TEXTO I
Voluntário
Rosa tecia redes, e os produtos de sua pequena
indústria gozavam de boa fama nos arredores. A reputação
da tapuia crescera com a feitura de uma maqueira de
tucum ornamentada com a coroa brasileira, obra de
ingênuo gosto, que lhe valera a admiração de toda a
comarca e provocara a inveja da célebre Ana Raimunda,
de Óbidos, a qual chegara a formar uma fortunazinha com
aquela especialidade, quando a indústria norte-americana
reduzira à inatividade os teares rotineiros do Amazonas.
SOUSA, I. Contos amazônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
TEXTO II
Relato de um certo oriente
Emilie, ao contrário de meu pai, de Dorner e dos
nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas.
Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu
mundo visível. O outro latejava na sua memória. Imantada
por uma voz melodiosa, quase encantada, Emilie
maravilha-se com a descrição da trepadeira que espanta
a inveja, das folhas malhadas de um tajá que reproduz
a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que veem em certas ervas da floresta o enigma das doenças mais temíveis, com as infusões de coloração
sanguínea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do
corpo humano. "E existem ervas que não curam nada ", revelava a lavadeira, “mas assanham a mente da gente.
Basta tomar um gole do líquido fervendo para que o
cristão sonhe uma única noite muitas vidas diferentes". Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para
outras pessoas, mas não para Emilie.
HATOUM, M. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
As representações da Amazônia na literatura brasileira
mantêm relação com o papel atribuído à região na
construção do imaginário nacional. Pertencentes a
contextos históricos distintos, os fragmentos diferenciam-se
ao propor uma representação da realidade amazônica em
que se evidenciam
TEXTO I
Voluntário
Rosa tecia redes, e os produtos de sua pequena indústria gozavam de boa fama nos arredores. A reputação da tapuia crescera com a feitura de uma maqueira de tucum ornamentada com a coroa brasileira, obra de ingênuo gosto, que lhe valera a admiração de toda a comarca e provocara a inveja da célebre Ana Raimunda, de Óbidos, a qual chegara a formar uma fortunazinha com aquela especialidade, quando a indústria norte-americana reduzira à inatividade os teares rotineiros do Amazonas.
SOUSA, I. Contos amazônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
TEXTO II
Relato de um certo oriente
Emilie, ao contrário de meu pai, de Dorner e dos nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu mundo visível. O outro latejava na sua memória. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantada, Emilie maravilha-se com a descrição da trepadeira que espanta a inveja, das folhas malhadas de um tajá que reproduz a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que veem em certas ervas da floresta o enigma das doenças mais temíveis, com as infusões de coloração sanguínea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. "E existem ervas que não curam nada ", revelava a lavadeira, “mas assanham a mente da gente. Basta tomar um gole do líquido fervendo para que o cristão sonhe uma única noite muitas vidas diferentes". Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, mas não para Emilie.
HATOUM, M. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
As representações da Amazônia na literatura brasileira
mantêm relação com o papel atribuído à região na
construção do imaginário nacional. Pertencentes a
contextos históricos distintos, os fragmentos diferenciam-se
ao propor uma representação da realidade amazônica em
que se evidenciam