Leia os trechos destacados da obra Boca do Inferno, de Ana Miranda:
“Ah, aquela desgraçada cidade, notável desventura de um povo néscio e sandeu. Gregório de Matos foi
informado sobre a morte do alcaide. Sofria ao ver os maus modos de obrar da governança, mas reconhecia
que não apenas aos governantes, mas a toda a cidade, o demo se expunha. Não era difícil assinalar os vícios
em que alguns moradores se depravavam. Pegou sua pena e começou a anotar” (p. 33).
“– Acho que acabou para sempre tua carreira na Relação Eclesiástica, disse Gonçalo Ravasco, rindo.
– Isso ainda veremos. Tratarei de mandar algumas adulações ao arcebispo. Dos meus versos será templo
frequente, onde glórias lhe cante de contino, declarou Gregório de Matos fazendo pantominas.
– Quanta lacônica eloquência!
– Esta é uma grande virtude. Quae fuerant vitia mores sunt. Sim, sim, creio que há vícios que se tornam
virtudes. Tudo depende de quando, como e por que se faz a coisa.
– Para ti tudo são vícios, e por isso vives atormentado com medo do inferno.
– Mas tudo hoje são vícios. E vícios hoje são virtudes” (p. 123-124)”
“A CIDADE DA BAHIA cresceu, modificou-se. Mas haveria de ser sempre um cenário de prazer e pecado,
que encantava a todos os que viviam ou a visitavam, fossem seres humanos, anjos ou demônios. Não
deixaria de ser, nunca, a cidade onde viveu o Boca do Inferno” (p. 331).
Com base na leitura dos trechos e de outros episódios da obra, todas as afirmativas são corretas, EXCETO
Leia os trechos destacados da obra Boca do Inferno, de Ana Miranda:
“Ah, aquela desgraçada cidade, notável desventura de um povo néscio e sandeu. Gregório de Matos foi
informado sobre a morte do alcaide. Sofria ao ver os maus modos de obrar da governança, mas reconhecia
que não apenas aos governantes, mas a toda a cidade, o demo se expunha. Não era difícil assinalar os vícios
em que alguns moradores se depravavam. Pegou sua pena e começou a anotar” (p. 33).
“– Acho que acabou para sempre tua carreira na Relação Eclesiástica, disse Gonçalo Ravasco, rindo.
– Isso ainda veremos. Tratarei de mandar algumas adulações ao arcebispo. Dos meus versos será templo frequente, onde glórias lhe cante de contino, declarou Gregório de Matos fazendo pantominas.
– Quanta lacônica eloquência!
– Esta é uma grande virtude. Quae fuerant vitia mores sunt. Sim, sim, creio que há vícios que se tornam virtudes. Tudo depende de quando, como e por que se faz a coisa.
– Para ti tudo são vícios, e por isso vives atormentado com medo do inferno.
– Mas tudo hoje são vícios. E vícios hoje são virtudes” (p. 123-124)”
“A CIDADE DA BAHIA cresceu, modificou-se. Mas haveria de ser sempre um cenário de prazer e pecado,
que encantava a todos os que viviam ou a visitavam, fossem seres humanos, anjos ou demônios. Não
deixaria de ser, nunca, a cidade onde viveu o Boca do Inferno” (p. 331).
Com base na leitura dos trechos e de outros episódios da obra, todas as afirmativas são corretas, EXCETO
Gabarito comentado
Tema central da questão: Relação entre ficção e história, características do Barroco e os conceitos de romance histórico e metaficção em “Boca do Inferno”, de Ana Miranda.
Justificativa da alternativa correta (D):
Alternativa D – ERRADA: “A obra faz coincidir sujeito histórico e personagem ficcional através do recurso à biografia.”
Aqui reside o cerne da questão: romance histórico não é o mesmo que biografia. Ana Miranda trabalha com liberdade ficcional, criando personagens inspirados em Gregório de Matos, mas desenvolvendo situações e diálogos fictícios. O sujeito histórico e o personagem literário não coincidem plenamente. A autora preenche lacunas da História com invenção, não se atendo a uma simples narrativa biográfica, mas explorando nuances, dúvidas e subjetividades. Em provas, atenção ao uso literal de termos como “coincidir” e “biografia” – a obra não reproduz o percurso exato do personagem histórico, característica da metaficção e do romance histórico contemporâneo.
Análise das alternativas corretas:
A) CORRETA: Gregório de Matos, tanto personagem quanto inspiração, é marcado pela linguagem irônica, satírica e de forte apelo barroco. Ana Miranda reproduz fielmente, em seu romance, os sotaques e torneios linguísticos próprios do período Barroco, repletos de jogos de palavras e sátiras.
B) CORRETA: A obra é metaficcional porque mistura mecanismos historiográficos (dados reais, personagens históricos) e literários (invenção, diálogo, subjetividade), levando o leitor a refletir sobre o próprio processo de criação da narrativa histórica.
C) CORRETA: A narrativa de Ana Miranda expõe uma Salvador fragmentada, marcada por conflitos sociais, religiosos e morais. Os episódios de tensão vividos pelos personagens refletem o caos e a disputa entre normas e transgressões típicos do Barroco.
Estratégia para questões desse tipo:
Fique atento(a) aos termos absolutos (“coincide”, “biografia”, “exatamente como”) e compare sempre com o grado de invenção literária da obra. Diferencie romance histórico de biografia e lembre-se da liberdade criativa em reconstruções do passado.
Gabarito: D
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