Questão c2cbd073-ff
Prova:UNICENTRO 2019
Disciplina:Literatura
Assunto:Teoria Literária

Fragmento I
Esse Aires que aí aparece conserva ainda agora algumas das virtudes daquele tempo, e quase nenhum vício. Não atribuas tal estado a qualquer propósito. Nem creias que vais nisto um pouco de homenagem à modéstia da pessoa. Não, senhor, é verdade pura e natural efeito. Apesar dos quarenta anos, ou quarenta e dois, e talvez por isso mesmo, era um belo tipo de homem. Diplomata de carreira, chegara dias antes do Pacífico, com uma licença de seis meses.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó, São Paulo, FTD, 2011. p. 46.

Fragmento II
Também não creias que fosse outrora rico e adúltero, aberto de mãos, quando vinha de dizer adeus às suas amigas. Ni cet excès d´honneur, nit cette indignité. Era um pobre diabo sem mais ofício que a devoção.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó, São Paulo, FTD, 2011. p. 21.

Observando os fragmentos (I e II) destacados do romance Esaú e Jacó e considerando a totalidade da obra, pode-se afirmar:

A
No fragmento I, a intertextualidade com outro livro do autor é evidente ao fazer alusão a Aires, o diplomata. No fragmento II, há um exemplo da erudição do autor ao citar outros autores, estratégia que se repete ao longo do livro.
B
No fregmento I, o narrador apresenta uma das personagens centrais do livro, genitor dos gêmeos Pedro e Paulo. No fragmento II, vemos uma citação em francês, o que atesta a semelhança deste romance com as obras do Romantismo, época em que havia influência da literatura de Victor Hugo.
C
Ambos os fragmentos atestam o gosto de Machado de Assis pela ironia, estratégia comum em toda sua obra.
D
Os fragmentos fogem ao estilo comum na obra do autor por serem expressionistas, novidade introduzida anos antes da publicação desse livro, quando abandonou o estilo realista e adotou o Romantismo.
E
Os fragmentos confirmam a filiação do autor ao estilo romântico, anterior a sua estreia como realista, que só ocorreu anos após a publicação de Esaú e Jacó.

Gabarito comentado

P
Patricia CostaMonitor do Qconcursos

Tema central: Ironia na obra de Machado de Assis e sua função literária.

A questão exige que o candidato reconheça a presença da ironia em fragmentos de “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, relacionando esse recurso estilístico ao estilo do autor e ao Realismo brasileiro.

Ironia é uma figura de linguagem na qual se afirma algo dando a entender o contrário, muitas vezes provocando uma crítica sutil ou humor velado. Machado de Assis, em sua fase realista, utiliza a ironia como elemento fundamental para questionar valores sociais, comportamentos e expectativas das personagens.

Justificativa da alternativa correta (C):

A alternativa C está correta porque reconhece que a ironia perpassa ambos os fragmentos. Em ambos, há uma sutil inversão de expectativas e uma abordagem irônica sobre virtudes e comportamentos, marca registrada do autor. Tal traço é comentado em manuais como “Literatura Brasileira”, de Alfredo Bosi, que destaca a ironia como um diferencial machadiano, recurso usado para revelar hipocrisias e contradições sociais.

Análise das alternativas incorretas:

A: Exagera ao falar de intertextualidade evidente e erudição como aspectos centrais destes trechos. O que salta aos olhos é a ironia, não a erudição nem a intertextualidade explícita.

B: Erra ao afirmar que Aires é pai dos gêmeos – na verdade, ele é apenas um observador/narrador. Além disso, “Esaú e Jacó” pertence ao Realismo machadiano, e não ao Romantismo influenciado por Victor Hugo.

D: Comete erro ao afirmar que o texto é expressionista, além de confundir Romantismo com a fase realista do autor. O Expressionismo é movimento posterior e não se aplica aqui.

E: Incorreta por dizer que confirma filiação romântica. “Esaú e Jacó” foi publicado já em plena maturidade do Realismo machadiano.

Estratégias para provas: Nas questões de Literatura, observe sempre:

  • Palavras-chave que indicam ironia, oposição ou crítica sutil;
  • Erros factuais em informações históricas ou sobre personagens;
  • Confusões entre estilos literários (Romantismo x Realismo);
  • Generalizações ou interpretações não sustentadas pelo texto.

Dominar o conceito de ironia e identificar seu uso é primordial ao estudar Machado de Assis e o Realismo brasileiro. Referências como Alfredo Bosi e Massaud Moisés reforçam essa estratégia de leitura crítica.

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