“No entanto, a partir do momento em que o imperador Constantino impôs o cristianismo como religião de Estado, no
século IV, a tentação de apoderar-se de todos os poderes de
uma vez revelou-se.” (2°
parágrafo)
A frase introduzida pelo conectivo “No entanto” expressa, em
relação à anterior, uma ideia de
Leia o texto de Tzvetan Todorov para responder à questão.
Desde o início da história europeia, criamos o hábito de
distinguir entre poder temporal e poder espiritual. Quando
cada um deles dispõe da autonomia em seu domínio e se vê
protegido contra as intrusões do outro, fala-se de uma sociedade laica ou, como se diz também, secular.
Poderíamos crer que, na parte do mundo marcada pela
tradição cristã, essa relação em torno da questão da autonomia já estaria prontamente organizada, pois o Cristo anunciou que seu reino não era deste mundo, que a submissão
a Deus não interferia em nada na submissão a César. No
entanto, a partir do momento em que o imperador Constantino impôs o cristianismo como religião de Estado, no
século IV, a tentação de apoderar-se de todos os poderes de uma vez revelou-se. É fácil entender a razão desse
movimento. Dir-se-á que a ordem temporal reina sobre os
corpos, a ordem espiritual sobre as almas. Mas alma e corpo
não são entidades simplesmente justapostas, no interior de
cada ser eles formam inevitavelmente uma hierarquia. Para
a religião cristã, a alma deve comandar o corpo; por isso
cabe às instituições religiosas, isto é, à Igreja, não somente
dominar diretamente as almas, mas também, indiretamente,
controlar os corpos e, portanto, a ordem temporal. Por sua
vez, o poder temporal procurará defender suas prerrogativas
e exigirá a manutenção do controle sobre todos os negócios
terrestres, inclusive sobre uma instituição como a Igreja. Para
proteger sua autonomia, cada um dos dois adversários fica
então tentado a invadir o território do outro.
(O espírito das Luzes, 2006.)
Gabarito comentado
Comentário da Questão – Tema Central
A questão aborda interpretação de texto e, mais especificamente, o sentido semântico dos conectivos (ou locuções conjuntivas) na coesão textual. Aqui, seu foco deve ser compreender como os conectivos modificam ou relacionam ideias em um texto segundo a norma-padrão da Língua Portuguesa.
Justificativa da Alternativa Correta – Letra B ("oposição")
O conectivo “No entanto” é uma locução adverbial adversativa. Segundo as gramáticas de referência, como Celso Cunha & Lindley Cintra e Evanildo Bechara, ela equivale a "porém", "todavia", "contudo", "entretanto", todas indicando oposição ou contraste entre as ideias.
No contexto do texto, o autor apresenta uma expectativa (autonomia dos poderes espiritual e temporal) e, em seguida, um fato que contraria essa expectativa (“a tentação de apoderar-se de todos os poderes…”). O conectivo “No entanto” destaca justamente o contraste entre essas duas situações, rompendo a expectativa.
Análise das Alternativas Incorretas:
A) Consequência: “No entanto” não apresenta resultado ou desdobramento dos fatos, mas sim oposição; conectivos de consequência seriam “portanto”, “assim”, “por isso”.
C) Causa: Não há relação causal estabelecida (“porque”, “já que”, “visto que”).
D) Condição: Não há condicionalidade (“se”, “caso”, “desde que”).
E) Proporção: Não há relação proporcional (“à medida que”, “quanto mais… tanto mais…”).
Dica de Prova: Atenção aos conectivos! Muitas questões cobram a identificação do sentido real do conectivo no contexto. Se memorize os principais valores semânticos e, sempre que possível, substitua mentalmente a expressão da questão por outras sinônimas para confirmar o sentido.
Resumo da Regra: Conectivos adversativos (“no entanto”, “porém”, etc.) sempre estabelecem contraposição/contraste de ideias.
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