Questão 002686ff-f0
Prova:Esamc 2019
Disciplina:História
Assunto:História Geral, Antiguidade Ocidental (Gregos, Romanos e Macedônios)

Leia o fragmento, extraído do famoso discurso do governante ateniense Péricles (494 a.C. – 429 a.C.) e reproduzido na obra de Tucídides, para os soldados da cidade antes de uma batalha da Guerra do Peloponeso, que opôs os aliados de Atenas aos de Esparta:

[...] quanto às cidades de nossa confederação, restituir-lhes-emos a independência se elas eram independentes quando concluímos a paz, e logo que os lacedemônios, de sua parte, concederem às suas cidades aliadas o direito de ser independentes de forma condizente não com os interesses dos lacedemônios, mas com os desejos de cada cidade isoladamente; quanto à arbitragem, estamos prontos a submeter-nos a ela de acordo com o tratado, e não tomaremos a iniciativa da guerra, mas nos defenderemos contra aqueles que o fizerem.

(TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: UNB, 1987, p. 87-88.)

O texto aponta para a existência de ligas entre as cidades gregas, durante a Guerra do Peloponeso. Enquanto ocorriam os conflitos, Atenas vivia o auge de sua experiência democrática.

Assinale a alternativa na qual aparece a contradição entre teoria e prática dos atenienses no período retratado, associando ao mundo atual.

A
Apesar de apresentar Atenas como uma nação contrária à guerra, Péricles foi o iniciador da Guerra do Peloponeso, ao buscar o controle sobre toda a Grécia, semelhante a países atuais que pregam a paz mas continuam a estimular conflitos pelo mundo.
B
Mesmo após a vitória sobre Esparta na Guerra do Peloponeso, Atenas manteve a Liga de Delos, caracterizada pela imposição de suas determinações, semelhante à manutenção da Otan após o final da Guerra Fria e a consequente derrota do bloco soviético.
C
Apesar de democrática na organização política, ao manter a Liga de Delos, mesmo após a vitória sobre os persas, Atenas se apresenta como uma nação imperialista, contrariando o conceito de autodeterminação, prática muito comum no mundo contemporâneo.
D
Péricles afirma que Atenas não tomará a iniciativa da guerra, mas se defenderá caso seja atacada, o que contraria o fato de os atenienses terem iniciado a Guerra do Peloponeso, discurso parecido com o de potências atuais que invadem outros países em nome da manutenção da paz.
E
A democracia ateniense, por si só, já apresentava uma contradição, uma vez que mulheres, escravos e estrangeiros estavam proibidos de participarem da política, semelhante à democracia atual, na qual, apesar de a teoria dizer o contrário, a maior parte da população é proibida de participar da política.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: o trecho aponta para a existência de ligas (como a Liga de Delos) e para a postura de Atenas no período que antecedeu e durante a Guerra do Peloponeso. A questão pede identificar a contradição entre a teoria (Atenas como democracia que respeita a autonomia das cidades) e a prática (controle e imposição sobre aliados), relacionando com exemplos atuais.

Resumo teórico e contextual (essencial): Após as Guerras Persas, a Liga de Delos foi criada como aliança defensiva contra a Pérsia, mas gradualmente transformou‑se em instrumento de poder ateniense: tributos obrigatórios, remoção de cofres e intervenção política nas cidades aliadas — características de uma política imperialista que conflita com a ideia de autodeterminação. Fonte clássica: Tucídides (História da Guerra do Peloponeso); interpretação moderna: Kagan, D. (The Peloponnesian War).

Por que a alternativa C está correta? Porque identifica com precisão a contradição: Atenas, embora celebre sua democracia interna, negou na prática a autonomia das cidades aliadas ao manter e explorar a Liga de Delos, configurando um comportamento imperialista que contradiz o princípio de autodeterminação — paralelo pertinente ao mundo contemporâneo, em que potências democráticas também exercem influência e controle sobre outros estados em dissonância com discursos de liberdade.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta: afirma que Péricles foi o iniciador da Guerra do Peloponeso e que Atenas se apresentava como contra a guerra. Na fonte, Péricles defende posição defensiva/arbitral; as causas da guerra são complexas e não reduzem‑se a um único “iniciador”.

B — Incorreta: afirma que Atenas venceu Esparta; historicamente, Atenas foi derrotada (404 a.C.). Além disso, comparar diretamente a manutenção da OTAN após a Guerra Fria com a Liga de Delos erra a cronologia e as dinâmicas políticas.

D — Incorreta: repete a ideia de que os atenienses iniciaram a guerra; o trecho mostra uma retórica de defesa e de submissão à arbitragem, não um declarativo iniciador de agressão.

E — Incorreta: aponta corretamente a exclusão de mulheres, escravos e metecos na democracia ateniense, mas essa crítica não é a contradição abordada no texto dado, que trata da política externa/ligas. Além disso, a analogia com democracias modernas está exagerada ao afirmar que “a maior parte da população é proibida de participar da política”.

Estratégia para provas: leia o trecho identificando a questão central (aqui: autonomia das cidades/ligas). Verifique precisão histórica (vitória/derrota, cronologia) antes de aceitar paralelos contemporâneos. Prefira a alternativa que combina fidelidade ao texto com acerto histórico.

(Fontes: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso; Donald Kagan, The Peloponnesian War.)

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