Questõesde CÁSPER LÍBERO

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b509d2c2-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Uma das marcas distintivas das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é:

A
a pretensão didática ou pedagógica do narrador em relação ao leitor.
B
a retomada da tradição do romance edificante.
C
o exercício de uma forma literária fechada sobre si mesma.
D
o atendimento ao gosto literário anacrônico do leitor
E
a fricção constante entre narrador e leitor.
b505ea6e-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é correto afirmar que o romance:

A
constituí uma obra convencional que ainda acredita no casamento como possibilidade de aplanamento das diferenças individuais e sociais.
B
estabelece um diálogo crítico com as convenções do realismo e do naturalismo, frequentemente parodiados e ridicularizados.
C
aproxima-se das convenções da prosa romântica, sentimental e exótica que deliciavam os leitores de então.
D
termina com a celebração da ídeia de que somente as grandes ilusões da vida é que valem a pena.
E
reafirma a crença nas grandes conquistas e nos valores do século XIX.
b501fee4-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em "Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrío" o sentido da expressão em negrito está relacionado à área da:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
Linguística.
B
Ciência Jurídica.
C
Sociologia.
D
Filosofia.
E
Cibernética.
b4fde62e-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Análise sintática, Sintaxe

Em "Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social", a expressão em negrito tem valor de:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
a consequência.
B
tempo.
C
finalidade.
D
causa.
E
concessão.
b4f79882-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

O título do texto - "Radicais livres" - estabelece com a mesma expressão empregada pela química uma relação semântica de:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
Metonímia.
B
Antítese.
C
Ironia.
D
Personificação.
E
Paradoxo.
b4f3b400-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Crase

Assinale a opção em que o emprego da crase está correto, tal como ocorre em acaba de lançar o chamado às armas":

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
Fui à Copacabana.
B
Falou à uma certa pessoa.
C
Ficou à ver navios.
D
Dirigiu-se à casa paterna.
E
Caminhou à toda pressa.
b4f0864b-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Análise sintática, Sintaxe, Pontuação, Uso da Vírgula

Em "O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro", a vírgula separa:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
os termos coordenados.
B
as orações coordenadas aditivas.
C
a oração de valor explicativo.
D
o aposto.
E
as orações com sujeitos diferentes.
b4ec42c6-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Assinale a opção que apresenta correta mente um sinônimo para as respectivas paiavras grifadas em negrito no excerto a seguir: "O cenário retratado pelos digerati é quase devastador,
A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital"

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
apelido-graça
B
origem - ironia
C
etimologia - descuido
D
sentido - imaginação
E
denominação - esforço
b4e8c229-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Entre os principais problemas causados pelo ciberespaço, de acordo com o texto, encontra-se:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
a grande circulação de notícias falsas.
B
a adoção de uma identidade múltipla.
C
a publicidade paga.
D
a espionagem pessoal.
E
a censura às opiniões.
b4e4c91d-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Segundo Sherry Turkle, a razão de seguirmos ativos no Facebook diz respeito ao fato de a rede social:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
dar vazão à nossa egotrip.
B
permitir que veiculemos uma imagem idealizada de nós mesmos.
C
refrear o processo de alienação que vimos atravessando.
D
ser alvo de uma atitude de repúdio cada vez mais crescente.
E
garantir nossa identidade no ambiente virtual
b4e13dfa-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com o texto, o antídoto contra a ameaça representada pelo ciberespaço seria:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
a desconexão em massa.
B
o livre-arbítrio.
C
a conscientização.
D
o descarte das amizades online.
E
a liberdade individual
b4dc8eed-e6
CÁSPER LÍBERO 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Pode-se afirmar que a idéia central do texto é a de que:

Radicais Livres


Precursores da Internet se transformam em militantes anti-digital

    Quando a internet comercial ainda engatinhava, um grupo de pensadores - cientistas, filósofos, sociólogos, profissionais liberais - se dedicou a imaginar e construir o ciberespaço, a então nova fronteira da humanidade. Ele tomaria forma com a hiperconectividade dos indivíduos em rede, que poderiam, se quisessem, adotar múltiplas identidades naquele ambiente artificial. Só que hoje, pouco mais de 30 anos depois, os protagonistas desse círculo estão fazendo um apelo desesperado para que a sociedade se desconecte, sob pena de extinguir o que nos resta de humano.

