Leia o texto a seguir:

“As temperaturas glaciais do campo aberto alternavam-se com os calores infernais do fundo da montanha. Os índios entravam nas profundidades, e ordinariamente eram retirados mortos ou com cabeças e pernas quebradas, e nos engenhos todo o dia se machucam. Os mitayos retiravam o minério com a ponta de uma barra e o carregavam nas costas, por escadas, à luz de uma vela [...]. A mita era uma máquina de triturar índios. O emprego do mercúrio para a extração de prata por amálgama envenenava tanto ou mais do que os gases tóxicos do ventre da terra. Fazia cair o cabelo, os dentes e provocava tremores incontroláveis.” Fonte: GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. RJ: Paz e Terra, 1989, p. 52.

Sobre o trabalho compulsório na América Espanhola, pode-se afirmar que:

Gabarito: Alternativa D

Tema central: trata-se do trabalho forçado na América Espanhola — especialmente da mita, sistema de recrutamento obrigatório de mão de obra para minas e obras públicas. É importante distinguir mita, repartimiento e encomienda e conhecer a origem andina da prática, sua adaptação colonial e suas consequências (altíssima mortalidade, envenenamento por mercúrio nas praxes de amalgamação, exaustão laboral).

Resumo teórico — A mita existia no Império Inca como rotatividade obrigatória de trabalho comunitário. Os espanhóis a adaptaram (especialmente em áreas como Potosí) transformando-a num regime coercitivo: draft periódico de indígenas para trabalhar em minas, muitas vezes longe de suas comunidades. Podia haver pagamento simbólico, mas as condições, as longas jornadas e o uso de mercúrio tornaram-na efetivamente um regime de exploração extrema. Fontes úteis: Eduardo Galeano (As veias abertas da América Latina), T. D'Altroy (The Incas) e a legislação colonial contida na Recopilación de las Leyes de Indias.

Por que a alternativa D está correta: ela descreve a mita/repartimiento como regime forçado em que os nativos recebiam remuneração muito baixa e eram mantidos nas minas apesar das péssimas condições. Isso condensa a realidade histórica: era trabalho obrigatório, com remuneração insuficiente e enorme custo em vidas e saúde (ex.: mercúrio na extração por amálgama). A identificação com o termo repartimiento é aceitável em provas, pois ambos referem-se a formas de recrutamento compulsório impostas pela administração colonial.

Análise das alternativas incorretas: - A (errada): afirma que a mita foi trazida exclusivamente pelos espanhóis — falso. A mita tem origem inca; os espanhóis a adaptaram e intensificaram. - B (errada): apresenta a mita como troca por educação cristã — enganosa. A Coroa e missionários alegavam deveres civis e religiosos, mas a mita era sobretudo tributária e coercitiva; a promessa de “catequese” não era contrapartida efetiva que justificasse a exploração. - C (errada): diz que a mita era realizada próxima às comunidades e promovia integração — equivocado. Pelo contrário, deslocava trabalhadores para minas distantes (Potosí, Cerro Rico), fragilizava estruturas comunitárias e provocava mortalidade e desintegração social.

Dica de prova: desconfie de termos absolutos como “exclusivamente” ou de interpretações benevolentes (educação, integração). Procure pistas: mineração, mercúrio, Potosí, origem inca — isso direciona à resposta correta.

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