Questõesde UNIFESP sobre Português

1
1
Foram encontradas 309 questões
e49b1f0b-de
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Mais recorrente na poesia arcádica, verifica-se neste soneto barroco o recurso, sobretudo, ao seguinte lema latino:

Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder à questão.

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia.

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

(Poemas escolhidos, 2010.) 
A
“locus horrendus” (“lugar horrível”).
B
“locus amoenus” (“lugar aprazível”).
C
“memento mori” (“lembra-te da morte”).
D
“inutilia truncat” (“corta o inútil”).
E
“carpe diem” (“aproveite o dia”).
e47b5649-de
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais

Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932- ).


As frases citadas pela personagem Mafalda no início de sua fala foram extraídas de

A
um anúncio publicitário.
B
um livro sobre culinária.
C
uma peça de teatro.
D
uma cartilha escolar.
E
um guia turístico.
e4898035-de
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em “A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos.” (3º parágrafo), o pronome destacado refere-se a

Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder à questão.

     A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
     Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros.
     É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios- -ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
     Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
     Quais os fundamentos em que assentam de preferência as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?
     Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional. [...]
     É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.

(Raízes do Brasil, 2000.)
A
“Europa”.
B
“Rússia e os países balcânicos”.
C
“Espanha e Portugal”.
D
“territórios-ponte”.
E
“mundos”.
09335902-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nesta obra, o observador é atraído por uma ideia poética: a de um objeto que assume a substância do material em que se sente à vontade.

                    (Marcel Paquet. René Magritte: o pensamento tornado visível,
2000. Adaptado.)

Tal comentário aplica-se à seguinte obra do pintor belga René Magritte (1898-1967):

A


B


C


D


E


0929c584-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Constituem termos que reforçam o tom pessimista do poema:

Para responder à, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951. 

Escurece, e não me seduz 
tatear sequer uma lâmpada. 
Pois que aprouve1 ao dia findar, 
aceito a noite.

E com ela aceito que brote 
uma ordem outra de seres 
e coisas não figuradas. 
Braços cruzados. 

Vazio de quanto amávamos, 
mais vasto é o céu. Povoações 
surgem do vácuo. 
Habito alguma?

E nem destaco minha pele 
da confluente escuridão. 
Um fim unânime concentra-se 
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito 
que o dia carreia2 consigo, 
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou 
extinguir-se na cor do galo? 
Esta rosa é definitiva, 
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente, 
já te desprezo. E tu, palavra. 
No mundo, perene trânsito, 
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

(Claro enigma, 2012.)

1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar. 
A
“noite”, “vazio” e “fim”.
B
“dia”, “pele” e “cor”
C
“coisas”, “vácuo” e “imaginação”.
D
“lâmpada”, “céu” e “escuridão”
E
“ordem”, “povoações” e “espírito”.
092d2ba6-da
UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

Personificação: recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado ou abstrato.


                                        (Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa.
                                                                        www.infopedia.pt. Adaptado.)

Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:

Para responder à, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951. 

Escurece, e não me seduz 
tatear sequer uma lâmpada. 
Pois que aprouve1 ao dia findar, 
aceito a noite.

E com ela aceito que brote 
uma ordem outra de seres 
e coisas não figuradas. 
Braços cruzados. 

Vazio de quanto amávamos, 
mais vasto é o céu. Povoações 
surgem do vácuo. 
Habito alguma?

E nem destaco minha pele 
da confluente escuridão. 
Um fim unânime concentra-se 
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito 
que o dia carreia2 consigo, 
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou 
extinguir-se na cor do galo? 
Esta rosa é definitiva, 
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente, 
já te desprezo. E tu, palavra. 
No mundo, perene trânsito, 
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

(Claro enigma, 2012.)

1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar. 
A
“Vazio de quanto amávamos,” (3a estrofe)
B
“E nem destaco minha pele” (4a estrofe)
C
“Esta rosa é definitiva,” (6a estrofe)
D
“Pois que aprouve ao dia findar,” (1a estrofe)
E
“No mundo, perene trânsito,” (7a estrofe)
09303c25-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência

O pronome “te”, empregado no segundo verso da última estrofe, refere-se a

Para responder à, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951. 

Escurece, e não me seduz 
tatear sequer uma lâmpada. 
Pois que aprouve1 ao dia findar, 
aceito a noite.

E com ela aceito que brote 
uma ordem outra de seres 
e coisas não figuradas. 
Braços cruzados. 

