Questõesde UEPA sobre Português

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UEPA 2011, UEPA 2011, UFPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Funções da Linguagem: emotiva, apelativa, referencial, metalinguística, fática e poética.

Sobre o poema de Herbert Emanuel abaixo, assinale a alternativa correta.


(Nada ou quase uma arte, 2. ed., Editora Spia Vídeos e Produções, Macapá: 2009, p.6)

A
Aborda o conceito materialista de casa.
B
Trata-se de um poema com tendências ao Concretismo, corrente iniciada em 1956, que preconizava a espacialização e geometrização do poema.
C
Trata-se de um poema relacionado à corrente do Verde-Amarelismo, que, após a Semana de 22, procurou resgatar o nacionalismo. O vocábulo casa, então, significaria a pátria.
D
Trata do difícil tema da falta de moradia, orientando para uma solução socialista, justificada nos versos a casa somos nós / e os outros que alojamos.
E
É um poema que utiliza a metalinguagem.
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UEPA 2011, UEPA 2011, UFPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Pode-se dizer que o efeito de humor do texto acima é construído, principalmente, a partir

CARTA DE RECLAMAÇÃO


São Paulo, 22 de março de 2007.

Prezados Senhores,

Esta é a oitava carta jurídica de cobrança que recebo de Vossas Senhorias ... Sei que não estou em dia com meus pagamentos. Acontece que eu estou devendo também em outras lojas e todas esperam que eu lhes pague. Contudo, meus rendimentos mensais não permitem que eu pague mais do que duas prestações no fim de cada mês. As outras ficam para o mês seguinte. Estou ciente de que não sou injusto, daquele tipo que prefere pagar esta ou aquela empresa em detrimento das demais. Ocorre o seguinte ... todo mês, quando recebo meu salário, escrevo o nome dos meus credores em pequenos pedaços de papel, que enrolo e coloco dentro de uma caixinha. Depois, olhando para o outro lado, retiro dois papéis, que são os dois “sortudos” que irão receber o meu rico dinheirinho. Os outros, paciência. Ficam para o mês seguinte. Afirmo aos senhores, com toda certeza, que sua empresa vem constando todos os meses na minha caixinha. Se não os paguei ainda, é porque os senhores estão com pouca sorte. Finalmente, faço-lhes uma advertência: se os senhores continuarem com essa mania de me enviar cartas de cobrança ameaçadoras e insolentes, como a última que recebi, serei obrigado a excluir o nome de Vossa Senhoria dos meus sorteios mensais.

Sem mais,

Obrigado.


(Texto adaptado; divulgado pelo Clube de Diretores Lojistas e publicado, em 2007, na Folha do Estado de São Paulo)  
A
da utilização de uma Carta de Reclamação que, por seu caráter público, apresenta um estilo bastante formal.
B
da necessidade de o remetente excluir o nome do destinatário de seus sorteios mensais.
C
de algumas expressões e vocábulos, tais como: “sei que não sou injusto”, “sortudo”, “meu rico dinheirinho”.
D
do inusitado teor da Carta de Reclamação, pois o assunto nela tratado causa estranheza e divertimento no leitor.
E
do fato de o remetente reclamar por ser a oitava carta de cobrança que recebe.
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UEPA 2011, UEPA 2011, UFPA 2011 - Português - Funções morfossintáticas da palavra QUE

Quanto ao texto, só não se pode afirmar:

CARTA DE RECLAMAÇÃO


São Paulo, 22 de março de 2007.