    O cenário retratado pelos digerati é quase devastador. A alcunha vem de literati, "homens letrados" em latim, termo adaptado, com uma certa verve, para a era digital. E a narrativa comum é a virada da internet ao avesso: de um imenso território de liberdade e experimentação criativa, ela teria se transformado num loteamento de espaços fechados, simbolizados pela onipresença das redes sociais. Um espaço em que usuários têm dados espionados, ações monitoradas e vontades manipuladas. Mais: esses agrupamentos que se vendem como locais de convivência abertos e gratuitos, portanto próximos do que imaginaram originalmente os digerati, hoje cobram caro. Quase todos os frequentadores são obrigados a ver o que é anunciado ali.

    Cientista, compositor e escritor, Jaron Lanier, de 58 anos, foi o criador do conceito de realidade virtual. Fundador da primeira empresa a comercializar essa solução em escala industrial, o novaiorquino é um dos principais articuladores desse movimento. Lanier tem levado seus dreadlocks longuíssimos aos quatro cantos do mundo em uma campanha de alerta contra o que chama de "os impérios de modificação de comportamento", como classificou em sua palestra no TED Talks, em maio. Ele não tem Twitter, Red d it ou Facebook e acaba de lançar o chamado às armas "Ten arguments for deleting your social media accounts right now" ("Dez argumentos para deletar agora sua conta nas redes sociais", em tradução livre).


O mecanismo dos likes

     Lanier alega que nas redes sociais o cidadão perde seu livre-arbítrio e se submete ao mecanismo viciante dos likes: "Eles alimentam esses sentimentos, e você fica preso num loop", diz. A discussão é tão procedente que o criador da World Wide Web, o físico inglês Tim Berners-Lee, 63, afirmou, na edição deste mês da revista Vanity Fair, que está "devastado" com os rumos de sua invenção. Ele decidiu desenvolver um antídoto: trabalha no momento em uma plataforma para redescentralizar a internet, para devolver aos usuários o poder e a autonomia sobre os dados que desejam acessar. "Quem quer assegurar que a internet sirva de fato à humanidade está hoje preocupado com o que vê no mundo digital" - diz.

    Especialista em estudos de ciência e tecnologia, Sherry Turkle, 70, vai além. E recomenda o desligamento de celulares e redes sociais. Professora do Massachusetts Institute of Technology, ela acompanhou a mudança de comportamento dos usuários online e estudou desde as múltiplas personas que habitavam os mundos artificiais até a egotrip e a alienação que comprometem o convívio na sociedade real. Turkle é autora do primeiro livro sobre a formação da identidade no ambiente virtual, ''Life on the screen" ("Vida na tela" em tradução livre, de 1995). Em abril, ela publicou um artigo analisando como o crescente repúdio ao Facebook não nos impedirá de seguir ativos na rede social. O motivo? "Ele nos permite ter uma versão melhor de nós mesmos".

    Cientista da computação, escritor e ativista do Software Livre, o americano Richard Stallman, 65, discorda da proposta de desconexão total. Com uma forte ressalva. O uso que ele faz é bem peculiar. Stallman não tem celular, não entra em redes sociais e aboliu aplicativos e programas que utilizam software proprietário. Argumenta que eles são desenhados pelas corporações justamente para manipular e controlar dados dos usuários. "As empresas que desenvolvem esses programas têm controle total sobre o que as pessoas fazem. Se quiserem, elas podem espionar usuários, restringilos ou manipulá-los. Estamos indefesos, impotentes perante a vontade das corporações" - afirma.

    Todas as mensagens que Stallman envia de seu correio eletrônico chegam com uma declaração de defesa da Constituição dos EUA, num recado a "eventuais agentes federais americanos que estejam lendo". Ele fez a reportagem assumir por escrito que leria 13 artigos sobre software livre e se negou a conversar por Skype ou WhatsApp.

