Questõessobre Flexão verbal de pessoa (1ª, 2ª, 3ª pessoa)
Atente para os segmentos do texto: Esta noite
está assim. (linha 09); Bonitão, casadão,
quarentão, espalhou esperanças até agora,
quando topou com o primeiro problema: a
luz. (linhas 39-41); Ali está há mais de hora
fixado no negrume da noite (linhas 106-107).
Considerando que a postura do narrador diante da
narrativa se reconhece pelas referências feitas no
texto, assinale (V) ou (F), conforme seja
verdadeiro ou falso o que se afirma a seguir.
( ) Os verbos “espalhar” e “topar”,
empregados na terceira pessoa do
singular, indicam que a narrativa é
feita em terceira pessoa, por um
narrador não personagem.
( ) O emprego do advérbio agora, um
elemento que indica a posição do
falante, sugere um narrador que se
imiscui nos fatos narrados.
( ) Os vocábulos esta e assim, na
medida em que são próprios do
discurso direto, parecem misturar a
fala do narrador com a fala da
personagem.
( ) O uso do advérbio ali indica o
distanciamento do narrador em
relação à cena enunciativa.
A sequência correta, de cima para baixo, é
TEXTO
CIDADE SEM LUZ
(Olavo Drummond. O vendedor de
estrelas. Contos.)
Imagine outra situação discursiva: o sujeito
falante não acha conveniente o interlocutor fazer
a experiência de que se fala no quarto parágrafo
(linhas 49-53): ''Faça uma experiência: pegue um
livro, uma foto, reveja um filme, encontre
alguém, qualquer desses serve, contanto se refira
especificamente a determinado tempo da sua
vida''.
Assinale a opção em que todas as formas verbais
de imperativo do enunciado estão corretamente
empregadas para atender ao propósito do sujeito
e conservam a mesma pessoa.
Não faça uma experiência: não pegas um livro, uma foto, não revês um filme, não encontras alguém, qualquer desses serve, contanto se refira especificamente a determinado tempo da sua vida.
A alternância entre o uso da primeira pessoa do singular em “Eu tenho resistido o quanto posso” e da
primeira pessoa do plural em “não podemos nos acoelhar” pelo locutor, no texto I, tem como efeito de
sentido:
Texto I
'Eu tenho resistido o quanto posso', diz Temer a parlamentares
Brasília, 18 - Ao agradecer o apoio que os parlamentares têm dado ao governo e apelar pela aprovação da reforma da Previdência, no café da manhã, no Palácio da Alvorada, o presidente Michel Temer disse que "o governo só resistiu porque nós estamos trabalhando juntos, o Executivo e o Legislativo". E desabafou: "Eu tenho resistido o quanto posso."
Em seguida, sem se referir diretamente às investigações da Operação Lava Jato, que atingiram todos os setores, Temer emendou: "não podemos nos acoelhar". Ele reconhece que existe uma "situação delicada", mas ressalvou: "(Situação) delicada, deixemos para o Judiciário e, no mais, o Executivo e o Legislativo trabalham". (...)
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2017/04/18/interna_politica,863090/
eu-tenho-resistido-o-quanto-posso-diz-temer-a-parlamentares.shtml.
Acesso em 18 de abril de 2017. Adaptado.
Assinale a alternativa em que uma forma verbal foi
utilizada de modo INCORRETO.
Texto 3
Os versos a seguir são da letra da música Vatapá, de Dorival Caymmi:
Quem quiser vatapá, ôQue procure fazerPrimeiro o fubáDepois o dendêProcure uma nêga baiana, ôQue saiba mexerQue saiba mexerQue saiba mexer
Bota castanha de cajuUm bocadinho maisPimenta malaguetaUm bocadinho maisAmendoim, camarão, rala um cocoNa hora de machucarSal com gengibre e cebola, iaiáNa hora de temperar
Não pare de mexer, ôQue é pra não embolarPanela no fogoNão deixe queimarCom qualquer dez mil réis e uma nêga ôSe faz um vatapáSe faz um vatapáQue bom vatapáDorival Caymmi (com adaptações)
Com relação ao emprego do
imperativo nos versos, marque a opção correta.