Prezados Senhores,

Esta é a oitava carta jurídica de cobrança que recebo de Vossas Senhorias ... Sei que não estou em dia com meus pagamentos. Acontece que eu estou devendo também em outras lojas e todas esperam que eu lhes pague. Contudo, meus rendimentos mensais não permitem que eu pague mais do que duas prestações no fim de cada mês. As outras ficam para o mês seguinte. Estou ciente de que não sou injusto, daquele tipo que prefere pagar esta ou aquela empresa em detrimento das demais. Ocorre o seguinte ... todo mês, quando recebo meu salário, escrevo o nome dos meus credores em pequenos pedaços de papel, que enrolo e coloco dentro de uma caixinha. Depois, olhando para o outro lado, retiro dois papéis, que são os dois “sortudos” que irão receber o meu rico dinheirinho. Os outros, paciência. Ficam para o mês seguinte. Afirmo aos senhores, com toda certeza, que sua empresa vem constando todos os meses na minha caixinha. Se não os paguei ainda, é porque os senhores estão com pouca sorte. Finalmente, faço-lhes uma advertência: se os senhores continuarem com essa mania de me enviar cartas de cobrança ameaçadoras e insolentes, como a última que recebi, serei obrigado a excluir o nome de Vossa Senhoria dos meus sorteios mensais.

Sem mais,

Obrigado.


(Texto adaptado; divulgado pelo Clube de Diretores Lojistas e publicado, em 2007, na Folha do Estado de São Paulo)  
A
A mescla de pessoas do discurso (segunda pessoa do plural e terceira pessoa do singular) não constitui erro, pois, nesse tipo de texto, ela se torna um padrão.
B
As reticências presentes em “Ocorre o seguinte ... todo mês,” podem ser substituídas, sem alteração de sentido, por dois-pontos (:).
C
O trecho “Os outros, paciência. Ficam para o mês seguinte.” pode ser reescrito, mantendo-se a sua ideia original, da seguinte maneira: “Os outros credores devem ter paciência, pois ficarão para o mês seguinte.” 
D
O texto é heterogêneo quanto ao seu modo de organização. Isto é, apresenta, além de outros, trechos do modo de organização narrativo.
E
Os conectores grifados em “Esta é a oitava carta jurídica de cobrança que recebo de Vossas Senhorias” e “Sei que não estou em dia com meus pagamentos.”, são, respectivamente, pronomes relativos anafóricos de a oitava carta jurídica de cobrança e de sei.
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UEPA 2011 - Português - Funções morfossintáticas da palavra QUE

A alternativa, em cujo vocábulo o que se equivale morfossintaticamente ao utilizado em "Acho que foi um professor de cursinho ...” (1º parágrafo), é:

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus.” (1º parágrafo).
B
“...existe alguém lá fora que nasceu para nós.” (2º parágrafo).
C
“É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós,...” (4º parágrafo).
D
“...Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções...” (6º parágrafo).
E
“Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência...” (16º parágrafo).
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UEPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao ler o texto, pode-se inferir que:

I. Nem sempre, segundo a opinião do autor, encontrar alguém que se acredita parceiro ideal resolve os problemas de toda vida.

II. Segundo o mito dos andróginos, na vida, só seremos felizes após encontrarmos nossa carametade.

III. Todos acreditamos na necessidade de se encontrar um parceiro.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas a afirmativa I está correta.
B
Apenas a afirmativa II está correta.
C
Apenas a afirmativa III está correta.
D
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
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UEPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre as informações contidas no 1º parágrafo do texto, pode-se afirmar:


I. Uma das causas da ira de Zeus veio em consequência da felicidade dos andróginos.

II. A expressão patriarca do Olimpo substitui o vocábulo Zeus.

III. Os andróginos eram criaturas perfeitas por serem parte homem e parte mulher.

IV. Os andróginos são retratados no texto em dois momentos distintos: um momento antes e um momento depois da ira de Zeus.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
B
Apenas a afirmativas I e III estão corretas.
C
Apenas as afirmativas II e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
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UEPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Com relação ao 11º parágrafo, pode-se inferir que:

I. A felicidade ou a infelicidade independem do ser humano estar só ou estar acompanhado.

II. No referido parágrafo, o autor defende a ideia de parceria como sinônimo de felicidade.

III. Muitos acreditam que é impossível ser feliz quando não se tem um parceiro.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas a afirmativa I está correta.
B
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
C
Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
D
Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
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UEPA 2011 - Português - Uso dos conectivos, Sintaxe

Após a vírgula, que conectores podem ser inseridos, sem alteração de sentido, no fragmento “... um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora...” (12º parágrafo) ?

