No Texto 6, Arandir afirma não ter ouvido uma
das perguntas do delegado Cunha. O aparelho auditivo
humano pode se sensibilizar com muita facilidade.
Somos capazes de captar sons com uma intensidade de
10–12 W/m2
(limiar de audição) e escutamos em uma
faixa de frequência que vai de 20 Hz a 20000 Hz. Considere
a velocidade do som no ar de 340 m/s e analise as
afirmativas a seguir:
I - Se o delegado Cunha emitir um som de 60 dB (conversa
comum), a intensidade sonora produzida por ele será
de 10–6
W/m2.
II - Arandir poderia ouvir melhor o delegado Cunha se
seus ouvidos estivessem submersos em água, uma vez
que a frequência do som emitido seria modificada.III - A velocidade do som emitido por Cunha é a mesma,
independentemente do meio físico em que ele se encontre.IV - O comprimento de onda do som emitido no ar por
uma pessoa, equivalente à menor frequência audível, é
de 17 m.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única
alternativa cujos itens estão todos corretos:
TEXTO 6
Arandir — Posso ir?
Comissário Barros — Pode.
Arandir (recuando, com sofrida humildade) — Então,
boa tarde, boa tarde.
Cunha — Um minutinho.
Arandir (incerto) — Comigo?
Cunha — Um momento.
Barros — Já prestou declarações.
Cunha (entre divertido e ameaçador) — Sei. Agora
vai conversar comigo.
Aruba (baixo e veemente para Arandir) — O delegado.
Amado — Senta.
Arandir (sentindo a pressão de novo ambiente) —
Mas é que eu estou com um pouquinho de pressa.
(Arandir começa a ter medo. Ele próprio não sabe
de quê.)
Cunha (com o riso ofegante) — Rapaz, a polícia não
tem pressa.
Amado — Mas senta. (Arandir olha em torno, como
um bicho apavorado. Senta-se, finalmente.)
Arandir (sem ter de quê) — Obrigado.
Barros (baixo e reverente, para o delegado) — Ele é
apenas testemunha.
Cunha — Não te mete.
(Arandir ergue-se, sôfrego.)
Arandir — Posso telefonar?
Cunha — Mais tarde.
(Amado cutuca o fotógrafo.)
Amado — Bate agora! (flash estoura. Arandir toma
um choque.)
Arandir — Retrato?
Amado — Nervoso, rapaz?
(Arandir senta-se, une os joelhos.)
Arandir — Absolutamente!
Cunha (lançando a pergunta como uma chicotada)
— Você é casado, rapaz?
Arandir — Não ouvi.
Cunha (num berro) — Tira a cera dos ouvidos!
Amado (inclinando-se para o rapaz) — Casado ou
solteiro?
Arandir — Casado.
Cunha — Casado. Muito bem. (vira-se para Amado,
com segunda intenção) O homem é casado. (para o
Comissário Barros) Casado.
Barros — Eu sabia.
Arandir (com sofrida humildade) — O senhor deixa
dar um telefonema rápido para minha mulher?
Cunha (rápido e incisivo) — Gosta de sua mulher,
rapaz?
(Arandir, por um momento, acompanha o movimento
do fotógrafo que se prepara para bater uma nova
fotografia.)
Arandir — Naturalmente!
Cunha (com agressividade policial) — E não usa
nada no dedo, por quê?
Arandir (atarantado) — Um dia, no banheiro, caiu.
Caiu a aliança. No ralo do banheiro.
Amado — O que é que você estava fazendo na praça
da Bandeira?
Arandir — Bem. Fui lá e...
Cunha (num berro) — Não gagueja, rapaz!
Arandir (falando rápido) — Fui levar uma joia.
Cunha (alto) — Joia!
Arandir — Joia. Aliás, empenhar uma joia na Caixa
Econômica. (Amado e Cunha cruzam as perguntas
para confundir e levar Arandir ao desespero.)
Amado — Casado há quanto tempo?
Arandir — Eu?
Cunha — Gosta de mulher, rapaz?
ARANDIR (desesperado) — Quase um ano!
Cunha (mais forte) — Gosta de mulher?
Arandir (quase chorando) — Casado há um ano.
(Cunha muda de voz, sem transição. Põe a mão no
joelho do rapaz.)