    O cientista conta ainda que disse "não, obrigado" ao aprender que todo smartphone, sem exceção, permite às redes telefônicas seguir seus movimentos. E que, segundo ele, quase todo aparelho pode ser convertido num dispositivo de escuta. "Não foi difícil dizer não, já que a alternativa era entregar minha liberdade" - argumenta.

    Procurados por O Globo, Facebook e Twitter não se pronunciaram. O Google informou em nota que anunciou em maio novos recursos com o objetivo de ajudar os usuários a recorrer à tecnologia "de forma mais criteriosa, para desconectar quando necessário e criar hábitos saudáveis em suas famílias".

    Sérgio Branco, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, voltado para a promoção de práticas de regulação na área, concorda que as pessoas ainda não se conscientizaram do perigo, especialmente, porque, ele diz, "vive-se a ilusão de que tudo é gratuito". "Jamais será um ato puramente inocente fornecer dados em troca de conteúdo, porque não temos controle sobre o que as empresas farão com eles" - alerta o advogado.

    Como exemplo, ele cita um caso revelado pelo documentário As vítimas do Facebook, lançado pelos diretores canadenses Geoff D'Eon e Jay Dahl em 2011. Uma mulher diagnosticada com depressão severa recebeu como indicação médica sair de férias. Levou a mãe a um cruzeiro no Caribe e postou fotos no Facebook. Seu plano de saúde, que monitorava os dados, viu a foto e cancelou o serviço. A alegação? Quem está em depressão profunda não viaja para o Caribe de férias e muito menos celebra a alegria no universo digital. 


Redes sociais: outras formas de compartilhar

    Se o ciberespaço hoje aparenta ser um lugar ameaçador, a solução para voltarmos a habitar um local seguro e livre pode ser resumida em uma única palavra: conscientização. Stallman, em seu libelo em favor das liberdades individuais, duvida que as empresas desistam de seus lucros para racionalizar o que estão fazendo. Ele aponta uma saída simples e objetiva: "Depende de nós. Precisamos nos recusar a usar programas e plataformas abusivas. A maneira de acabar com o poder das empresas sobre os usuários é insistir em que eles usem software livre. Assim, eles próprios controlariam os programas e poderíam alterá-los. Quando seus amigos disserem que não querem mais usar Facebook, WhatsApp, Skype ou qualquer outro sistema de comunicação viciante, por favor, faça um esforço e coopere. Não descarte a amizade, encontre outras formas de dividir com eles informações sobre eventos sociais" - diz Stallman.

    Já Jaron Lanier sugere "voltar o relógio" e reinventar a participação nas redes sociais. Não mais aceitar um ambiente de oferta de conteúdo aparentemente gratuito, mas ajudar a financiar espaços de concentração de conhecimento, em que especialistas de fato possam emitir suas opiniões. "Essa mudança eliminaria as notícias falsas e, no caso de aconselhamento médico, por exemplo, pagar-seia por pareceres de um verdadeiro profissional. Sonho com isso, e acho sim que a transformação é possível" - defende ele.

    Tristan Harris, 33, ex-designer de Ética do Google, para onde trabalhou até 2016, se tornou uma espécie de mascote para o time dos radicais livres, ao fundar o Centro de Tecnologia Humana. Ele aposta em quatro soluções: as empresas precisam redesenhar suas interfaces para minimizar nosso tempo de tela; os governos têm de pressionar as empresas de tecnologia para adotarem modelos de negócios humanitários; consumidores se defrontam com a tarefa de assumir o controle de suas vidas digitais através de uma conscientização; e os funcionários das empresas de tecnologia devem se capacitar para construir soluções que melhorem a sociedade.

    E como isso se dará no Brasil, que vive a realidade de uma cultura digital especialmente disseminada? Segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país conta com uma base instalada de 235,5 milhões de aparelhos celulares (densidade de 112,6 aparelhos para cada 100 habitantes) e 116 milhões de usuários de Internet.


