Leia o trecho destacado do Auto de São Lourenço, de José de Anchieta.
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
Só eu
permaneço nesta aldeia
como chefe guardião.
Minha lei é a inspiração
que lhe dou, daqui vou longe
visitar outro torrão.
Quem é forte como eu?
Como eu, conceituado?
Sou diabo bem assado.
A fama me precedeu;
Guaixará sou chamado
Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.
Partindo do trecho acima e da leitura da obra, todas as alternativas estão corretas, EXCETO
Leia o trecho destacado do Auto de São Lourenço, de José de Anchieta.
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
Só eu
permaneço nesta aldeia
como chefe guardião.
Minha lei é a inspiração
que lhe dou, daqui vou longe
visitar outro torrão.
Quem é forte como eu?
Como eu, conceituado?
Sou diabo bem assado.
A fama me precedeu;
Guaixará sou chamado
Meu sistema é o bem viver.
Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar.
Partindo do trecho acima e da leitura da obra, todas as alternativas estão corretas, EXCETO
Gabarito comentado
Tema central da questão: Literatura de Catequese no Brasil colonial, destacando como o Auto de São Lourenço, de José de Anchieta, utilizava o teatro como instrumento de evangelização e aculturação dos povos indígenas.
A literatura jesuítica do século XVI, sobretudo os autos teatrais, adaptava tradições europeias à realidade brasileira, promovendo a catequização dos indígenas por meio de encenação de valores cristãos. O exemplo do texto evidencia confronto de valores: práticas indígenas versus proposta cristã, como nos versos que enaltecem o prazer e ridicularizam a virtude estrangeira.
Vamos analisar cada alternativa:
A) Correta. O gênero “auto” foi modificado para atender à catequese: simplificou-se a encenação, inseriram-se exemplos morais, utilizando uma linguagem compreensível ao indígena. Esse ponto é amplamente abordado em manuais de Literatura Brasileira, como Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias (Massaud Moisés).
B) Correta. Referências culturais e nomes indígenas são, de fato, estratégias de aculturação: facilitam a aceitação do novo sistema religioso pela apresentação de aspectos familiares ao grupo alvo. Isso não significa valorização da cultura indígena, mas sim sua apropriação para um fim pedagógico cristão.
C) Correta. O martírio de São Lourenço simboliza o ideal cristão: sofrimento e renúncia guiados pela fé. O santo é proposto como modelo a ser seguido, alinhando-se com o intento catequético de apresentar exemplos edificantes.
D) Incorreta. Atenção à pegadinha: a peça não promove “conciliação” de valores religiosos contrários. O objetivo não é a simpatia nem a integração de crenças indígenas, mas a substituição destas pelos valores cristãos. A peça ridiculariza práticas indígenas (como o “bem viver” e o alcoolismo) para exaltar a moral europeia e impor a fé católica, segundo as Diretrizes Catequéticas Jesuíticas. Isso é comprovado por análises como em Formação da literatura brasileira (Antonio Candido).
Estratégia para provas: Desconfie sempre de afirmações que sugerem conciliação igualitária de culturas no contexto da catequese jesuítica. Palavras como “conciliação”, “integração mútua” ou “simpatia” normalmente indicam erro quando se trata de auto jesuítico.
Alternativa correta: D — pois apresenta uma interpretação equivocada do papel da cultura indígena na obra de Anchieta.
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