Questõesde UNICAMP sobre Literatura

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Foram encontradas 10 questões
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UNICAMP 2021 - Literatura - Simbolismo, Vanguardas Europeias, Modernismo, Realismo, Escolas Literárias

Tradicionalmente, o palco pode apresentar uma variedade de estilos cênicos, entre os quais se destacam o estilo realista (põe em evidência detalhes ambientais para sugerir sensações e emoções vividas pelas personagens), o estilo expressionista (os objetos são distorcidos ou estilizados, com o fim de sugerir, mais que mostrar, o ambiente de atuação das personagens), o estilo simbolista (os objetos concretos sugerem ideias abstratas, segundo associações sinestéticas tradicionais: o verde, vestido pelos mágicos, indica a esperança; o vermelho, a cor do demônio, sugere uma paixão violenta; a veste branca simboliza a candura, a castidade).
(Adaptado de Salvatore D´Onofrio, Teoria do texto 2: Teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 1995, p. 138.)

Sem identidade, hierarquias no chão, estilos misturados, a pós-modernidade é isto e aquilo, num presente aberto pelo e.
(Jair Ferreira dos Santos, O que é o pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 110.)

Com base nas indicações cênicas (as didascálias) que abrem e fecham a peça O marinheiro, de Fernando Pessoa, é correto afirmar que o seu estilo é

A
expressionista, dadas a ausência de ações dramáticas e a presença de sugestões alegóricas como, por exemplo, o canto do galo.
B
simbolista, uma vez que os elementos que compõem a cena dramática sugerem alguns significados de natureza filosófica.
C
realista, porque as imagens da noite, do luar e do alvorecer indicam precisamente a passagem do tempo.
D
pós-modernista, tendo em vista que os objetos descritos criam uma atmosfera mágica, na qual a ilusão não se distingue da realidade.
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UNICAMP 2018 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Em 1961, o poeta António Gedeão publica o livro Máquina de Fogo. Um dos poemas é “Lágrima de Preta”. Musicado por José Niza, foi gravado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970, e incluído no seu álbum “Cantaremos”. A canção foi censurada pelo governo português.

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é
costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão, Máquina de fogo. Coimbra: Tipografia da Atlântida,1961, p. 187.)

Os versos anteriores articulam as linguagens literária e científica com questões de ordem ética e política. Considerando o contexto de produção e recepção de “Lágrima de Preta” (anos 1960 e 1970, em Portugal), o propósito artístico desse poema é

A
inadequado quanto à análise social, ao refutar que haja racismo e preconceito na sociedade, e incorreto no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
B
inadequado quanto à análise social, ao refutar a existência de racismo e preconceito na sociedade, mas correto no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
C
pertinente quanto à análise social, ao registrar o racismo e a preconceito na sociedade, e correto no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
D
pertinente quanto à análise social, ao registrar o preconceito e o racismo na sociedade, mas incorreto no aspecto científico, ao descrever as propriedades químicas de uma lágrima.
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UNICAMP 2018 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

“DOROTÉA
O senhor perdeu a cabeça?
DULCINÉA
Fazer de um cangaceiro um delegado!
DOROTÉA
Quando a oposição souber!
DULCINÉA
Que prato pra Neco Pedreira!
ODORICO
E tomara que Neco se sirva bem dele. Tomara que chame Zeca Diabo de cangaceiro, assassino, quanto mais xingar, melhor.
DOROTÉA
O senhor não acha que se excedeu?
ODORICO
Em política, dona Dorotéa, os finalmentes justificam os não obstantes.”

(Dias Gomes, O bem-amado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. p. 69-70.)

As personagens femininas do excerto anterior discordam da nomeação de Zeca Diabo feita por Odorico. Assinale a alternativa que indica a razão dessa discordância e a natureza da crítica às práticas políticas brasileiras presente na peça teatral de Dias Gomes.

A
Segundo as personagens, Zeca Diabo não possui os atributos necessários para o cargo. Critica-se uma sociedade que desconsidera a meritocracia.
B
As práticas políticas são desconhecidas pelas personagens. A ingenuidade do cidadão e a astúcia necessária dos políticos são criticadas na fala delas e de Odorico.
C
Dulcinéa e Dorotéa não simpatizam com Zeca Diabo, o que indica que a peça faz uma crítica às relações sociais presididas por afetos e interesses privados.
D
Dulcinéa e Dorotéa não admitem que alguém fora da lei possa cuidar da ordem da cidade. Criticam-se os atos de um poder executivo que se orienta por um projeto pessoal de poder.
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UNICAMP 2018 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

“Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.”

(Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p. 39.)

Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão “piedade de leão” reúne valores opostos, remetendo simultaneamente à compaixão e à ferocidade. É correto afirmar que, no conto “Amor”, essa formulação

A
revela um embate de natureza social, já que a pobreza do cego causa náuseas na personagem.
B
expressa o dilema cristão da alma pecadora diante de sua incapacidade de fazer o bem.
C
indica um conflito psicológico, uma vez que a personagem não se sente capaz de amar.
D
alude a um contraste moral e existencial que provoca na personagem um sentimento de angústia.
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UNICAMP 2016 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que todas as características mencionadas podem ser adequadamente atribuídas ao romance em questão.

A
Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais.
B
Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas sociais.
C
Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais.
D
Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do narrador-personagem, tematização de conflitos sociais.
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UNICAMP 2014 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Para a questão, considere os versos abaixo dos poemas “Sentimento do mundo” e “Noturno à janela do apartamento”, de Carlos Drummond de Andrade, ambos publicados no livro Sentimento do mundo.

esse amanhecer
mais noite que a noite.

(Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.)

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.

Nenhum pensamento de infância,
nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula.
Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula.

Suicídio, riqueza, ciência...
A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.

Triste farol da Ilha Rasa.
(Idem, p. 71.)

A visão de mundo do eu lírico em Drummond é marcada pela ironia e pela dúvida constante, cujo saldo final é negativo e melancólico (“Triste farol da Ilha Rasa”). Tal perspectiva assemelha-se à do

A
personagem Leonardo, do romance Memórias de um sargento de milícias.
B
personagem Carlos, da obra Viagens na minha terra.
C
narrador do romance O cortiço.
D
narrador do romance Memórias póstumas de Brás Cubas.
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UNICAMP 2014 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Sobre A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é correto afirmar:

A
A descrição do espaço parisiense no romance retrata exclusivamente o submundo de uma metrópole do final do século XIX e revela as contradições do processo de urbanização.
B
O romance, cuja primeira edição é de 1901, faz uma apologia da vida urbana e do desenvolvimento técnico que marcaram o final do século XIX nas grandes cidades europeias.
C
No romance, Zé Fernandes é uma personagem secundária que ganha importância no desenvolvimento da narrativa, ao apresentar a “seu Príncipe”, Jacinto, a luxuosa Paris.
D
No romance, é das rendas provenientes de propriedades agrícolas em Portugal que provém o sustento da cara e refinada vida de Jacinto em Paris.
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UNICAMP 2014 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Para a questão, considere o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de Graciliano Ramos.

O pequeno sentou-se, acomodou-se nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.
                                                                              (Graciliano Ramos. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 57.)

No romance Vidas secas, a alteridade é construída ficcionalmente. Isso porque o narrador

A
impõe seu ponto de vista sobre a miséria social das personagens, desconsiderando a luta dessas personagens por uma vida mais digna.
B
permite conhecer o ponto de vista de cada uma das personagens e manifesta um juízo crítico sobre o drama da miséria social e econômica.
C
relativiza o universo social das personagens, uma vez que elas estão privadas da capacidade de comunicação.
D
analisa os dilemas de todas as personagens e propõe, ao final da narrativa, uma solução para o drama da miséria social e econômica.
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UNICAMP 2014 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Para a questão, considere o fragmento abaixo, extraído de Vidas secas, de Graciliano Ramos.

O pequeno sentou-se, acomodou-se nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.

                                                                              (Graciliano Ramos. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 57.)

Uma definição possível de alteridade é “a capacidade de se colocar no lugar do outro”. No excerto, o menino mais velho, após ter recebido um cocorote de sinhá Vitória, ao lhe ter feito uma pergunta sobre a palavra “inferno”, conta uma história para Baleia. Da leitura desse trecho, podemos concluir que

A
o narrador tem êxito na construção da alteridade, ao se colocar no lugar do menino e de Baleia e permitir a relação entre essas duas personagens.
B
o vocabulário minguado do menino mais velho o impede de se relacionar com Baleia, o que demonstra que, sem linguagem, não há alteridade entre o homem e o mundo.
C
o vocabulário minguado é próprio da infância e não resulta das condições sociais e materiais adversas das personagens.
D
a resposta de Baleia reduz o menino mais velho à condição de bicho, privando-o dos atributos necessários para se tornar homem.
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UNICAMP 2014 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Leia o seguinte excerto de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis:

Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
                                                       (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.120.)

Na passagem citada, a substituição da máxima pascalina de que o homem é um caniço pensante pelo enunciado “o homem é uma errata pensante” significa

A
a realização da contabilidade dos erros acumulados na vida porque, em última instância, não há “edição definitiva”.
B
a tomada de consciência do caráter provisório da existência humana, levando à celebração de cada instante vivido.
C
a tomada de consciência do caráter provisório da existência humana e a percepção de que esta é passível de correção.
D
a ausência de sentido em “cada estação da vida”, já que a morte espera o homem em sua “edição definitiva”.