Nos fragmentos do Texto 3 “Tentava acompanhar
os passos de meu pai. [...] dizer-lhe que parasse.” Temos
referência a movimento e a repouso. O movimento de
um corpo pode ser de translação e/ou rotação. Para que
um corpo permaneça em repouso, é necessário que esteja
em equilíbrio de translação e rotação. Considere uma
gangorra construída com uma tábua rígida, homogênea,
de massa igual a 10 kg, com espessura e largura desprezíveis
em relação a seu comprimento, que é de 8 m. A
tábua pode girar em torno de um eixo de rotação colocado
perpendicularmente ao seu comprimento, a 4 m de
cada uma das extremidades. Duas pessoas, uma de massa
m1
= 85 kg e outra de massa m2
= 40 kg, estão sentadas
em cada uma das extremidades da tábua. Para que a tábua fique em equilíbrio horizontal, uma terceira pessoa
é colocada entre o eixo de rotação e a pessoa mais leve,
a uma distância de 1,5 m desse eixo. A massa da terceira
pessoa é de (assinale a resposta correta):
TEXTO 3
Escalada para o inferno
Iniciava-se ali, meu estágio no inferno. A
ardida solidão corroía cada passo que eu dava. Via
crucis vivida aos seis anos de idade, ao sol das duas
horas. Vermelhidão por todos os lados daquela rua
íngreme e poeirenta. Meus olhos pediam socorro mas
só encontravam uma infinitude de terra e desolação.
Tentava acompanhar os passos de meu pai. E eles
eram enormes. Não só os passos mas as pernas.
Meus olhos olhavam duplamente: para os passos e
para as pernas e não alcançavam nem um nem outro.
Apenas se defrontavam com um vazio empoeirado
que entrava no meu ser inteiro. Eu queria chorar mas
tinha medo. Tropeçava a cada tentativa de correr para
alcançar meu pai. E eu tinha medo de ter medo. E
eu tinha medo de chorar. E era um sofrimento com
todos os vórtices de agonia. À minha frente, até
onde meus olhos conseguiram enxergar, estavam os
pés e as pernas de meu pai que iam firmes subindo
subindo subindo sem cessar. À minha volta eu podia
ver e sentir a terra vermelha e minha vida envolta
num turbilhão de desespero. Na verdade eu não sabia
muito bem para onde estava indo. Eu era bestializado
nos meus próprios passos. Nas minhas próprias
pernas. Tinha a impressão que o ponto de chegada
era aquele redemoinho em que me encontrava e que
dele nunca mais sairia. Na ânsia de ir sem querer ir
eu gaguejava no caminhar. E olhava com sofreguidão
para os meus pés e via ainda com mais aflição que os
bicos de meus sapatos novos estavam sujos daquela
poeira impregnante, vasculhante, suja. Eu sempre
gostei de sapatos. Eu sempre gostei de sapatos novos.
Novos e luzidios. E eles estavam sujos. Cobertos de
poeira. E a subida prosseguia inalterada. Tentava
olhar para o alto e só conseguia ver os enormes
joelhos de meu pai que dobravam num ritmo
compassado. Via suas pernas e seus pés. E só. Sentia,
lá no fundo, um desejo calado de dizer alguma coisa.
De dizer-lhe que parasse. Que fosse mais devagar.
Que me amparasse. Mas esse desejo era um calo na
minha pequenina garganta que jamais seria curado.
E eu prossegui ao extremo de meus limites. Tinha de
acontecer: desamarrou o cadarço de meu sapato. A
loucura do sol das duas horas parece ter se engraçado
pelo meu desatino. Tudo ficou muito mais quente.
Tudo ficou mais empoeirado e muito mais vermelho.
