O Texto 4, fragmento do romance Mesa dos inocentes,
confirma a ideia de que o texto literário é um objeto
de linguagem cuja função é confrontar o leitor com
o mundo engendrado na obra. Para mobilizar o leitor de
ficção, há comumente um investimento do autor no aspecto
conotativo da linguagem. Identifique, a seguir, os
itens que confirmam esse aspecto:
I - “O rio recusou meu corpo, mas não a dor” .
II - “Todo rio tem seu leito, suas margens, seu limite”.
III - “O rio de nossa vida não é diferente”.
IV - “Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas”.
Marque a alternativa em que todos os itens estão corretos:
TEXTO 4
Não desejei a morte de minha filha. Ou desejei?
Aí é que reside a dúvida, é onde habita o nó
que nada nem ninguém no mundo tem o poder de
desatar. O inconsciente, desculpe-me a vulgaridade
do termo, minha filha, é uma merda. Sendo autônomo,
o inconsciente age por si, sem pedir licença nem
se revelar. Desejei ou não a morte de minha filha,
hein? Você pode responder a essa pergunta? Alguém
pode? Eu não posso. Busquei na fonte a resposta e ela
não veio. Como minha filha havia feito, busquei nas
águas do Cristal a cura imediata para uma dor que parecia
infinda. A ferida tinha sido cavada pelas águas,
então elas que tratassem de cicatrizá-la. O rio recusou
meu corpo, mas não a dor. Nem o aconselhamento.
Pediu tempo, apenas. Permaneci plantada no barranco,
juntando ao seu caudal minhas lágrimas secas.
Disseram que eu tinha enlouquecido, talvez tivesse
mesmo. Em diálogo profundo, as águas me fizeram
compreender verdades para as quais eu nunca havia
me atinado. Todo rio tem seu leito, suas margens, seu
limite, toda vez que ele avança além de seu leito original
provoca estragos, descalabros. O rio de nossa
vida não é diferente. Ele também está sujeito a limitações intransponíveis. Existe você e você; seu campo
de visão, a capacidade de administrar o próprio caudal.
Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas.
Felicidade ou dor, a escolha é sua, depende do
grau de intensidade que você der a cada coisa. Hoje
posso dizer que me conheço um pouquinho, mesmo
assim, perguntas continuam sem resposta.
(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes.
Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)
TEXTO 4
Não desejei a morte de minha filha. Ou desejei? Aí é que reside a dúvida, é onde habita o nó que nada nem ninguém no mundo tem o poder de desatar. O inconsciente, desculpe-me a vulgaridade do termo, minha filha, é uma merda. Sendo autônomo, o inconsciente age por si, sem pedir licença nem se revelar. Desejei ou não a morte de minha filha, hein? Você pode responder a essa pergunta? Alguém pode? Eu não posso. Busquei na fonte a resposta e ela não veio. Como minha filha havia feito, busquei nas águas do Cristal a cura imediata para uma dor que parecia infinda. A ferida tinha sido cavada pelas águas, então elas que tratassem de cicatrizá-la. O rio recusou meu corpo, mas não a dor. Nem o aconselhamento. Pediu tempo, apenas. Permaneci plantada no barranco, juntando ao seu caudal minhas lágrimas secas. Disseram que eu tinha enlouquecido, talvez tivesse mesmo. Em diálogo profundo, as águas me fizeram compreender verdades para as quais eu nunca havia me atinado. Todo rio tem seu leito, suas margens, seu limite, toda vez que ele avança além de seu leito original provoca estragos, descalabros. O rio de nossa vida não é diferente. Ele também está sujeito a limitações intransponíveis. Existe você e você; seu campo de visão, a capacidade de administrar o próprio caudal. Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas. Felicidade ou dor, a escolha é sua, depende do grau de intensidade que você der a cada coisa. Hoje posso dizer que me conheço um pouquinho, mesmo assim, perguntas continuam sem resposta.
(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 23.)
Gabarito comentado
Gabarito comentado: B) I, III e IV
Tema central: A questão aborda interpretação de texto literário com foco na linguagem conotativa e no uso de figuras de linguagem, principalmente metáfora e personificação. Segundo Bechara e Cunha & Cintra, a linguagem conotativa usa palavras em sentido figurado, potencializando a expressividade e subjetividade do texto.
Justificativa para a alternativa correta:
Item I: “O rio recusou meu corpo, mas não a dor.”
Há personificação; o rio, ser inanimado, "recusa", ação humana. Isso é típico da linguagem conotativa.
Item III: “O rio de nossa vida não é diferente.”
Metáfora; compara a vida a um rio, sugerindo limites, margens e fluxo, sem usar termos comparativos explícitos (como "como" ou "tal qual").
Item IV: “Tem a hora de abrir e a hora de fechar as comportas.”
Mais uma metáfora; as "comportas" simbolizam momentos de decisão ou emoções na vida, marcando o uso do sentido figurado.
Todos esses itens utilizam palavras em sentido não literal, característica central da conotação.
Análise dos itens incorretos:
Item II: “Todo rio tem seu leito, suas margens, seu limite.”
Aqui, o rio está descrito literalmente, em seu sentido denotativo, sem qualquer figura ou comparação indireta. Por isso, não confirma o aspecto conotativo.
Alternativas incorretas:
A) Inclui o item II (erro já explicado).
C) Não inclui o item I, que apresenta clara personificação.
D) Exclui o item III, uma metáfora determinante para a conotação no texto.
Estratégias para a prova:
Ao analisar alternativas, identifique sempre o uso de sentido figurado — metáforas e personificações são recorrentes em textos literários. Atenção para palavras com significado além do comum; geralmente sinalizam conotação. Evite confundir descrições reais/objetivas com imagens poéticas.
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