Considerando os estudos sobre o romance
Dom Casmurro, assinale com V (verdadeiro)
ou F (falso) as seguintes afirmações.
( ) No final do século XIX e início do XX, a
interpretação do romance tende à
aderência ao ponto de vista do narrador.
Assim, em geral, os leitores aceitam os
fatos narrados por Bentinho sem muita
desconfiança da sua narração
comprometida. ( ) Em torno de 1960, talvez por influência
de leituras feministas, críticos
problematizam a visão unilateral de
Bentinho e passam a ponderar que o
ponto de vista de Capitu não vinha sendo
considerado e que a sua traição deveria
ser ao menos discutida. ( ) Perto de 1980, são comuns as leituras
que desviam o foco do debate
sentimental para o social, e a diferença
de classe entre o filho do deputado
(Bentinho) e a filha do vizinho pobre
(Capitu) passa a figurar como um dos
tópicos do romance.( ) Atualmente, e por obra das muitas
adaptações do romance para o cinema e
para a televisão, que revelaram
conteúdos da narrativa antes ocultos, é
consenso que a traição de Capitu é o
centro do enredo e que esta pode ser
comprovada pelas pistas deixadas no
texto por Machado de Assis.
A sequência correta de preenchimento dos
parênteses, de cima para baixo, é
Gabarito comentado
Tema central: A questão avalia o desenvolvimento das interpretações críticas de “Dom Casmurro” ao longo do tempo, enfocando como mudanças históricas e movimentos literários e sociais influenciaram a leitura do romance de Machado de Assis.
1ª afirmação: "No final do século XIX e início do XX… leitores aceitam os fatos narrados por Bentinho…" — Verdadeira. Nos primeiros anos após a publicação, predomina a leitura ingênua e aderente ao narrador. Críticos pioneiros como José Veríssimo não questionavam a subjetividade de Bentinho, tratando-o como narrador confiável.
2ª afirmação: "Em torno de 1960… críticos problematizam a visão unilateral de Bentinho..." — Verdadeira. Com o avanço do feminismo e das leituras psicanalíticas, a confiabilidade de Bentinho passou a ser questionada. Helen Caldwell, por exemplo, defendeu a inocência de Capitu e trouxe nova perspectiva sobre as relações de gênero, descentralizando a narrativa masculina.
3ª afirmação: "Perto de 1980, são comuns as leituras que desviam o foco do debate sentimental para o social..." — Verdadeira. Na década de 1980, críticas sociais e históricas ganharam destaque: críticos como John Gledson demonstraram como a diferença de classe social contribui para a construção dos personagens e seus conflitos.
4ª afirmação: "Atualmente... é consenso que a traição de Capitu é o centro do enredo..." — Falsa. Não existe consenso crítico. O debate permanece aberto, pois a ambiguidade é uma das marcas da narrativa machadiana. Adaptações podem sugerir soluções, mas o texto literário não fecha a questão da traição, mantendo o romance como estudo sobre a dúvida e a memória.
Gabarito: E) V – V – V – F
Análise das alternativas incorretas:
- Alternativas A, B, C e D erram ao inverter ou negar avanços críticos reconhecidos (feminismo, análise social), ou ao tomar como certeza a traição de Capitu, quebrando a indeterminação proposta por Machado.
Dica de leitura de prova: Cuidado com expressões como "consenso", "comprovação", "certamente" em temas ambíguos — são pegadinhas comuns. Relembre que a crítica literária evolui e raramente há consenso absoluto sobre grandes obras.
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