Questão ffabb6fd-0a
Prova:UNESP 2018
Disciplina:Sociologia
Assunto:Estratificação e desigualdade social, Formas de estratificação social

Texto 1

Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. […] Nenhum [ofício] me parece mais útil e cabido que o de medalhão. […] Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. […] No entanto, podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas ideias próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. […] Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.


(Machado de Assis. Teoria do medalhão.
www.dominiopublico.gov.br.)


Texto 2

De fato, existem medalhões em todos os domínios da vida social brasileira: na favela e no Congresso; na arte e na política; na universidade e no futebol; entre policiais e ladrões. São as pessoas que podem ser chamadas de “homens”, “cobras”, “figuras”, “personagens” etc. […] Medalhões são frequentemente figuras nacionais. […] Ser o filho do Presidente, do Delegado, do Diretor conta como cartão de visitas.


(Roberto da Matta. Carnavais, malandros e heróis, 1983.)


Tanto no texto do escritor Machado de Assis como no do antropólogo Roberto da Matta, a figura do medalhão

A
corresponde a um fenômeno cultural recente e desvinculado do clientelismo.
B
tem sua existência fundamentada em ideais liberais e democráticos de cidadania.
C
consiste em um tipo social exclusivamente pertencente às elites burguesas.
D
apresenta sucesso social fundamentado na competência acadêmica e intelectual.
E
ilustra o caráter fortemente hierarquizado e personalista da sociedade brasileira.

Gabarito comentado

Athos VieiraHistoriador, Mestre em Ciência Política pelo IESP/UERJ e Doutorando em Ciência Política pelo IESP/UERJ
O medalhão é um personagem que utiliza de suas conexões sociais para angariar vantagens para si ou para seus interessados. Pressupõe um desprezo pelas regras da isonomia e imparcialidade. Utiliza-se de recursos do Estado, quando disponíveis, para fins pessoais e lança mão, sempre que possível, de relações familiares para levar adiante seus interesses. Esse é um fenômeno antigo na sociedade brasileira, portanto, não pode ser a letra A; os ideais liberais e democráticos de cidadania pressupõe impessoalidade e isonomia, portanto, não poder ser também a letra B; como exposto por Da Matta, medalhões se espalham por toda sociedade, portanto, não pode ser a letra C; e por último, a pessoalidade e as relações familiares se sobrepõem às competências acadêmicas e intelectuais, por isso, não pode ser a letra D.
O texto de Machado de Assis, como é habitual do autor, faz ironia com as possibilidades de realização profissional de uma determinada pessoa. Diz o autor que para ela há infinitas carreiras, mas a que mais se assemelha às suas habilidades é a de medalhão, carreira para a qual possui a perfeita "inópia" [pobreza, escassez] mental.
Já Da Matta analisa como as relações no Brasil são cortadas, de cima a baixo, do Congresso à favela, pelo personalismo das relações. "Ser o filho do Presidente, do Delegado, do Diretor conta como cartão de visita" porque é através dessas credenciais que se pode acionar benesses e punições, por isso a relação com essa pessoa tem valor, é hierarquizada e personalista.

Resposta: letra E.

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