Leia o fragmento, extraído do famoso discurso do governante ateniense Péricles (494 a.C. – 429 a.C.) e reproduzido na obra de Tucídides,
para os soldados da cidade antes de uma batalha da Guerra do Peloponeso, que opôs os aliados de Atenas aos de Esparta:
[...] quanto às cidades de nossa confederação, restituir-lhes-emos a independência se elas eram independentes quando concluímos a paz, e
logo que os lacedemônios, de sua parte, concederem às suas cidades
aliadas o direito de ser independentes de forma condizente não com
os interesses dos lacedemônios, mas com os desejos de cada cidade
isoladamente; quanto à arbitragem, estamos prontos a submeter-nos
a ela de acordo com o tratado, e não tomaremos a iniciativa da guerra,
mas nos defenderemos contra aqueles que o fizerem.
(TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: UNB, 1987, p. 87-88.)
O texto aponta para a existência de ligas entre as cidades gregas, durante a Guerra do Peloponeso. Enquanto ocorriam os conflitos, Atenas
vivia o auge de sua experiência democrática.
Assinale a alternativa na qual aparece a contradição entre teoria e prática dos atenienses no período retratado, associando ao mundo atual.
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C
Tema central: o trecho aponta para a existência de ligas (como a Liga de Delos) e para a postura de Atenas no período que antecedeu e durante a Guerra do Peloponeso. A questão pede identificar a contradição entre a teoria (Atenas como democracia que respeita a autonomia das cidades) e a prática (controle e imposição sobre aliados), relacionando com exemplos atuais.
Resumo teórico e contextual (essencial): Após as Guerras Persas, a Liga de Delos foi criada como aliança defensiva contra a Pérsia, mas gradualmente transformou‑se em instrumento de poder ateniense: tributos obrigatórios, remoção de cofres e intervenção política nas cidades aliadas — características de uma política imperialista que conflita com a ideia de autodeterminação. Fonte clássica: Tucídides (História da Guerra do Peloponeso); interpretação moderna: Kagan, D. (The Peloponnesian War).
Por que a alternativa C está correta? Porque identifica com precisão a contradição: Atenas, embora celebre sua democracia interna, negou na prática a autonomia das cidades aliadas ao manter e explorar a Liga de Delos, configurando um comportamento imperialista que contradiz o princípio de autodeterminação — paralelo pertinente ao mundo contemporâneo, em que potências democráticas também exercem influência e controle sobre outros estados em dissonância com discursos de liberdade.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: afirma que Péricles foi o iniciador da Guerra do Peloponeso e que Atenas se apresentava como contra a guerra. Na fonte, Péricles defende posição defensiva/arbitral; as causas da guerra são complexas e não reduzem‑se a um único “iniciador”.
B — Incorreta: afirma que Atenas venceu Esparta; historicamente, Atenas foi derrotada (404 a.C.). Além disso, comparar diretamente a manutenção da OTAN após a Guerra Fria com a Liga de Delos erra a cronologia e as dinâmicas políticas.
D — Incorreta: repete a ideia de que os atenienses iniciaram a guerra; o trecho mostra uma retórica de defesa e de submissão à arbitragem, não um declarativo iniciador de agressão.
E — Incorreta: aponta corretamente a exclusão de mulheres, escravos e metecos na democracia ateniense, mas essa crítica não é a contradição abordada no texto dado, que trata da política externa/ligas. Além disso, a analogia com democracias modernas está exagerada ao afirmar que “a maior parte da população é proibida de participar da política”.
Estratégia para provas: leia o trecho identificando a questão central (aqui: autonomia das cidades/ligas). Verifique precisão histórica (vitória/derrota, cronologia) antes de aceitar paralelos contemporâneos. Prefira a alternativa que combina fidelidade ao texto com acerto histórico.
(Fontes: Tucídides, História da Guerra do Peloponeso; Donald Kagan, The Peloponnesian War.)
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