Questão cb8c2022-b9
Prova:UNIVESP 2019
Disciplina:Português
Assunto:Termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado, Sintaxe

A respeito dos dois trechos a seguir “Tinha-lhe sido apresentado em certo armazém” e “Contaram-lhe ali a história do homem”, assinale a alternativa correta.

Leia atentamente o capítulo XXIX do romance “Quincas Borba” de Machado de Assis para responder a questão.

CAPÍTULO XXIX

    RUBIÃO passou o resto da manhã alegremente. Era domingo; dois amigos vieram almoçar com ele, um rapaz de vinte e quatro anos, que roía as primeiras aparas dos bens da mãe, e um homem de quarenta e quatro ou quarenta e seis, que não tinha que roer.
Carlos Maria chamava-se o primeiro, Freitas o segundo. Rubião gostava de ambos, mas diferentemente;não era só a idade que o ligava mais ao Freitas, era também a índole deste homem. Freitas elogiava tudo, saudava cada prato e cada vinho com uma frase particular, delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos, provando assim que os preferia a quaisquer outros. Tinhalhe sido apresentado em certo armazém da Rua Municipal, onde jantaram uma vez juntos. Contaram-lhe ali a história do homem, a sua boa e má fortuna, mas não entraram em particularidades. Rubião torceu o nariz; era naturalmente algum náufrago, cuja convivência não lhe traria nenhum prazer pessoal nem consideração pública. Mas o Freitas atenuou logo essa primeira impressão; era vivo, interessante, anedótico, alegre como um homem que tivesse cinqüenta contos de renda.

A
Os verbos de ambos os trechos estão na voz ativa.
B
O sujeito do verbo “ter” é oculto, enquanto que o sujeito do verbo “contar” é indeterminado.
C
A partícula “lhe” no trecho “Tinha-lhe” funciona como objeto indireto, enquanto que, no trecho “contaram-lhe”, essa partícula tem função sintática de adjunto adnominal.
D
A palavra “certo” define o substantivo “armazém”, atribuindo-lhe o sentido de certeza.
E
A expressão “do homem”, ao utilizar o artigo definido contraído com a preposição “de”, valoriza o substantivo “homem”, que faz referência, no caso, ao capitalista Rubião.

Gabarito comentado

E
Eduardo Castro Monitor do Qconcursos

TEMA CENTRAL: Identificação do tipo de sujeito (oculto e indeterminado) em orações e análise da função sintática do pronome “lhe”.

A questão exige do candidato o reconhecimento e diferenciação dos tipos de sujeito em construções verbais, além da análise fina do funcionamento do pronome “lhe” em estruturas que são recorrentes em textos literários e dissertativos.

ALTERNATIVA CORRETA – B:

No trecho “Tinha-lhe sido apresentado em certo armazém”, observe que o sujeito da ação é oculto (ou elíptico): refere-se a alguém já mencionado no contexto (Rubião), identificado pela desinência verbal e pelo discurso anterior. Conforme Celso Cunha & Lindley Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”), o sujeito é oculto quando pode ser recuperado pelo contexto e pela flexão verbal.

Já em “Contaram-lhe ali a história do homem”, o verbo está conjugado na 3ª pessoa do plural sem referência explícita ao agente da ação — ninguém no texto é mencionado como quem “contou”. De acordo com a norma-padrão, nesse caso dizemos que o sujeito é indeterminado, pois “contaram” corresponde a “alguém contou, mas não sabemos quem”.

Estratégia para provas: Verifique se o agente é explícito, recuperável ou deliberadamente omitido. Sujeito oculto: reconhecível pelo contexto; sujeito indeterminado: não reconhecido nem anunciado.

ANÁLISE DAS ALTERNATIVAS INCORRETAS:

A) Incorreta – Ambos estão na voz passiva e ativa respectivamente, mas o foco da questão não é voz verbal, e sim o sujeito.

C) Errada – Em ambos os trechos, “lhe” funciona como objeto indireto, não como adjunto adnominal.

D) Errada – “Certo armazém” emprega “certo” como indefinido, expressando indefinição e não certeza.

E) Incorreta – “Do homem” não valoriza o substantivo nem refere-se a Rubião, e sim ao Freitas, conforme indicado pelo contexto narrativo.

Resumo da regra: Se o sujeito é recuperável pelo contexto, é oculto; se a forma verbal (3ª pessoa do plural sem referente) não permite identificar o agente, é indeterminado. (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”)

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