Os escravos africanos cultivavam açúcar em ilhas das Caraíbas, que forneciam aos
trabalhadores ingleses calorias e estímulos. Mas como se tornou possível uma
complementaridade tão terrível? Só graças a poderosos sistemas de comércio e de navegação
com capacidade de ligarem entre si partes diferentes deste sistema atlântico. Só graças a um
aparelho institucional capaz de assegurar a aplicação de direitos de propriedade em diferentes
partes de um sistema imperial.
(Frederick Cooper. Histórias de África. Capitalismo, Modernidade e Globalização, 2016. Adaptado.)
Esse sistema econômico intercontinental, característico da Idade Moderna, baseava-se
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: trata-se do sistema atlântico moderno — a economia de plantation e da escravidão, sustentada por redes de comércio, navegação e por um aparelho imperial capaz de garantir propriedade e coerção.
Resumo teórico (claro e progressivo): No Atlântico moderno (séculos XVI–XIX) produzia‑se açúcar, tabaco, algodão em plantações que dependiam do trabalho escravo africano. A integração entre ilhas produtoras, mercados europeus e rotas de escravos só foi possível porque Estados e instituições imperiais (leis, companhias, marinhas, tribunais coloniais, forças militares) asseguravam direitos de propriedade, contratos e, sobretudo, aplicavam coerção para manter o sistema (ver Frederick Cooper; também Eric Williams sobre as bases econômicas do tráfico e da plantation).
Por que a alternativa A é correta: o enunciado fala em "aparelho institucional" e "assegurar a aplicação de direitos de propriedade" — isso aponta diretamente para a ação do Estado e de estruturas coercitivas (leis, políticas mercantilistas, Acts de Navegação, companhias charter, guarnições coloniais) que viabilizaram e protegeram o comércio transatlântico e a escravidão. Sem esse arcabouço estatal, a complementaridade entre produção nas Caraíbas e consumo/metais na Europa não teria sido sustentável.
Análise das alternativas incorretas:
B — Transferência de operários europeus: incorreta. O trabalho nas plantações era majoritariamente escravo africano; o envio massivo de trabalhadores europeus assalariados não explica a escala e a natureza coercitiva do sistema.
C — Transição de subsistência para mercado: parcial, mas enganosa. Houve expansão de mercados; porém o ponto decisivo do enunciado é a institucionalização e coerção imperial, não apenas uma mudança de padrão produtivo.
D — Relação pacífica entre nações/culturas: errada. O texto descreve uma "complementaridade terrível" sustentada por violência, coerção e exploração — nada de relações pacíficas.
E — Incorporação das classes dominantes afro‑ameríndias à industrialização: absurda no contexto; as elites coloniais eram em grande parte europeias e o sistema baseava‑se na subjugação de africanos e povos indígenas, não na sua incorporação à liderança industrial.
Dica de prova: destaque palavras‑chave do enunciado — "aparelho institucional", "direitos de propriedade", "sistema imperial" — elas costumam indicar respostas relacionadas ao Estado, à lei e à coerção. Desconfie de alternativas que proponham explicações simplistas ou anacrônicas.
Fontes úteis: Frederick Cooper, Histórias de África (2016); Eric Williams, Capitalism and Slavery (1944); estudos sobre Navigation Acts e companhias charter.
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