I. Mesmo.
II. Embora.
III. Porque.
IV. Apesar de.
V. Porém.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
B
Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
C
Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
6fd680a6-d8
UEPA 2011 - Português - Sintaxe

Sobre o 8º parágrafo, não se pode afirmar que:

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
O vocábulo ele, no fragmento “... imutável de amar, diz ele.”, é complemento do verbo dizer.
B
O vocábulo ele, que aparece em “...mas essencialmente ele afirma...”, refere-se a Jurandir Freire Costa.
C
A expressão argumentos minuciosos não se refere aos elementos de cunho musical e de cunho religioso apresentados pelo escritor.
D
Entre as orações que compõem o fragmento “...mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social.”, existe uma relação de dependência.
E
O vocábulo eu é sujeito implícito de “... vou reproduzir...”.
e2abfe44-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em saCo de frasES, o narrador questiona-se quanto ao antigo modo de vida da cidade de Macapá e também quanto ao modo de ser de sua gente. De acordo com o trecho do texto que vem a seguir, e a obra a qual ele pertence, este narrador:

“Hoje, quando percorro pelo antigo local da lixeira, sempre espero que o vento deixe pousar na minha frente uma daquelas frases escritas para que eu possa queimá-la, e assim extirpar do universo mais um preconceito que eu não deveria ter dito na caminhada da vida” (saCo de frasES - Fernando Canto)

A
Alterna o relato de fatos importantes do passado com uma reflexão desses fatos no presente.
B
Constrói a narrativa a partir da personagem, uma freira, que marcou de forma significativa a sua infância.
C
Relata as histórias e as aspirações de pessoas de várias regiões do Brasil que imigraram para Macapá.
D
Volta-se para o drama social vivenciados pelos negros que foram morar no bairro do Laguinho.
E
Relembra o passado e descreve sua cidade natal a partir da construção da Fortaleza de São José.
e295ccb5-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Ortografia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em relação ao sentido do vocábulo mal-escrito (L.1), empregado no texto, é possível afirmar que:


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
O termo assinala uma atitude preconceituosa do autor, em relação à construção de textos eletrônicos utilizados por grande parte da população.
B
O mesmo caracteriza um desvio da norma culta, freqüentemente presente em e-mails.
C
O autor, ao utilizar o referido vocábulo, quis chamar a atenção do leitor para o uso de regionalismos e de termos obscenos que caracterizam, na maioria das vezes, os textos que circulam na internet.
D
A sua utilização caracteriza, freqüentemente, e-mails com conteúdos pouco interessantes e desrespeitosos, na opinião do autor.
E
O sentido do termo mal-escrito faz referência tanto aos aspectos morfossintáticos quanto aos aspectos semânticos na construção do texto.
e2a81590-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Os Estatutos do Homem, de Thiago de Melo aborda uma temática universal, tendo sido traduzido para vários países. Sobre o fragmento Artigo Final, que vem a seguir, marque a alternativa que melhor expressa a idealização da liberdade.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

A
A palavra liberdade seria suprimida dos dicionários e, conseqüentemente, também da vida dos homens.
B
A palavra será suprimida dos dicionários e de qualquer outro meio de propagação da mesma.
C
Não será mais necessário um termo para designar a palavra liberdade, posto que é algo intrínseco à natureza humana.
D
A palavra liberdade será suprimida dos dicionários, mas não do pântano enganoso das bocas e, nela viverá.
E
A palavra sairá dos dicionários, pois é algo inacessível aos homens.
e29bcfd7-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Com base no texto a seguir, responda à questão.


