Questão eba1693a-dc
Prova:FAMEMA 2017
Disciplina:Português
Assunto:Morfologia - Verbos, Flexão verbal de tempo (presente, pretérito, futuro)

“Era a mesma voz que quatro meses antes se dirigira aos japoneses, pela primeira vez em 5 mil anos de história do país, para anunciar que havia chegado o momento de ‘suportar o insuportável’” (1o parágrafo)

O verbo destacado foi utilizado no pretérito mais-que-perfeito a fim de indicar

Leia o trecho inicial do livro Corações sujos, de Fernando Morais, para responder à questão.


        A voz rouca e arrastada parecia vir de outro mundo. Eram pontualmente nove horas da manhã do dia 1º de janeiro de 1946 quando ela soou nos alto-falantes dos rádios de todo o Japão. A pronúncia das primeiras sílabas foi suficiente para que 100 milhões de pessoas identificassem quem falava. Era a mesma voz que quatro meses antes se dirigira aos japoneses, pela primeira vez em 5 mil anos de história do país, para anunciar que havia chegado o momento de “suportar o insuportável”: a rendição do Japão às forças aliadas na Segunda Guerra Mundial. Mas agora o dono da voz, Sua Majestade o imperador Hiroíto, tinha revelações ainda mais espantosas a fazer a seus súditos. Embora ele falasse em keigo − uma forma arcaica do idioma, reservada aos Filhos dos Céus e repleta de expressões chinesas que nem todos compreendiam bem −, todos entenderam o que Hiroíto dizia: ao contrário do que os japoneses acreditavam desde tempos imemoriais, ele não era uma divindade. O imperador leu uma declaração de poucas linhas, escrita de próprio punho. Aquela era mais uma imposição dos vencedores da guerra. Entre as exigências feitas pelos Aliados para que ele permanecesse no trono, estava a “Declaração da Condição Humana”. Ou seja, a renúncia pública à divindade, que naquele momento Hiroíto cumpria resignado:

       “Os laços que nos unem a vós, nossos súditos, não são o resultado da mitologia ou de lendas. Não se baseiam jamais no falso conceito de que o imperador é deus ou qualquer outra divindade viva.”

      Petrificados, milhões de japoneses tomaram consciência da verdade que ninguém jamais imaginara ouvir: diferentemente do que lhes fora ensinado nas escolas e nos templos xintoístas, Hiroíto reconhecia que era filho de dois seres humanos, o imperador Taisho e a imperatriz Sadako, e não um descendente de Amaterasu Omikami, a deusa do Sol. Foi como se tivessem jogado sal na ferida que a rendição, ocorrida em agosto do ano anterior, havia aberto na alma dos japoneses. O temido Exército Imperial do Japão, que em inacreditáveis 2600 anos de guerras jamais sofrera uma única derrota, tinha sido aniquilado pelos Aliados. O novo xogum, o chefe supremo de todos os japoneses, agora era um gaijin, um estrangeiro, o general americano Douglas MacArthur, a quem eram obrigados a se referir, respeitosamente, como Maca-san, o “senhor Mac”. Como se não bastasse tamanho padecimento, o Japão descobria que o imperador Hiroíto era apenas um mortal, como qualquer um dos demais 100 milhões de cidadãos japoneses.


(Corações sujos, 2000.)

A
um fato no passado, anterior a outro fato, também no passado.
B
uma dúvida do enunciador sobre a veracidade do fato no passado.
C
um fato que ocorreu reiteradamente, no passado.
D
uma ação cujos efeitos se estendem do passado ao presente.
E
uma verdade universalmente aceita, no passado.

Gabarito comentado

S
Samanta de AbreuTime de mentores Qconcursos

Tema central: A questão aborda o uso do pretérito mais-que-perfeito do indicativo (verbo “haver” – “havia chegado” no texto) e seu valor semântico-temporal em relação às ações narradas no passado.

Regra normativa: De acordo com gramáticas como Bechara e Cunha & Cintra, o pretérito mais-que-perfeito indica uma ação anterior a outra também passada. Ou seja, é o tempo verbal que situa um fato num passado “mais remoto” em relação a outro evento também no passado (“Ele já havia chegado quando o ônibus partiu”).

Justificativa da alternativa correta:

A alternativa A (“um fato no passado, anterior a outro fato também no passado”) está correta. No texto, o verbo “havia chegado” mostra que o momento de ‘suportar o insuportável’ já ocorrera antes da voz se dirigir aos japoneses. Assim, há duas ações passadas: primeiramente, o momento “havia chegado”; depois, a voz se dirigiu ao povo japonês.

Análise das alternativas incorretas:

  • BNão expressa dúvida, pois o mais-que-perfeito indica certeza de anterioridade.
  • CValores de habitualidade ou repetição estão ligados ao pretérito imperfeito (“Ele estudava sempre”).
  • DAções que continuam até o presente pedem o pretérito perfeito composto (“Tenho estudado”). O mais-que-perfeito não traz essa ideia.
  • EVerdades universais costumam ser expressas no presente do indicativo (“A água ferve a 100 °C”) e não se atrelam ao valor de anterioridade.

Sugestão de leitura: ao resolver questões assim, busque identificar a “linha do tempo” dos fatos narrados. O mais-que-perfeito serve como um “marco inicial” para os demais acontecimentos, pois sempre olha para trás, mesmo dentro do passado.

Resumo: Pretérito mais-que-perfeito = fato ocorrido antes de outro no passado. A alternativa A é a correta!

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