Cunha (caricioso e ignóbil) — Escuta. O que significa
para ti. Sim, o que significa para “você” uma
mulher!?
Arandir (lento e olhando em torno) — Mas eu estou
preso?
Cunha (sem ouvi-lo e sempre melífluo) — Rapaz, escuta!
Uma hipótese. Se aparecesse, aqui, agora, uma
mulher, uma “boa”. Nua. Completamente nua. Qual
seria. É uma curiosidade. Seria a tua reação? (Arandir
olha, ora o Cunha, ora o Amado. Silêncio.)
(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1995. p. 23-27.)
TEXTO 6
Arandir — Posso ir?
Comissário Barros — Pode.
Arandir (recuando, com sofrida humildade) — Então, boa tarde, boa tarde.
Cunha — Um minutinho.
Arandir (incerto) — Comigo?
Cunha — Um momento.
Barros — Já prestou declarações.
Cunha (entre divertido e ameaçador) — Sei. Agora vai conversar comigo.
Aruba (baixo e veemente para Arandir) — O delegado.
Amado — Senta.
Arandir (sentindo a pressão de novo ambiente) — Mas é que eu estou com um pouquinho de pressa. (Arandir começa a ter medo. Ele próprio não sabe de quê.)
Cunha (com o riso ofegante) — Rapaz, a polícia não tem pressa.
Amado — Mas senta. (Arandir olha em torno, como um bicho apavorado. Senta-se, finalmente.)
Arandir (sem ter de quê) — Obrigado.
Barros (baixo e reverente, para o delegado) — Ele é apenas testemunha.
Cunha — Não te mete.
(Arandir ergue-se, sôfrego.)
Arandir — Posso telefonar?
Cunha — Mais tarde.
(Amado cutuca o fotógrafo.)
Amado — Bate agora! (flash estoura. Arandir toma um choque.)
Arandir — Retrato?
Amado — Nervoso, rapaz?
(Arandir senta-se, une os joelhos.)
Arandir — Absolutamente!
Cunha (lançando a pergunta como uma chicotada)
— Você é casado, rapaz?
Arandir — Não ouvi.
Cunha (num berro) — Tira a cera dos ouvidos!
Amado (inclinando-se para o rapaz) — Casado ou solteiro?
Arandir — Casado.
Cunha — Casado. Muito bem. (vira-se para Amado, com segunda intenção) O homem é casado. (para o Comissário Barros) Casado.
Barros — Eu sabia.
Arandir (com sofrida humildade) — O senhor deixa dar um telefonema rápido para minha mulher?
Cunha (rápido e incisivo) — Gosta de sua mulher, rapaz?
(Arandir, por um momento, acompanha o movimento do fotógrafo que se prepara para bater uma nova fotografia.)
Arandir — Naturalmente!
Cunha (com agressividade policial) — E não usa nada no dedo, por quê?
Arandir (atarantado) — Um dia, no banheiro, caiu. Caiu a aliança. No ralo do banheiro.
Amado — O que é que você estava fazendo na praça da Bandeira?
Arandir — Bem. Fui lá e...
Cunha (num berro) — Não gagueja, rapaz!
Arandir (falando rápido) — Fui levar uma joia.
Cunha (alto) — Joia!
Arandir — Joia. Aliás, empenhar uma joia na Caixa Econômica. (Amado e Cunha cruzam as perguntas para confundir e levar Arandir ao desespero.)
Amado — Casado há quanto tempo?
Arandir — Eu?
Cunha — Gosta de mulher, rapaz?
ARANDIR (desesperado) — Quase um ano!
Cunha (mais forte) — Gosta de mulher?
Arandir (quase chorando) — Casado há um ano. (Cunha muda de voz, sem transição. Põe a mão no joelho do rapaz.)
Cunha (caricioso e ignóbil) — Escuta. O que significa para ti. Sim, o que significa para “você” uma mulher!?
Arandir (lento e olhando em torno) — Mas eu estou preso?
Cunha (sem ouvi-lo e sempre melífluo) — Rapaz, escuta! Uma hipótese. Se aparecesse, aqui, agora, uma mulher, uma “boa”. Nua. Completamente nua. Qual seria. É uma curiosidade. Seria a tua reação? (Arandir olha, ora o Cunha, ora o Amado. Silêncio.)
(RODRIGUES, Nelson. O beijo no asfalto. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1995. p. 23-27.)