A respeito dos dois trechos a seguir “Tinha-lhe
sido apresentado em certo armazém” e “Contaram-lhe ali a história do homem”, assinale a alternativa
correta.
Leia atentamente o capítulo XXIX do romance
“Quincas Borba” de Machado de Assis para
responder a questão.
CAPÍTULO XXIX
RUBIÃO passou o resto da manhã alegremente.
Era domingo; dois amigos vieram almoçar com ele, um
rapaz de vinte e quatro anos, que roía as primeiras aparas
dos bens da mãe, e um homem de quarenta e quatro ou
quarenta e seis, que não tinha que roer.
Carlos Maria chamava-se o primeiro, Freitas o
segundo. Rubião gostava de ambos, mas diferentemente;não era só a idade que o ligava mais ao Freitas, era
também a índole deste homem. Freitas elogiava tudo,
saudava cada prato e cada vinho com uma frase particular,
delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos,
provando assim que os preferia a quaisquer outros. Tinhalhe sido apresentado em certo armazém da Rua Municipal,
onde jantaram uma vez juntos. Contaram-lhe ali a história
do homem, a sua boa e má fortuna, mas não entraram em
particularidades. Rubião torceu o nariz; era naturalmente
algum náufrago, cuja convivência não lhe traria nenhum
prazer pessoal nem consideração pública. Mas o Freitas
atenuou logo essa primeira impressão; era vivo,
interessante, anedótico, alegre como um homem que
tivesse cinqüenta contos de renda.
Gabarito comentado
TEMA CENTRAL: Identificação do tipo de sujeito (oculto e indeterminado) em orações e análise da função sintática do pronome “lhe”.
A questão exige do candidato o reconhecimento e diferenciação dos tipos de sujeito em construções verbais, além da análise fina do funcionamento do pronome “lhe” em estruturas que são recorrentes em textos literários e dissertativos.
ALTERNATIVA CORRETA – B:
No trecho “Tinha-lhe sido apresentado em certo armazém”, observe que o sujeito da ação é oculto (ou elíptico): refere-se a alguém já mencionado no contexto (Rubião), identificado pela desinência verbal e pelo discurso anterior. Conforme Celso Cunha & Lindley Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”), o sujeito é oculto quando pode ser recuperado pelo contexto e pela flexão verbal.
Já em “Contaram-lhe ali a história do homem”, o verbo está conjugado na 3ª pessoa do plural sem referência explícita ao agente da ação — ninguém no texto é mencionado como quem “contou”. De acordo com a norma-padrão, nesse caso dizemos que o sujeito é indeterminado, pois “contaram” corresponde a “alguém contou, mas não sabemos quem”.
Estratégia para provas: Verifique se o agente é explícito, recuperável ou deliberadamente omitido. Sujeito oculto: reconhecível pelo contexto; sujeito indeterminado: não reconhecido nem anunciado.
ANÁLISE DAS ALTERNATIVAS INCORRETAS:
A) Incorreta – Ambos estão na voz passiva e ativa respectivamente, mas o foco da questão não é voz verbal, e sim o sujeito.
C) Errada – Em ambos os trechos, “lhe” funciona como objeto indireto, não como adjunto adnominal.
D) Errada – “Certo armazém” emprega “certo” como indefinido, expressando indefinição e não certeza.
E) Incorreta – “Do homem” não valoriza o substantivo nem refere-se a Rubião, e sim ao Freitas, conforme indicado pelo contexto narrativo.
Resumo da regra: Se o sujeito é recuperável pelo contexto, é oculto; se a forma verbal (3ª pessoa do plural sem referente) não permite identificar o agente, é indeterminado. (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”)
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