Questõesde UNIFESP sobre Português
Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932- ).
As frases citadas pela personagem Mafalda no início de sua
fala foram extraídas de
Em “A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países
balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um
dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com
os outros mundos.” (3º
parágrafo), o pronome destacado
refere-se a
Nesta obra, o observador é atraído por uma ideia poética:
a de um objeto que assume a substância do material em que
se sente à vontade.
(Marcel Paquet. René Magritte: o pensamento tornado
visível, 2000. Adaptado.)
Tal comentário aplica-se à seguinte obra do pintor belga René
Magritte (1898-1967):
Constituem termos que reforçam o tom pessimista do poema:
Personificação: recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado
ou abstrato.
(Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa.
www.infopedia.pt. Adaptado.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
O pronome “te”, empregado no segundo verso da última
estrofe, refere-se a
Leia a seguinte sinopse do livro 24/7: capitalismo tardio e os
fins do sono:
O livro faz um panorama vertiginoso de um mundo cuja
lógica não se prende mais a limites de tempo e espaço,
funcionando ininterruptamente sob uma lógica para a qual
o próprio ser humano é um empecilho. Para o autor, nossa necessidade de repouso e sono é a última fronteira ainda
não ultrapassada pela lógica da mercadoria. O capitalismo,
no entanto, já se movimenta no sentido de colonizar mais
essa esfera da vida e hoje financia extensamente pesquisas
científicas que buscam a fórmula para criar o “homem sem
sono”, capaz de trabalhar e consumir sob a lógica 24/7. Ainda
assim, o livro recupera toda uma tradição da cultura ocidental
que sempre viu no sono e no sonho possibilidades utópicas.
24/7 é um dos diagnósticos mais agudos do mundo contemporâneo.
Com base na leitura do excerto e da sinopse acima, é correto
concluir que os números “24/7”, que integram o título do livro,
indicam
Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” publicado por
Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) no ano de 1909.
Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas
pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; a
vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros sob suas luas
elétricas; as estações glutonas comedoras de serpentes que
fumam; as usinas suspensas nas nuvens pelos barbantes de
suas fumaças; os navios aventureiros farejando o horizonte;
as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos,
como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o
voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da
bandeira e os aplausos da multidão entusiasta.
(Apud Gilberto Mendonça Teles.
Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.)
Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes versos, extraídos da produção poética de Fernando
Pessoa (1888-1935):
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
Este momento em que sossegadamente não cremos em
[nada,
Pagãos inocentes da decadência.
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Considerando as pretensões do projeto, o slogan do consórcio “Luz do dia a noite toda” mostra-se
“Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa,
que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.”
(4° parágrafo)
Os termos em destaque constituem, respectivamente,
Leia o trecho do conto “A igreja do Diabo”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à questão.
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula¹ beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
– Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro², fazei dele um troféu e um lábaro3 , e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada4 . A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade5 . Um casuísta6 do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.
(Contos: uma antologia, 1998.)
1 cogula: espécie de túnica larga, sem mangas, usada por certos religiosos.
2 desdouro: descrédito, desonra.
3 lábaro: estandarte, bandeira.
4 esgalgado: comprido e estreito.
5 venalidade: condição ou qualidade do que pode ser vendido.
6 casuísta: pessoa que pratica o casuísmo (argumento fundamentado em raciocínio enganador ou falso).