Fragmento I
Esse Aires que aí aparece conserva ainda agora algumas
das virtudes daquele tempo, e quase nenhum vício. Não
atribuas tal estado a qualquer propósito. Nem creias que
vais nisto um pouco de homenagem à modéstia da pessoa.
Não, senhor, é verdade pura e natural efeito. Apesar dos
quarenta anos, ou quarenta e dois, e talvez por isso mesmo,
era um belo tipo de homem. Diplomata de carreira, chegara
dias antes do Pacífico, com uma licença de seis meses.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó, São Paulo, FTD, 2011. p. 46.
Fragmento II
Também não creias que fosse outrora rico e adúltero, aberto
de mãos, quando vinha de dizer adeus às suas amigas. Ni
cet excès d´honneur, nit cette indignité. Era um pobre diabo
sem mais ofício que a devoção.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó, São Paulo, FTD, 2011. p. 21.
Observando os fragmentos (I e II) destacados do romance
Esaú e Jacó e considerando a totalidade da obra, pode-se
afirmar:
Gabarito comentado
Tema central: Ironia na obra de Machado de Assis e sua função literária.
A questão exige que o candidato reconheça a presença da ironia em fragmentos de “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, relacionando esse recurso estilístico ao estilo do autor e ao Realismo brasileiro.
Ironia é uma figura de linguagem na qual se afirma algo dando a entender o contrário, muitas vezes provocando uma crítica sutil ou humor velado. Machado de Assis, em sua fase realista, utiliza a ironia como elemento fundamental para questionar valores sociais, comportamentos e expectativas das personagens.
Justificativa da alternativa correta (C):
A alternativa C está correta porque reconhece que a ironia perpassa ambos os fragmentos. Em ambos, há uma sutil inversão de expectativas e uma abordagem irônica sobre virtudes e comportamentos, marca registrada do autor. Tal traço é comentado em manuais como “Literatura Brasileira”, de Alfredo Bosi, que destaca a ironia como um diferencial machadiano, recurso usado para revelar hipocrisias e contradições sociais.
Análise das alternativas incorretas:
A: Exagera ao falar de intertextualidade evidente e erudição como aspectos centrais destes trechos. O que salta aos olhos é a ironia, não a erudição nem a intertextualidade explícita.
B: Erra ao afirmar que Aires é pai dos gêmeos – na verdade, ele é apenas um observador/narrador. Além disso, “Esaú e Jacó” pertence ao Realismo machadiano, e não ao Romantismo influenciado por Victor Hugo.
D: Comete erro ao afirmar que o texto é expressionista, além de confundir Romantismo com a fase realista do autor. O Expressionismo é movimento posterior e não se aplica aqui.
E: Incorreta por dizer que confirma filiação romântica. “Esaú e Jacó” foi publicado já em plena maturidade do Realismo machadiano.
Estratégias para provas: Nas questões de Literatura, observe sempre:
- Palavras-chave que indicam ironia, oposição ou crítica sutil;
- Erros factuais em informações históricas ou sobre personagens;
- Confusões entre estilos literários (Romantismo x Realismo);
- Generalizações ou interpretações não sustentadas pelo texto.
Dominar o conceito de ironia e identificar seu uso é primordial ao estudar Machado de Assis e o Realismo brasileiro. Referências como Alfredo Bosi e Massaud Moisés reforçam essa estratégia de leitura crítica.
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