Questão d50e2780-05
Prova:UFRGS 2016
Disciplina:Literatura
Assunto:Realismo, Escolas Literárias

Considerando os estudos sobre o romance Dom Casmurro, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) No final do século XIX e início do XX, a interpretação do romance tende à aderência ao ponto de vista do narrador. Assim, em geral, os leitores aceitam os fatos narrados por Bentinho sem muita desconfiança da sua narração comprometida.
( ) Em torno de 1960, talvez por influência de leituras feministas, críticos problematizam a visão unilateral de Bentinho e passam a ponderar que o ponto de vista de Capitu não vinha sendo considerado e que a sua traição deveria ser ao menos discutida.
( ) Perto de 1980, são comuns as leituras que desviam o foco do debate sentimental para o social, e a diferença de classe entre o filho do deputado (Bentinho) e a filha do vizinho pobre (Capitu) passa a figurar como um dos tópicos do romance.
( ) Atualmente, e por obra das muitas adaptações do romance para o cinema e para a televisão, que revelaram conteúdos da narrativa antes ocultos, é consenso que a traição de Capitu é o centro do enredo e que esta pode ser comprovada pelas pistas deixadas no texto por Machado de Assis.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

A
F – F – V – F.
B
V – F – V – V.
C
V – F – F – V.
D
F – V – F – F.
E
V – V – V – F.

Gabarito comentado

A
Afonso Neves Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão avalia o desenvolvimento das interpretações críticas de “Dom Casmurro” ao longo do tempo, enfocando como mudanças históricas e movimentos literários e sociais influenciaram a leitura do romance de Machado de Assis.

1ª afirmação: "No final do século XIX e início do XX… leitores aceitam os fatos narrados por Bentinho…" — Verdadeira. Nos primeiros anos após a publicação, predomina a leitura ingênua e aderente ao narrador. Críticos pioneiros como José Veríssimo não questionavam a subjetividade de Bentinho, tratando-o como narrador confiável.

2ª afirmação: "Em torno de 1960… críticos problematizam a visão unilateral de Bentinho..." — Verdadeira. Com o avanço do feminismo e das leituras psicanalíticas, a confiabilidade de Bentinho passou a ser questionada. Helen Caldwell, por exemplo, defendeu a inocência de Capitu e trouxe nova perspectiva sobre as relações de gênero, descentralizando a narrativa masculina.

3ª afirmação: "Perto de 1980, são comuns as leituras que desviam o foco do debate sentimental para o social..." — Verdadeira. Na década de 1980, críticas sociais e históricas ganharam destaque: críticos como John Gledson demonstraram como a diferença de classe social contribui para a construção dos personagens e seus conflitos.

4ª afirmação: "Atualmente... é consenso que a traição de Capitu é o centro do enredo..." — Falsa. Não existe consenso crítico. O debate permanece aberto, pois a ambiguidade é uma das marcas da narrativa machadiana. Adaptações podem sugerir soluções, mas o texto literário não fecha a questão da traição, mantendo o romance como estudo sobre a dúvida e a memória.

Gabarito: E) V – V – V – F

Análise das alternativas incorretas:

- Alternativas A, B, C e D erram ao inverter ou negar avanços críticos reconhecidos (feminismo, análise social), ou ao tomar como certeza a traição de Capitu, quebrando a indeterminação proposta por Machado.

Dica de leitura de prova: Cuidado com expressões como "consenso", "comprovação", "certamente" em temas ambíguos — são pegadinhas comuns. Relembre que a crítica literária evolui e raramente há consenso absoluto sobre grandes obras.

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