Em Dom Casmurro, Bentinho é o narrador que
Leia o trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis, para
responder a questão.
Ezequiel, quando começou o capítulo anterior, não era
ainda gerado; quando acabou era cristão e católico. Este
outro é destinado a fazer chegar o meu Ezequiel aos cinco
anos, um rapagão bonito, com os seus olhos claros, já
inquietos, como se quisessem namorar todas as moças da
vizinhança, ou quase todas. Agora, se considerares que ele foi único, que nenhum
outro veio, certo nem incerto, morto nem vivo, um só e único,
imaginarás os cuidados que nos deu, os sonos que nos tirou,
e que sustos nos meteram as crises dos dentes e outras,
a menor febrícula, toda a existência comum das crianças.
A tudo acudíamos, segundo cumpria e urgia, cousa que não
era necessário dizer, mas há leitores tão obtusos, que nada
entendem, se lhes não relata tudo e o resto. Vamos ao resto.
(Dom Casmurro. São Paulo, Globo, 1997)
Gabarito comentado
Tema central da questão: Narração em primeira pessoa, memória e subjetividade na obra "Dom Casmurro", de Machado de Assis.
No estudo das escolas literárias e das técnicas narrativas, entender quem narra e como narra é fundamental. Em Dom Casmurro, temos um narrador-protagonista: Bentinho (ou Dom Casmurro), que conta sua própria história na maturidade, com forte marca de subjetividade. A análise do texto revela elementos típicos desse tipo de narrativa, como o uso de memórias e reflexões pessoais sobre acontecimentos da juventude.
Justificativa da alternativa correta (E): Bentinho narra suas memórias com o propósito de compreender seu passado e seu presente. Isso está visível tanto no trecho fornecido quanto ao longo da obra, onde cada capítulo permite ao leitor acompanhar o processo de reconstrução do passado pela ótica do narrador, sempre permeado por dúvidas, sentimentos, lembranças e até distorções. Tal estratégia evidencia a subjetividade e as limitações da memória, conforme descrito nos principais manuais de literatura para concursos (por exemplo, Literatura Brasileira Para Concursos, de William Roberto Cereja).
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta. Bentinho não organiza histórias alheias; relata experiências pessoais.
B) Incorreta. A narração não é em forma de diário e sim uma retrospectiva construída anos após os fatos.
C) Incorreta. Não há isenção: dom Casmurro é parcial, marcado por emoções, sobretudo o ciúme.
D) Incorreta. Bentinho não investiga para vingar-se, mas revisita suas memórias, buscando sentido para acontecimentos passados, em especial sobre a dúvida em relação a Capitu.
Dicas para provas: Atenção a termos que indicam diário, isenção ou investigação: são armadilhas comuns para questões sobre narrador. Sempre relacione à estrutura do romance e à perspectiva adotada.
Resumo: A alternativa E é correta porque descreve com precisão a posição do narrador e o foco nas memórias como mecanismo de reflexão, essencial em Dom Casmurro.
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