Analise as afirmativas abaixo.
I - Encontramos, nesse fragmento, uma vertente satírica da poética de Álvares de Azevedo, em que o eu lírico
critica os exageros do sentimentalismo romântico.
II - O poema em questão não pode ser enquadrado dentro da estética romântica, devido à abordagem irônica ao
sentimentalismo daquela escola literária.
III - Apesar do aspecto sarcástico do poema, há a representação de um amor não realizado, platônico,
característica recorrente na obra de Álvares de Azevedo.
Estão CORRETAS as afirmativas:
II - O poema em questão não pode ser enquadrado dentro da estética romântica, devido à abordagem irônica ao sentimentalismo daquela escola literária.
III - Apesar do aspecto sarcástico do poema, há a representação de um amor não realizado, platônico, característica recorrente na obra de Álvares de Azevedo.
INSTRUÇÃO: Leia o fragmento abaixo de Álvares de Azevedo, considerado o mais importante poeta da chamada geração ultrarromântica brasileira, para responder à questão 11.
NAMORO A CAVALO Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...
[...]
O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode...
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...Fonte: AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. p. 120. Disponível em: . Acesso em: 11 nov. 2019.
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...
[...]
O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Meu chapéu que sofrera no pagode...
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
Gabarito comentado
Gabarito: B) I e III, apenas.
Tema central: A questão aborda a maneira como o ultrarromantismo brasileiro e, em especial, a poética de Álvares de Azevedo, manifestam recursos de sátira, ironia e crítica ao próprio sentimentalismo romântico, sem deixar de lado seus traços centrais.
Justificativa da alternativa correta:
O ultrarromantismo é conhecido pela exaltação sentimental, pela idealização do amor e por um tom frequentemente melancólico. Entretanto, Álvares de Azevedo, em poemas como “Namoro a Cavalo”, utiliza ironias e sarcasmo para criticar os próprios exageros do Romantismo. Isso configura uma vertente satírica interna ao movimento, não uma ruptura com ele.
No poema citado, vemos o eu lírico passando por situações humilhantes e cômicas em nome de um amor idealizado. O final frustrado do “namoro” reforça o amor platônico e não realizado – marca recorrente no estilo do autor.
Assim:
- I - Correta: O texto usa sátira (olhar crítico e cômico) para tratar o sentimentalismo ultrarromântico, como reconhecido pela crítica literária e manuais (ex: Literatura Brasileira, Massaud Moisés).
- II - Incorreta: Falsa generalização. A presença de ironia não exclui o poema da estética romântica; ao contrário, destaca a autoconsciência da geração ultrarromântica.
- III - Correta: O amor não realizado e idealizado (“Dulcinéia” vista apenas à janela, nunca alcançada) reafirma a tônica platônica e frustrante, central ao ultrarromantismo e à obra de Álvares de Azevedo.
Destaques de estratégia:
Fique atento a afirmações que sugerem ruptura total com o movimento literário (generalizações). Ironia e crítica interna são comuns nos grandes autores e, nesse caso, fortalecem a compreensão do estilo – não o distanciam dele. Observe também traços recorrentes da escola: idealização, frustração amorosa e autoironia.
Resumo: “Namoro a Cavalo” ilustra perfeitamente o espírito ultrarromântico: autoironia, amor não realizado e crítica ao sentimentalismo exacerbado. Por isso, as afirmativas I e III estão corretas.
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