O desatino me levou ao choro. Não sei se chorei
ou se choraminguei. Só sei que dei índices de que
eu precisava de meu pai. E ele atendeu. Voltou-se
para mim e viu que estava pisando no cadarço. Que
estava prestes a cair. Então me socorreu. Olhou-me
nos olhos com a expressão casmurra. Levou suas
enormes mãos aos meus pés e amarrou o cadarço
firmemente com um intrincado nó. A cena me levou
a um estado de cegueira anestésica tão intensa que
sofri uma espécie de amnésia passageira. Estado de
torpor. Quando dei por mim, já tinha chegado ao meu destino: cadeira do barbeiro. Alta, prepotente
e giratória. Ele, o barbeiro, cabeça enorme, mãos
enormes, enormes unhas, sorriso nos lábios dos
quais surgiam grandes caninos. Ele portava enorme
máquina que apontava em minha direção. E ouvi a
voz do pai: pode tirar quase tudo! deixa só um pouco
em cima! Ali, finalmente, para lembrar Rimbaud, ia
se encerrar meu estágio no inferno.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo:
Nankin, 2013. p. 45-46.)
TEXTO 3
Escalada para o inferno
Iniciava-se ali, meu estágio no inferno. A ardida solidão corroía cada passo que eu dava. Via crucis vivida aos seis anos de idade, ao sol das duas horas. Vermelhidão por todos os lados daquela rua íngreme e poeirenta. Meus olhos pediam socorro mas só encontravam uma infinitude de terra e desolação. Tentava acompanhar os passos de meu pai. E eles eram enormes. Não só os passos mas as pernas. Meus olhos olhavam duplamente: para os passos e para as pernas e não alcançavam nem um nem outro. Apenas se defrontavam com um vazio empoeirado que entrava no meu ser inteiro. Eu queria chorar mas tinha medo. Tropeçava a cada tentativa de correr para alcançar meu pai. E eu tinha medo de ter medo. E eu tinha medo de chorar. E era um sofrimento com todos os vórtices de agonia. À minha frente, até onde meus olhos conseguiram enxergar, estavam os pés e as pernas de meu pai que iam firmes subindo subindo subindo sem cessar. À minha volta eu podia ver e sentir a terra vermelha e minha vida envolta num turbilhão de desespero. Na verdade eu não sabia muito bem para onde estava indo. Eu era bestializado nos meus próprios passos. Nas minhas próprias pernas. Tinha a impressão que o ponto de chegada era aquele redemoinho em que me encontrava e que dele nunca mais sairia. Na ânsia de ir sem querer ir eu gaguejava no caminhar. E olhava com sofreguidão para os meus pés e via ainda com mais aflição que os bicos de meus sapatos novos estavam sujos daquela poeira impregnante, vasculhante, suja. Eu sempre gostei de sapatos. Eu sempre gostei de sapatos novos. Novos e luzidios. E eles estavam sujos. Cobertos de poeira. E a subida prosseguia inalterada. Tentava olhar para o alto e só conseguia ver os enormes joelhos de meu pai que dobravam num ritmo compassado. Via suas pernas e seus pés. E só. Sentia, lá no fundo, um desejo calado de dizer alguma coisa. De dizer-lhe que parasse. Que fosse mais devagar. Que me amparasse. Mas esse desejo era um calo na minha pequenina garganta que jamais seria curado. E eu prossegui ao extremo de meus limites. Tinha de acontecer: desamarrou o cadarço de meu sapato. A loucura do sol das duas horas parece ter se engraçado pelo meu desatino. Tudo ficou muito mais quente. Tudo ficou mais empoeirado e muito mais vermelho. O desatino me levou ao choro. Não sei se chorei ou se choraminguei. Só sei que dei índices de que eu precisava de meu pai. E ele atendeu. Voltou-se para mim e viu que estava pisando no cadarço. Que estava prestes a cair. Então me socorreu. Olhou-me nos olhos com a expressão casmurra. Levou suas enormes mãos aos meus pés e amarrou o cadarço firmemente com um intrincado nó. A cena me levou a um estado de cegueira anestésica tão intensa que sofri uma espécie de amnésia passageira. Estado de torpor. Quando dei por mim, já tinha chegado ao meu destino: cadeira do barbeiro. Alta, prepotente e giratória. Ele, o barbeiro, cabeça enorme, mãos enormes, enormes unhas, sorriso nos lábios dos quais surgiam grandes caninos. Ele portava enorme máquina que apontava em minha direção. E ouvi a voz do pai: pode tirar quase tudo! deixa só um pouco em cima! Ali, finalmente, para lembrar Rimbaud, ia se encerrar meu estágio no inferno.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 45-46.)