pelo contrário, ele mostra que o lugar do historiador influencia perguntas e interpretações, rejeitando a neutralidade absoluta.
E — Errada: enquadrar o texto na escola historicista é impreciso. Historicismo tende a valorizar a singularidade histórica, mas normalmente sustenta uma prática científica e, em certa medida, a separação do presente. Certeau enfatiza o vínculo entre produção historiográfica e condições presentes, criticando a ideia de completa desvinculação.
Dicas para provas: procure no enunciado palavras-chave que indiquem posicionamento do autor ("lugar de produção", "particularidade", "articulada a partir de..."). Desconfie de alternativas que transformam explicações descritivas em recomendações normativas.
Fonte principal: CERTEAU, M. "A operação histórica" (em LE GOFF, J.; NORA, P. História: novos problemas).
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