Assinale a alternativa incorreta em relação à obra Olhos d’água, Conceição Evaristo, e ao
Texto 3.
Analise as proposições em relação à obra As fantasias eletivas, Carlos Henrique Schroeder, e ao Texto 1.
I. A obra é narrada em terceira pessoa; tem-se um narrador onisciente, um tempo sem sequência linear, ou
seja, predominando o psicológico, e um ambiente com flashes serrano e bucólico que remete ao Arcadismo.
II. Quanto à parte gráfica, a obra apresenta contos que não completam a página, reforçando o projeto gráfico
em estilo Polaroide, reiterando as fotos de Copi.
III. A narrativa apresenta um desfecho caricato, Renê, que se mostrava preconceituoso em relação à
sexualidade de Copi, acaba se apaixonando por ela, e juntos voltam para a Argentina.
IV. Na oração “Foi o mastigar do tempo” (linha 7), quanto à formação de palavras, na expressão destacada
ocorre derivação imprópria, o mesmo ocorre com a palavra Seca em “e o Seca, saco, saca, secô continuou
por alguns instantes” (linhas 1 e 2).
V. Na oração “Naquela época, havia vinte anos ou mais” (linha 5) o verbo haver é impessoal, logo, seguindo
o padrão culto da língua escrita, o verbo deve permanecer na terceira pessoa do singular.
Assinale a alternativa correta.
A análise de fragmento retirado do texto de Gregório de Matos está correta em
I. Há um vocativo e um aposto nos versos: “Senhora Dona Bahia / nobre e opulenta cidade / madrasta dos naturais, / e dos
estrangeiros madre” (v. 1-4).
II. No verso ”e dos estrangeiros madre” (v. 4), há uma inversão no sintagma nominal.
III. Em “dizei-me por vida vossa” (v. 5), verifica-se um tratamento em 2ª pessoa do singular.
IV. “vêm” (v. 7) é uma forma do verbo ver, na 3ª pessoa do plural.
V. O termo “ditame” (v. 6) significa comportamento diferenciado, consagrado pelo costume.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
A análise de fragmento retirado do texto de Gregório de Matos está correta em
I. Há um vocativo e um aposto nos versos: “Senhora Dona Bahia / nobre e opulenta cidade / madrasta dos naturais, / e dos estrangeiros madre” (v. 1-4).
II. No verso ”e dos estrangeiros madre” (v. 4), há uma inversão no sintagma nominal.
III. Em “dizei-me por vida vossa” (v. 5), verifica-se um tratamento em 2ª pessoa do singular.
IV. “vêm” (v. 7) é uma forma do verbo ver, na 3ª pessoa do plural.
V. O termo “ditame” (v. 6) significa comportamento diferenciado, consagrado pelo costume.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas estão corretas é a
TEXTO:
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
5 dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm
e abater os que aqui nascem?
MATOS, Gregório de. Descreve como os estrangeiros arruínam a Bahia. In: MENDES, Cleise Furtado. Senhora Dona Bahia. Salvador, EDUFBA, 1996. p. 88.
Analise as proposições em relação à obra Lucíola, José de Alencar, e ao Texto 4.
I. Da estrutura “onde vou viver a minha nova existência” (linha 4), infere-se a decisão de
Lúcia deixar no passado a vida de cortesã e iniciar uma nova vida com simplicidade e
recato.
II. As palavras desejar e carecer em “ Desejo...careço de entrar apoiada” (linhas 3 e 4)
apresentam a mesma regência, pois ambas exigem como complemento as funções
sintáticas objeto indireto e complemento nominal, sequencialmente.
III. Em “Venha-me buscar” (linha 3) e “chama-me Maria” (linha 13) não há uniformidade de
tratamento, quanto ao emprego do modo imperativo, uma vez que na primeira oração
empregou-se a 3ª pessoa singular, e na segunda oração ocorreu o emprego da 2ª pessoa
singular.
