Questão 09303c25-da
Prova:UNIFESP 2016, UNIFESP 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Coesão e coerência

O pronome “te”, empregado no segundo verso da última estrofe, refere-se a

Para responder à, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951. 

Escurece, e não me seduz 
tatear sequer uma lâmpada. 
Pois que aprouve1 ao dia findar, 
aceito a noite.

E com ela aceito que brote 
uma ordem outra de seres 
e coisas não figuradas. 
Braços cruzados. 

Vazio de quanto amávamos, 
mais vasto é o céu. Povoações 
surgem do vácuo. 
Habito alguma?

E nem destaco minha pele 
da confluente escuridão. 
Um fim unânime concentra-se 
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito 
que o dia carreia2 consigo, 
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou 
extinguir-se na cor do galo? 
Esta rosa é definitiva, 
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente, 
já te desprezo. E tu, palavra. 
No mundo, perene trânsito, 
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

(Claro enigma, 2012.)

1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar. 

A
“imaginação”.
B
“palavra”.
C
“rosa”.
D
“mundo”.
E
“corpo”

Gabarito comentado

B
Bruno CostaMonitor do Qconcursos

Tema central da questão:
Esta questão avalia a interpretação de texto, mais precisamente a coesão referencial por meio do uso do pronome pessoal oblíquo átono “te”. O candidato deve identificar a quem o pronome se refere no contexto poético do texto.

Resolução e justificativa da resposta correta (A):
No verso “Imaginação, falsa demente, já te desprezo”, o pronome “te” estabelece uma relação direta com “imaginação”. Segundo a norma-padrão (vide “Moderna Gramática Portuguesa”, de Evanildo Bechara), os pronomes oblíquos átonos retomam termos anteriores funcionando como objetos da ação verbal. Assim, “te desprezo” traduz “desprezo a ti, imaginação”. O poeta emprega o vocativo em: “imaginação, falsa demente”, e logo depois recorre ao pronome átono para manter a coesão textual.

Estratégia para resolução: Identifique sempre o termo imediatamente anterior com função de vocativo ou aposto, e observe a função sintática do pronome. Desconfie de alternâncias indevidas de referente (pegadinha comum em provas!).

Análise das alternativas incorretas:

  • B) “palavra” – “Palavra” aparece em seguida, mas não é a ela que o eu-lírico dirige o sentimento de desprezo imediatamente após.
  • C) “rosa” – O termo “rosa” está em outra estrofe e não tem relação sintática ou referencial direta com o pronome “te”.
  • D) “mundo” – Mencionado em outro contexto. Ao analisar a ordem dos versos, percebe-se que “mundo” está afastado e fora do campo do referente imediato do pronome.
  • E) “corpo” – “Corpo” aparece apenas depois e não pode ser o referente do pronome, pois os pronomes átonos buscam o antecedente mais próximo que faz sentido no contexto.

Regra-chave para questões semelhantes: Ao se deparar com pronomes pessoais como “me”, “te”, “se”, “nos”, “vos”, localize no texto o vocativo ou o substantivo que expressa a ideia principal do trecho imediatamente anterior ao uso do pronome — normalmente é esse o referente. Confira sempre a lógica sintática e semântica, e atente-se a pegadinhas de deslocamento referencial.

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