— Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai
ver. Compro um barato.
— Barato? Admito que você compre uma lembrancinha
barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco-caso
de mim.
— Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não
sabe que barato é o melhor que tem, é um barato!
— Deixe eu escolher, deixe...
— Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado
que a senhora me deu no Natal!
— Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe
lhe deu um blazer furado?
— Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já
era, mãe, já era!
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
O modo como o filho qualifica os presentes é incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais
revelam diferenças entre os interlocutores, que estão
relacionadas
— Não, mãe. Perde a graça. Este ano, a senhora vai ver. Compro um barato.
— Barato? Admito que você compre uma lembrancinha barata, mas não diga isso a sua mãe. É fazer pouco-caso de mim.
— Ih, mãe, a senhora está por fora mil anos. Não sabe que barato é o melhor que tem, é um barato!
— Deixe eu escolher, deixe...
— Mãe é ruim de escolha. Olha aquele blazer furado que a senhora me deu no Natal!
— Seu porcaria, tem coragem de dizer que sua mãe lhe deu um blazer furado?
— Viu? Não sabe nem o que é furado? Aquela cor já era, mãe, já era!
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
O modo como o filho qualifica os presentes é incompreendido pela mãe, e essas escolhas lexicais
revelam diferenças entre os interlocutores, que estão
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