Leia o texto a seguir.
[...] Ao lidar com a voz passiva sintética (também chamada de pronominal, por causa do se, que é um pronome apassivador), nosso maior problema é reconhecer o sujeito da frase. Em estruturas do tipo aceitam-se
cheques ou compram-se garrafas, o elemento que vem posposto ao verbo é considerado o sujeito (o paciente
da ação). Ocorre, no entanto, que a passiva sintética não é sentida como voz passiva pela maioria dos falantes, os quais, vendo em cheques e garrafas um simples objeto direto, deixam de concordar o verbo com eles.
Nasce aqui o que um antigo gramático chamava de “erro da tabuleta”: *aceita-se cheques, *compra-se garrafas, *vende-se terrenos, *aluga-se barcos.
Para quem tem uma formação mínima em sintaxe, não é tão difícil reconhecê-la: verbos transitivos diretos
seguidos de se (não reflexivo) constituem casos inequívocos dessa estrutura. Se ainda assim persistirem
dúvidas, lembre que a frase na passiva sintética tem forma equivalente na passiva analítica.
Aceitam-se cheques. = Cheques são aceitos.
Compram-se garrafas. = Garrafas são compradas.
Se o verbo for transitivo indireto, é evidente que não pode haver passiva — tanto a sintética quanto a analítica.
A construção com verbo transitivo indireto + se é uma das formas do sujeito indeterminado no Português,
ficando o verbo sempre na 3.ª pessoa do singular.
Precisa-se de serventes.
Falava-se dos últimos acontecimentos.
Disponível em: <http://sualingua.com.br/2010/07/09/concordancia-com-a-passiva-sintetica/>. Acesso em: 27 jan. 2016.
Com base na leitura desse trecho e nos seus conhecimentos prévios sobre a estrutura gramatical da nossa
língua, assinale a alternativa que traz um período escrito em conformidade com o que a norma culta prescreve.
Gabarito comentado
Comentário da questão – Concordância verbal e emprego do “se”
O tema central desta questão é concordância verbal na voz passiva sintética e o emprego correto do “se” como partícula apassivadora ou índice de indeterminação do sujeito.
A norma culta exige que, na voz passiva sintética, o verbo concorde em número com o sujeito paciente posposto. Isso significa que o verbo vai ao plural se o sujeito (após o verbo) estiver no plural.
Alternativa correta:
E) Desenvolveram-se novas teorias sobre o acidente.
O verbo “desenvolveram” concorda corretamente com o sujeito “novas teorias”, que está no plural. O “se” age como partícula apassivadora.
Equivalente à voz passiva analítica: “Novas teorias foram desenvolvidas sobre o acidente.”
Análise das alternativas incorretas:
A) Tratam-se de problemas cujas soluções são desconhecidas.
Erro: O verbo “tratar” é transitivo indireto (tratar de algo). Nesses casos, o “se” indica indeterminação e o verbo deve ficar sempre no singular: Trata-se de problemas.
B) Não se discutiu os problemas mais importantes na reunião.
Erro: “Discutir” é transitivo direto, então o “se” atua como partícula apassivadora e o verbo deve concordar com “os problemas” (plural): Não se discutiram os problemas...
C) Neste bar, assistem-se aos jogos do Campeonato Brasileiro.
Erro: “Assistir”, no sentido de “ver”, é verbo transitivo indireto: “assistir a algo”. O “se” indica indeterminação do sujeito e o verbo deve permanecer no singular: Assiste-se aos jogos...
D) Por pressa, tomou-se decisões que não foram previamente discutidas.
Erro: “Tomar” é verbo transitivo direto. Aqui, o verbo deveria concordar com “decisões” (plural): Tomaram-se decisões...
Resumo da regra:
Verbo transitivo direto + se = verbo deve concordar com o sujeito paciente posposto (plural ou singular).
Verbo transitivo indireto + se = índice de indeterminação de sujeito; verbo sempre no singular.
Segundo Bechara e Cunha & Cintra, essas são exigências fundamentais para evitar o chamado “erro da tabuleta”.
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