Contatos perdidos

    Para a professora da UFRJ e teórica da comunicação Raquel Paiva, a conscientização só podería ocorrer se (ou quando) o usuário brasileiro perceber que está se relacionando mais com máquinas do que com pessoas. "Somos um povo gregário, que necessita de vinculação, precisa do olhar do outro para se ver. O que temo é que as pessoas demorem muito a perceber que não cuidaram do seu entorno, que perderam a sociabilidade e deterioraram o seu convívio e sua capacidade de comunicação" - diz.

    Ao descobrir que as informações pessoais dos usuários do Facebook eram vazadas para terceiros, Paiva fechou, de bate-pronto, a conta que tinha na rede social. "Acabei sendo eu a punida, pois perdi o acesso à maioria dos serviços que utilizava no cotidiano, como a compra de produtos orgânicos e roupas alternativas. Também me vi privada do contato com alguns colegas acadêmicos, uma vez que eles passaram a "existir" apenas no âmbito do Facebook" - conta a professora.

    O documentarista canadense Geoff D'Eon, diretor de As vítimas do Facebook, diz simpatizar com a crítica dura dos digerati, mas faz ponderação pertinente: "A desconexão em massa, na prática, não vai acontecer. E não iremos resolver problemas sérios, como a explosão de notícias falsas, cyber-bullying, revenge porn, perda de privacidade e vazamento indiscriminado de informação, apenas com a elite intelectual se retirando das redes sociais. O restante da população seguirá, e as corporações vão continuar ganhando dinheiro. É muito tarde para um caminho de volta. Talvez a saída seja pensar melhor no que postar, ser mais consciente e cauteloso em relação ao que e com quem dividimos nossa vida online".

Rosane Serro, O Globo, 7/7/2018.

A
a invasão de privacidade e a disseminação de notícias falsas no mundo da realidade digital estão com seus dias contados.
B
os digerati mudaram radicalmente de postura em três décadas em virtude de não ser possível que todos vivam em um planeta hiperconectado.
C
não há estudos que comprovem ainda a relação do comportamento digital com o mundo real.
D
o criador da World Wide Web se diz arrependido de não ter investido nas redes sociais antes.
E
pensadores que viam o mundo virtual como a nova fronteira da humanidade agora pregam a desconexão em massa e a volta ao analógico. 
fa38de92-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Matemática - Aritmética e Problemas, Regra de Três

Em junho deste ano, os britânicos aprovaram em um referendo a proposta de sair da União Europeia (Brexit). O Reino Unido faz parte da União Europeia, mas não aderiu à União Econômica e Monetária (UEM), por essa razão, jamais adotou o euro e manteve a libra esterlina como sua moeda oficial. Supondo que 1 euro seja equivalente a 0,90 libras e que 1 libra possa valer 4,10 reais, com o montante de R$ 41,00 compramos:

A
9 libras.
B
10 euros.
C
10 libras.
D
9 euros.
E
4,6 libras.
fa3540c8-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Matemática - Aritmética e Problemas, Porcentagem

Segundo reportagem publicada no site UOL, o número de visualizações de vídeos de David Bowie no Youtube aumentou 1800% no domingo 10 de janeiro, após a divulgação da notícia de sua morte. No dia 11 de janeiro, os vídeos de Bowie também foram os mais assistidos e os vídeos de Justin Bieber ficaram em segundo lugar com 25% menos views que os do cantor britânico.

Fonte: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2016/01/14/visualizacoes-de-videos-de-david- -bowie-aumentam-1800-apos-a-sua-morte.htm Acesso 28-10-2016



Nas alternativas abaixo, assinale aquela que apresenta um número seguido de outro número 25% menor

A
1800 e 1775
B
1800 e 1350
C
1800 e 1440
D
1800 e 450
E
1800 e 900
fa2961e2-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Matemática - Análise de Tabelas e Gráficos

Durante o ano de 2015 o dólar sofreu a maior alta dos últimos 13 anos.