A instabilidade das cousas do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

(Gregório de Matos) 


Considere as afirmações sobre o poema:


I. O autor utiliza o Sol, a beleza e a alegria para ilustrar a efemeridade da vida;

II. O poeta afirma que a única coisa firme é o fato de nada ser constante;

III. O autor utiliza um paradoxo na última estrofe, o que não é próprio da estética Barroca;

IV. O acúmulo de antíteses e a estrutura interrogativa são recursos estilísticos utilizados pelo autor para sustentar sua argumentação.


Assinale a alternativa correta. 

A
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
B
Apenas as afirmativas II, III, IV estão corretas.
C
Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
E
Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
e28c2cbb-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Variação Linguística

I. Há predominância da linguagem no seu registro formal.

II. O autor mescla, de forma eqüitativa, o registro formal e o registro informal da linguagem.

III. Por ser um texto de cunho jornalístico, ele foi escrito, totalmente, levando em consideração o registro formal da linguagem.

IV. De maneira geral, o uso de termos em inglês (Information Mapping) e alguns termos do registro informal da língua, em nada comprometem o caráter prioritariamente formal do texto.

Assinale a alternativa correta.


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
B
Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
C
Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas I e IV estão corretas.
E
Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
e2921189-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Funções da Linguagem: emotiva, apelativa, referencial, metalinguística, fática e poética.

Para produzir o texto em questão, o autor apropriou-se, predominantemente, da função:


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
referencial.
B
expressiva.
C
conativa.
D
fática.
E
metalingüística.
e28f3ab0-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Que outro vocábulo, sem alteração de sentido, substitui, nesse contexto, a palavra delicadezas (L.15)?


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
Gentilezas.
B
Deferências.
C
Desrespeitos.
D
Assédios.
E
Sutilezas.
e27ec861-d9
UEPA 2009 - Português - Uso das aspas, Pontuação

Com base no texto, que alternativa melhor justifica o emprego das aspas em “delicadezas”(L.15) e “Cachorrão 17 cm”(L.16)?


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
As aspas servem para mostrar que as duas palavras em destaque são as mais importantes do texto, pois, partindo delas, o leitor constrói, nesse contexto, todo o significado do texto.
B
Na palavra delicadezas, as aspas foram utilizadas com o objetivo de expressar a ironia do autor. Já em Cachorrão 17 cm, foram utilizadas com o objetivo de mostrar que o termo não condiz, neste contexto, com o registro de linguagem utilizado pelo autor.
C
Em delicadezas as aspas foram utilizadas com o intuito de realçar o termo. Já em Cachorrão 17 cm, foram utilizadas para reiterar o sentido do termo.
D
Nos dois casos, as aspas foram utilizadas para destacar, no texto, a fala do autor.
E
Tanto no caso de delicadezas, quanto no caso de Cachorrão 17 cm, as aspas foram utilizadas para exemplificar a linguagem vulgar dos e-mails.
e2840177-d9
UEPA 2009 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Análise sintática, Coesão e coerência, Sintaxe, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Tomando por base o texto, analise as proposições abaixo e assinale a alternativa correta.


 Autor: S.I. Revista Língua Portuguesa (2005), nº 2, p.: 10. 

A
Os vocábulos Afinal (L.6) e Segundo (L.4), preservando suas similaridades semânticas e fazendo as devidas adaptações, podem ser substituídos, respectivamente, por Em conclusão e Quiçá.
B
No primeiro parágrafo do texto, a relação predominante entre as orações que o compõem é de equivalência.
C
O termo Afinal (L.6) estabelece relação de conclusão em relação à idéia anterior.
D
Acerca da construção do texto no trecho compreendido entre as linhas 6 e 9, pode-se afirmar que o uso de informações estatísticas evidencia o caráter estilístico, indicando o uso alegórico dessas expressões.
E
As expressões pouco eficiente (L.4) e por justa causa (L.11-12), neste contexto, referem-se, respectivamente, aos termos forma (L.3) e demissão (L.11), restringindo seus sentidos.