IV. O uso do sinal gráfico da crase é facultativo em “dava à sua beleza” (linha 7), assim como
em “Partimos a pé” (linha 8)
V. No romance Lucíola, o personagem-narrador, Paulo, deixa fluir o seu “eu”, quando expõe
seus sentimentos em relação ao que sentiu, viu e idealizou junto à mulher amada,
evidenciando-se o subjetivismo – característica da Estética Romântica.
Assinale a alternativa correta.
INSTRUÇÃO: Para responder a questão, ler os textos que seguem.
TEXTO A
“No aeroporto, canso de esperar. Um cidadão grisalho explica a um funcionário que as suas duas malas contêm
vestidos para senhora. Trinta vestidos. Ante o espanto do outro, ele declara a meia voz: ‘Eu também acho muito, mas
vá convencer a minha mulher do contrário...’ Uma inglesa de dois metros de altura trata de liberar dois cãezinhos foxterrier. Seus sapatos de bico fino estão encarregados de comprimir dois formosos pés quarenta e quatro. Por fim,
subo a escada de bordo, procuro a poltrona nº 12, ajeito a bagagem de mão, ato o cinto, reclino um pouco mais a
poltrona.
As pessoas que ficaram no aeroporto viram o avião correr na pista de cimento, decolar, subir mais e mais e desaparecer nos céus claros daquela bela manhã carioca.”
TEXTO B
“Quando o avião aterrissou, sacudindo com guizos os metais e os vidros de bordo, Plínio vinha dormitando. Camilo
de um lado e Joan do outro amparavam o seu corpo para que se mantivesse em posição vertical. Avisada, a companhia mandara para junto da escada uma cadeira de rodas e destacara alguns dos seus homens para conduzirem o
doente escada abaixo. (...) foram os primeiros a saírem da sala de espera das bagagens: entregaram os talões das
malas para dois carregadores, foram para a frente do aeroporto onde um vento de primavera aliviava o calor que
haviam sentido a bordo.”
Nos fragmentos acima, retirados, respectivamente, das obras As muralhas de Jericó e Camilo Mortágua, de Josué
Guimarães, o narrador refere-se às condições de viagem, usando pontos de vista diferenciados. O primeiro fragmento diz respeito à partida do viajante e é narrado em _________ pessoa; o segundo, ao momento de chegada e é
narrado em _________ pessoa. Em ambas as narrativas, o narrador apela para as sensações das personagens,
fazendo referência às condições _________ para expressá-las melhor.
primeira terceira climáticas
terceira primeira alfandegárias
primeira terceira aeronáuticas
primeira terceira financeiras
terceira primeira meteorológicas
No Texto II, são exemplos do uso coloquial,
informal, da língua portuguesa as seguintes passagens:
“Desde o começo, sempre foi um assunto em que a gente
estava de acordo.” (linhas 2-3)
“Aí eles engolem aquele plástico que pode asfixiar os
coitados de uma hora para outra.” (linhas 18-19)
Assinale a alternativa que descreve corretamente o uso
de traços de oralidade nas frases destacadas.
Determinadas categorias gramaticais podem produzir diferentes efeitos de sentido nos
contextos em que estão inseridas, como é o caso dos verbos. Alguns deles, em tempos
simples ou integrando uma locução verbal, podem denotar ideias ou “matizes” denominados
aspectos. Examine as alternativas e indique em qual delas o aspecto verbal está
INCORRETAMENTE analisado:
Texto I
Feliz por nada
Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.
Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo? Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. “Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bemintencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
MEDEIROS, Martha. Felicidade crônica. 15.ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p. 86-87.
Em “A vida são uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa” (v.1), a forma verbal não se manteria na terceira pessoa do plural se o termo à esquerda do verbo fosse um substantivo, no singular, referente a seres humanos.