Observando o gráfico acima, pode-se concluir que, em termos percentuais, a variação de janeiro a fevereiro foi inferior à de:

A
abril a maio.
B
outubro a novembro.
C
novembro a dezembro.
D
fevereiro a março.
E
maio a junho.
fa2c6573-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Matemática - Aritmética e Problemas, Pontos e Retas, Geometria Analítica, Médias

Dentre os grandes astros que vieram competir nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o jamaicano Usain Bolt foi o segundo atleta mais comentado nas redes sociais, perdendo apenas para o nosso craque Neymar, segundo site da BBC. Dono de 1,95m de altura, o velocista é o mais alto ganhador dos 100m rasos. Segundo http://esporte.band.uol.com.br/ “Em geral, os atletas de velocidade são mais baixos, o que os ajuda na largada. No entanto, apesar de Bolt não ser um especialista na saída, ele tira vantagem de sua altura em outros aspectos:

• Número de passos: em geral, Bolt precisa de 41 passos para completar os 100m, enquanto a média de um atleta de alto nível é 45.
• Alta velocidade: a altura de Bolt permite que ele se mantenha em alta velocidade por mais tempo e que desacelere mais devagar que seus adversários.”
http://www.bbc.com/portuguese/brasil/2016/04/160427_rio_100dias_graficos_cc


Dentre os dados fornecidos pelo texto acima, podemos dizer que que o comprimento da passada de Bolt:


A
4,0 cm menor que o comprimento da passada de seus adversários.
B
41 cm menor que o comprimento da passada de seus adversários.
C
41 cm maior que o comprimento da passada de seus adversários.
D
21,7 cm menor que o comprimento da passada de seus adversários.
E
21,7 cm maior que o comprimento da passada de seus adversários.
fa30a90d-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Matemática - Análise de Tabelas e Gráficos

No sábado 11 de janeiro de 2014, foi postada em um blog da internet a fotografia da tela da TV com o gráfico apresentado no programa Conta Corrente da Globonews. Dois dias depois o programa publicou uma nota e se comprometeu a retificar no ar a informação.Analisando-se os dados da imagem, podemos concluir que o gráfico:



A
apresenta uma evidente irrealidade sobre a inflação: 5,91% é maior que 6,5%.
B
aponta corretamente a inflação nos anos de 2009 a 2013, sendo a de 2013 a maior do período.
C
indica corretamente a inflação nos anos de 2009 a 2013, sendo a de 2013 a menor do período.
D
apresenta uma evidente irrealidade sobre a inflação: 5,84% é maior que 6,5%.
E
apresenta uma evidente irrealidade sobre a inflação: 5,84% é maior que 5,91%.
fa1f0104-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Inglês - Interpretação de texto | Reading comprehension

Building a global grassroots movement was:

Read the following interview to answer question.


ISSIE LAPOWSKY SCIENCE 05.24.16 6:50 AM


10 YEARS AFTER AN INCONVENIENT TRUTH,

AL GORE MAY ACTUALLY BE WINNING



    AL GORE SNEEZES a hefty achoo. “Excuse me,” the former vice president says, dabbing a tissue at his nose before offering up an explanation. “Spring.”

    Outside Gore’s New York City office, spring has certainly sprung—early too. This March was the hottest one ever, beating the prior record set in March 2015. The same goes for February and January of this year, and, oh, the eight consecutive months before. Gore knows these statistics by heart. The fact that you might know them too is likely because of him. These kinds of numbers— and the scary story they tell about the future of Earth—have been Gore’s chief motivation since he failed to win the presidency in 2000. Gore emerged from that weird, disputed election armed with what is now possibly the most famous slide¬show in human history. He has traveled the world delivering that deck to hundreds of people at a time, showing in irrefutable detail just how mind-bogglingly badly we have treated our planet and what we might be able to do about it.

    Ten years ago, the slide¬show became An Inconvenient Truth, the documentary that spread those ideas to millions. Gore says he still tinkers with the slide¬show every day, because, well, the numbers keep changing. Not always for the better. Yet this year Gore and his fellow activists have a rare reason to celebrate. In April, 175 world leaders gathered at the United Nations to sign the Paris Agreement, a global pact that aims to keep global temperatures from rising more than 2 degrees Celsius above preindustrial levels. Now, a decade after his movie sounded the alarm about climate change and 16 years after he ran for president, it looks like Al Gore might finally be … winning?