Vazio de quanto amávamos, 
mais vasto é o céu. Povoações 
surgem do vácuo. 
Habito alguma?

E nem destaco minha pele 
da confluente escuridão. 
Um fim unânime concentra-se 
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito 
que o dia carreia2 consigo, 
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou 
extinguir-se na cor do galo? 
Esta rosa é definitiva, 
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente, 
já te desprezo. E tu, palavra. 
No mundo, perene trânsito, 
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

(Claro enigma, 2012.)

1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar. 
A
“imaginação”.
B
“palavra”.
C
“rosa”.
D
“mundo”.
E
“corpo”
091fb486-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia a seguinte sinopse do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono:

O livro faz um panorama vertiginoso de um mundo cuja lógica não se prende mais a limites de tempo e espaço, funcionando ininterruptamente sob uma lógica para a qual o próprio ser humano é um empecilho. Para o autor, nossa necessidade de repouso e sono é a última fronteira ainda não ultrapassada pela lógica da mercadoria. O capitalismo, no entanto, já se movimenta no sentido de colonizar mais essa esfera da vida e hoje financia extensamente pesquisas científicas que buscam a fórmula para criar o “homem sem sono”, capaz de trabalhar e consumir sob a lógica 24/7. Ainda assim, o livro recupera toda uma tradição da cultura ocidental que sempre viu no sono e no sonho possibilidades utópicas. 24/7 é um dos diagnósticos mais agudos do mundo contemporâneo.

Com base na leitura do excerto e da sinopse acima, é correto concluir que os números “24/7”, que integram o título do livro, indicam

Leia o excerto do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono de Jonathan Crary para responder à questão.

    No fim dos anos 1990, um consórcio espacial russo-europeu anunciou que construiria e lançaria satélites que refletiriam a luz do Sol para a Terra. O esquema previa colocar em órbita uma cadeia de satélites, sincronizados com o Sol, a uma altitude de 1700 quilômetros, cada um deles equipado com refletores parabólicos retráteis, da espessura de uma folha de papel. Quando completamente abertos, cada satélite-espelho, com duzentos metros de diâmetro, teria a capacidade de iluminar uma área da Terra de 25 quilômetros quadrados, com uma luminosidade quase cem vezes maior do que a da Lua. Em princípio, o projeto visava fornecer iluminação para a exploração industrial de recursos naturais em regiões remotas com longas noites polares, na Sibéria e no leste da Rússia, permitindo atividade ao ar livre, noite e dia. Mas o consórcio acabou expandindo seus planos para a possibilidade de oferecer iluminação noturna a regiões metropolitanas inteiras. Calculando que se reduziriam os custos de energia da iluminação elétrica, o slogan da empresa era “Luz do dia a noite toda”.
     A oposição ao projeto surgiu de imediato e de diversas frentes. Astrônomos temeram os efeitos nefastos da observação espacial a partir da Terra. Cientistas e ambientalistas apontaram consequências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais quanto aos humanos, uma vez que a ausência de alternância regular entre dia e noite interromperia vários padrões metabólicos, inclusive o sono. Associações culturais e humanitárias também protestaram, alegando que o céu noturno é um bem comum ao qual toda a humanidade tem direito, e que desfrutar da escuridão da noite e observar as estrelas é um direito humano básico que nenhuma empresa pode eliminar. De qualquer modo, direito ou privilégio, ele já está sendo violado para mais da metade da população do planeta, em cidades que estão permanentemente envoltas na penumbra da poluição e na intensa iluminação.
    Defensores do projeto, todavia, afirmaram que tal tecnologia diminuiria o uso noturno de eletricidade e que a perda da noite e de sua escuridão seria um preço razoável, considerando-se a redução do consumo global de energia. Seja como for, esse empreendimento, ao fim inviável, ilustra o imaginário contemporâneo, para o qual um estado de iluminação contínua é inseparável da ininterrupta operação de troca e circulação globais. Em seus excessos empresariais, o projeto é uma expressão hiperbólica de uma intolerância institucional a tudo que obscureça ou impeça uma situação de visibilidade instrumentalizada e constante.
                (24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014. Adaptado.)
A
valor monetário.
B
tempo cronológico.
C
marco histórico.
D
delimitação espacial
E
código secreto.
09235f0e-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia um trecho do “Manifesto do Futurismo” publicado por Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944) no ano de 1909.

    Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; a vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros sob suas luas elétricas; as estações glutonas comedoras de serpentes que fumam; as usinas suspensas nas nuvens pelos barbantes de suas fumaças; os navios aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos, como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o voo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta.

                        (Apud Gilberto Mendonça Teles.
                        Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, 1992. Adaptado.)

Em consonância com este preceito do Futurismo estão os seguintes versos, extraídos da produção poética de Fernando Pessoa (1888-1935):

A
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
o horizonte, empurram o nosso olhar para
[longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos
[olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
B

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia

C

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento –
Este momento em que sossegadamente não cremos em
[nada,
Pagãos inocentes da decadência.

D
Levando a bordo El-Rei dom Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
E
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
091c4e2d-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando as pretensões do projeto, o slogan do consórcio “Luz do dia a noite toda” mostra-se

Leia o excerto do livro 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono de Jonathan Crary para responder à questão.

    No fim dos anos 1990, um consórcio espacial russo-europeu anunciou que construiria e lançaria satélites que refletiriam a luz do Sol para a Terra. O esquema previa colocar em órbita uma cadeia de satélites, sincronizados com o Sol, a uma altitude de 1700 quilômetros, cada um deles equipado com refletores parabólicos retráteis, da espessura de uma folha de papel. Quando completamente abertos, cada satélite-espelho, com duzentos metros de diâmetro, teria a capacidade de iluminar uma área da Terra de 25 quilômetros quadrados, com uma luminosidade quase cem vezes maior do que a da Lua. Em princípio, o projeto visava fornecer iluminação para a exploração industrial de recursos naturais em regiões remotas com longas noites polares, na Sibéria e no leste da Rússia, permitindo atividade ao ar livre, noite e dia. Mas o consórcio acabou expandindo seus planos para a possibilidade de oferecer iluminação noturna a regiões metropolitanas inteiras. Calculando que se reduziriam os custos de energia da iluminação elétrica, o slogan da empresa era “Luz do dia a noite toda”.
     A oposição ao projeto surgiu de imediato e de diversas frentes. Astrônomos temeram os efeitos nefastos da observação espacial a partir da Terra. Cientistas e ambientalistas apontaram consequências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais quanto aos humanos, uma vez que a ausência de alternância regular entre dia e noite interromperia vários padrões metabólicos, inclusive o sono. Associações culturais e humanitárias também protestaram, alegando que o céu noturno é um bem comum ao qual toda a humanidade tem direito, e que desfrutar da escuridão da noite e observar as estrelas é um direito humano básico que nenhuma empresa pode eliminar. De qualquer modo, direito ou privilégio, ele já está sendo violado para mais da metade da população do planeta, em cidades que estão permanentemente envoltas na penumbra da poluição e na intensa iluminação.
    Defensores do projeto, todavia, afirmaram que tal tecnologia diminuiria o uso noturno de eletricidade e que a perda da noite e de sua escuridão seria um preço razoável, considerando-se a redução do consumo global de energia. Seja como for, esse empreendimento, ao fim inviável, ilustra o imaginário contemporâneo, para o qual um estado de iluminação contínua é inseparável da ininterrupta operação de troca e circulação globais. Em seus excessos empresariais, o projeto é uma expressão hiperbólica de uma intolerância institucional a tudo que obscureça ou impeça uma situação de visibilidade instrumentalizada e constante.
                (24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014. Adaptado.)
A
absurdo.
B
contraditório.
C
ambíguo.
D
apropriado.
E
irônico.
091633eb-da
UNIFESP 2016, UNIFESP 2016 - Português - Artigos, Preposições, Morfologia

“Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.” (4° parágrafo)

Os termos em destaque constituem, respectivamente,

Leia o trecho do conto “A igreja do Diabo”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à questão.

     Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula¹ beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.

    – Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro², fazei dele um troféu e um lábaro3 , e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...

    Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.

    Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada4 . A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.

    As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.

    Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade5 . Um casuísta6 do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.

(Contos: uma antologia, 1998.)

1 cogula: espécie de túnica larga, sem mangas, usada por certos religiosos.

2 desdouro: descrédito, desonra.

3 lábaro: estandarte, bandeira.

4 esgalgado: comprido e estreito.

5 venalidade: condição ou qualidade do que pode ser vendido.

6 casuísta: pessoa que pratica o casuísmo (argumento fundamentado em raciocínio enganador ou falso).

A
um pronome e um artigo
B
uma conjunção e um artigo.
C
um artigo e uma preposição.
D
um pronome e uma preposição.
E
um artigo e uma conjunção.