Mario Quintana
Com base no poema acima, de Mario Quintana, julgue os itens
O período abaixo, redigido na primeira pessoa, será alterado para a segunda do singular. Analise as proposições I, II e III, segundo as normas da língua padrão escrita.
“Um dia fui ao mato conversar sozinha com as árvores e abaixei-me para fazer xixi.” (linhas 1 e 2, Texto 2)
I. Um dia fosse ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixastes para fazer xixi.
II. Um dia foste ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixaste para fazer xixi.
III. Um dia fostes ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixasse para fazer xixi.
É correto afirmar que:
“Um dia fui ao mato conversar sozinha com as árvores e abaixei-me para fazer xixi.” (linhas 1 e 2, Texto 2)
I. Um dia fosse ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixastes para fazer xixi.
II. Um dia foste ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixaste para fazer xixi.
III. Um dia fostes ao mato conversar sozinha com as árvores e te abaixasse para fazer xixi.
É correto afirmar que:
No segundo parágrafo, observa-se a alternância no emprego da primeira pessoa do plural com
a do singular.
O emprego da primeira pessoa do singular estabelece o efeito de:
No segundo parágrafo, observa-se a alternância no emprego da primeira pessoa do plural com a do singular.
O emprego da primeira pessoa do singular estabelece o efeito de:
As duas estrofes a seguir iniciam o poema Y-Juca-Pyrama de Gonçalves Dias, publicado em 1851.
No meio das tabas de amenos verdores
Cercadas de troncos – cobertos de flores,
Alteião-se os tectos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos animos fortes,
Temiveis na guerra, que em densas cohortes
Assombrão das matas a imensa extensão
São rudes, severos, sedentos de gloria,
Já prelios incitão, já cantão victoria,
Já meigos attendem a voz do cantor:
São todos tymbiras, guerreiros valentes!
Seu nome la vôa na bocca das gentes,
Condão de prodigios, de gloria e terror!
Últimos Cantos, Gonçalves Dias
Nesse trecho, o poeta apresenta a tribo dos timbiras. Constatamos, sem dificuldades, que a ortografia da época era,
em muitos aspectos, diferente da que usamos atualmente. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas:
1. As palavras paroxítonas terminadas em ditongo não eram acentuadas naquela época, diferentemente de hoje.
2. As formas verbais se alternam entre presente e futuro do presente do indicativo, com a mesma terminação.
3. A 3ª pessoa do plural dos verbos do presente do indicativo se diferencia graficamente da forma atual.
4. Os monossílabos tônicos perderam o acento na ortografia contemporânea.
Assinale a alternativa correta.
Assinale a alternativa em que a forma de tratamento se enquadra
na segunda pessoa do singular.
No 8° parágrafo do texto, não há uniformidade de tratamento, pois primeiramente está
empregado o pronome de 2ª pessoa do singular e, ao final, o verbo está conjugado na 3ª pessoa do singular.
Em qual das frases abaixo, ocorre esse mesmo problema?
No 8° parágrafo do texto, não há uniformidade de tratamento, pois primeiramente está empregado o pronome de 2ª pessoa do singular e, ao final, o verbo está conjugado na 3ª pessoa do singular.
Em qual das frases abaixo, ocorre esse mesmo problema?
Leia o texto, para responder à questão.
Contra a mera “tolerância” das diferenças
Renan Quintanilha
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegemônica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrado e buscado nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
Marcuse1 identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância enquanto uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.
Assim, quando alguém te disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.
Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover, como ensinou Axel Honneth2.
Diversidade é um valor em si mesmo e não depende da concordância dos que ocupam posições de privilégios. Direitos e liberdades não se “toleram”. Devem ser respeitados e promovidos, por serem conquistas jurídicas e políticas antecedidas de muitas lutas.
O que não se pode tolerar é o discurso aparentemente “benevolente” e “generoso” – mas na verdade bem perverso – da “tolerância das diferenças”. Ninguém precisa da licença de ninguém pra existir.
Disponível em:<http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/contra-a-mera-tolerancia-das-diferencas/>