    WIRED: Why did you want to make An Inconvenient Truth?

    GORE: I have to admit to you that initially I did not want to do a documentary.


    What? Why not?

   It’s a dumb reason. I didn’t think a slide¬show could translate into a movie. (…) Participant Media and Davis Guggenheim had to convince me it was a good idea, and I’m so glad they found ways to reveal to me the depths of my ignorance about moviemaking. It’s a message that has to be heard. Sorry to risk sounding grandiose, but the future of human civilization is at stake.


    The Paris Agreement must feel like a big point of progress.

    It really does. Sometimes in sports you can sense a palpable shift in the momentum of the contest. A team will be behind on the scoreboard, but the shift in momentum is so obvious and dramatic that you just have the feeling they’re going to win. That’s where we are in solving the climate crisis. We’re still behind on the scoreboard, but the momentum has shifted. We are winning.

    When renewable electricity becomes cheaper than electricity that comes from burning coal or gas, then that changes everything. The marketplace makes it the default option, and you get what you saw in the world in 2015—90 percent of the new electricity generated in the world last year was from renewables. That is an astonishing change. The Paris Agreement exceeded the upper range of my expectations. Does it go far enough? No, of course not. Can it be improved? Yes, it’s designed to be constantly improved, and that’s what I’m focused on now.


    You’ve been at this a long time. Was it lonely fighting for this stuff in government in the 1980s and 1990s?

    It was certainly a different time and a different environment. But I don’t ever remember feeling lonely, because I was always focused on reaching more and more people. Building a global grassroots movement is really the only way to solve this, because so many political systems have been captured by legacy industries. And that influence over policymaking has to be counterbalanced by a grassroots awareness.


    It’s sometimes tough for people to get climate change because they’re not seeing its effects every day—or at least they don’t realize they are. What have you seen that has stuck with you?

    In March, I went to Tacloban in the Philippines and talked with survivors there who endured the ravages of Super Typhoon Haiyan. When you see how their lives were utterly transformed and feel the painful losses they suffered, it certainly will stick with you. I conducted a training in Miami last fall during one of the highest high tides and saw fish from the ocean swimming in the streets in Miami Beach and Fort Lauderdale on a sunny day.


    You talk a lot about “winning” the fight against climate change. How do you define a win?

   Winning means avoiding catastrophic consequences that could utterly disrupt the future of human civilization. It means bending the curves downward so that the global warming pollution stops accumulating in the atmosphere and begins to reduce in volume. It means creating tens of millions of new jobs to retrofit buildings, to transform energy systems and install advanced batteries, to transform agriculture and forestry, and to make the solutions to the climate crisis the central organizing principle of our civilization.

Source: https://www.wired.com/2016/05/wired-al-gore-climate-change/ Access October 16, 2016. Adapted.

A
Al Gore’s solution to concealing a message from a larger number of listeners in several parts of the world to counterbalance the influence over policymaking done by the legacy industries back then.
B
the only way to solve his fighting in the government because so many political systems had been captured by legacy industries and that influence over policy making had to be counterbalanced by a grassroots awareness.
C
made to solve the problems of policymaking being a lack of awareness of legacy industries related to the government, which were influencing over policy making and had to be counterbalanced by grassroots awareness.
D
Al Gore’s way to struggle against the lack of understanding of legacy industries, to counterbalance the policymaking by grassroots awareness and to keep him from feeling lonely in the 1980s and 1990s.
E
the only solution, or seemed to be, because so many political systems had been captured by legacy industries, their policymaking in the government in the 1980s and 1990s and the essentiality of their awareness.
fa22252f-e7
CÁSPER LÍBERO 2016 - Inglês - Interpretação de texto | Reading comprehension

It is correct to say that Mr. Garner describes Mr. Drummond as:

First read the review below and then answer question.


REVIEW: ‘MULTITUDINOUS HEART,’ NEWLY TRANSLATED POETRY BY CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Books of The Times

By Dwight Garner JULY 2, 2015




    Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) is widely considered the greatest poet in the history of Brazil, a country where poets are taken seriously. One of his poems, “Canção Amiga” (“Friendly Song”), was once printed on the 50 cruzados bill.

    Mr. Drummond’s bald, equine, bespectacled visage appears on T-shirts and book bags in Brazil. Since 2002 there has been a statue of him on the Copacabana in Rio de Janeiro, his adopted hometown. This statue faces away from, not toward, the ocean. This was a witty decision (he was an inward poet) that annoys the unintelligentsia, who want him spun around.

    Now we have “Multitudinous Heart,” an expanded, reshuffled and welcome selection of Mr. Drummond’s verse. In new translations by Richard Zenith, we meet a sophisticated and cerebral poet who, true to this book’s title, speaks in many registers. He is by turns melancholy and ironic, sentimental and self-deprecating, remote and boyish.

    His wealthy father owned ranches in the mountainous state of Minas Gerais, and the poet was the fifth of six children to reach adulthood. He was used to hubbub. Large family meals are recalled, and there is a constant sense of a raucous daily grind: “Weddings, mortgages,/the cousins with TB,/ the crazy aunt.”

    Yet the poems more often contain a measured sense of solitude. Mr. Drummond studied to become a pharmacist but worked most of his life as a civil servant in the Ministry of Education.

    He was said to be anything but gregarious; he was never a “smiling public man,” in Yeats’s locution. He was animated on the inside. One of his favorite words was “twisted.” He thought we humans were mostly impertinent and odd.

    He felt wizened before his time. In a 1945 poem, he speaks of “the old man in me./He began to harass me in childhood.” In a 1951 poem, “The Table,” he writes:


A bunch of louts in our fifties,

balding, used up, burned out,

yet in our chests we preserve

intact that boyish candor,

that scampering into the woods,

that craving for things forbidden.


    Mr. Drummond is worth encountering on the page. You probably need this volume and the earlier one, alas, to glimpse him in full. In a satirical 1945 poem titled “In Search of Poetry,” he offered this advice for the apprentice poet:


    Don’t dramatize, don’t invoke,

don’t inquire. Don’t waste time lying.

Don’t get cross.

Your ivory yacht, your diamond shoe,

your mazurkas and superstitions, your family skeletons

all vanish in the curve of time, they’re worthless.


    Ha. The good news about “Multitudinous Heart” is that it proves Mr. Drummond didn’t believe a word of that hooey.


Source: http://www.nytimes.com/2015/07/03/books/review-multitudinous-heart-newly-translated- -poetry-by-carlos-drummond-de-andrade.html Access October 15, 2016. Adapted.

A
a poet taken seriously, widely considered the best reviewed of Brazil.
B
a man who was used to peace in habitual activities and quiet meals.
C
a sociable person, who came from a wealthy, big and noisy family.
D
someone who felt bloomed before his time, much older than others.
E
a writer who displeases a lot the unintelligentsia by being so inbound.
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CÁSPER LÍBERO 2016 - Inglês - Interpretação de texto | Reading comprehension

‘I did not want to make a documentary’, said Al Gore, referring to:

Read the following interview to answer question.


ISSIE LAPOWSKY SCIENCE 05.24.16 6:50 AM


10 YEARS AFTER AN INCONVENIENT TRUTH,

AL GORE MAY ACTUALLY BE WINNING



    AL GORE SNEEZES a hefty achoo. “Excuse me,” the former vice president says, dabbing a tissue at his nose before offering up an explanation. “Spring.”

    Outside Gore’s New York City office, spring has certainly sprung—early too. This March was the hottest one ever, beating the prior record set in March 2015. The same goes for February and January of this year, and, oh, the eight consecutive months before. Gore knows these statistics by heart. The fact that you might know them too is likely because of him. These kinds of numbers— and the scary story they tell about the future of Earth—have been Gore’s chief motivation since he failed to win the presidency in 2000. Gore emerged from that weird, disputed election armed with what is now possibly the most famous slide¬show in human history. He has traveled the world delivering that deck to hundreds of people at a time, showing in irrefutable detail just how mind-bogglingly badly we have treated our planet and what we might be able to do about it.

    Ten years ago, the slide¬show became An Inconvenient Truth, the documentary that spread those ideas to millions. Gore says he still tinkers with the slide¬show every day, because, well, the numbers keep changing. Not always for the better. Yet this year Gore and his fellow activists have a rare reason to celebrate. In April, 175 world leaders gathered at the United Nations to sign the Paris Agreement, a global pact that aims to keep global temperatures from rising more than 2 degrees Celsius above preindustrial levels. Now, a decade after his movie sounded the alarm about climate change and 16 years after he ran for president, it looks like Al Gore might finally be … winning?


    WIRED: Why did you want to make An Inconvenient Truth?

    GORE: I have to admit to you that initially I did not want to do a documentary.


    What? Why not?

   It’s a dumb reason. I didn’t think a slide¬show could translate into a movie. (…) Participant Media and Davis Guggenheim had to convince me it was a good idea, and I’m so glad they found ways to reveal to me the depths of my ignorance about moviemaking. It’s a message that has to be heard. Sorry to risk sounding grandiose, but the future of human civilization is at stake.


    The Paris Agreement must feel like a big point of progress.

    It really does. Sometimes in sports you can sense a palpable shift in the momentum of the contest. A team will be behind on the scoreboard, but the shift in momentum is so obvious and dramatic that you just have the feeling they’re going to win. That’s where we are in solving the climate crisis. We’re still behind on the scoreboard, but the momentum has shifted. We are winning.

    When renewable electricity becomes cheaper than electricity that comes from burning coal or gas, then that changes everything. The marketplace makes it the default option, and you get what you saw in the world in 2015—90 percent of the new electricity generated in the world last year was from renewables. That is an astonishing change. The Paris Agreement exceeded the upper range of my expectations. Does it go far enough? No, of course not. Can it be improved? Yes, it’s designed to be constantly improved, and that’s what I’m focused on now.


    You’ve been at this a long time. Was it lonely fighting for this stuff in government in the 1980s and 1990s?

    It was certainly a different time and a different environment. But I don’t ever remember feeling lonely, because I was always focused on reaching more and more people. Building a global grassroots movement is really the only way to solve this, because so many political systems have been captured by legacy industries. And that influence over policymaking has to be counterbalanced by a grassroots awareness.


    It’s sometimes tough for people to get climate change because they’re not seeing its effects every day—or at least they don’t realize they are. What have you seen that has stuck with you?

    In March, I went to Tacloban in the Philippines and talked with survivors there who endured the ravages of Super Typhoon Haiyan. When you see how their lives were utterly transformed and feel the painful losses they suffered, it certainly will stick with you. I conducted a training in Miami last fall during one of the highest high tides and saw fish from the ocean swimming in the streets in Miami Beach and Fort Lauderdale on a sunny day.


    You talk a lot about “winning” the fight against climate change. How do you define a win?

   Winning means avoiding catastrophic consequences that could utterly disrupt the future of human civilization. It means bending the curves downward so that the global warming pollution stops accumulating in the atmosphere and begins to reduce in volume. It means creating tens of millions of new jobs to retrofit buildings, to transform energy systems and install advanced batteries, to transform agriculture and forestry, and to make the solutions to the climate crisis the central organizing principle of our civilization.

Source: https://www.wired.com/2016/05/wired-al-gore-climate-change/ Access October 16, 2016. Adapted.

A
his difficulty to settle for a good translator to reveal his work thoroughly and into moviemaking.
B
the future of mankind be so at stake that he had to dawdle his message through a movie.
C
Davis Guggenheim and Participant Media, who convinced him of the depths of his message.
D
his ignorance about moviemaking and the possibility to translate his slideshow into a movie.
E
the risk of sounding grandiose be worth due to the value of his report on the future of human race.