Questão c2210bce-f2
Prova:Esamc 2018
Disciplina:História
Assunto:República de 1954 a 1964

Atente para as informações:


Chega de saudade

A realidade é que sem ela não há paz

Não há beleza

É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas se ela voltar

Que coisa linda, que coisa louca

Pois há menos peixinhos a nadar no mar

Do que os beijinhos que eu darei

Na sua boca

(Trecho da música Chega de Saudade, composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, gravada por João Gilberto em seu primeiro compacto, lançado em 1958.


Foi tudo tão intenso no Brasil daqueles 365 dias que o livro feito para contar essa história ganhou o seguinte título: “Feliz 1958 – O ano que não devia terminar”. E não terminou. O livro do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, best-seller no final da década de 1990, inspira a comédia musical “1958 – A Bossa do Mundo é Nossa!”, [...] Em 1958, João Gilberto lançou o compacto de “Chega de saudade” [...] [e] as obras da nova capital do país avançaram com rapidez no planalto central [...].

(1958 - A Bossa do Mundo é nossa.

Disponível em: http://teatroemmovimento.art.br/espetaculo/ 1958-a-bossa-do-mundo-e-nossa/. Acesso em: 14 ago. 2018, às 11h00.


O monumento não tem porta

A entrada é uma rua antiga

Estreita e torta

E no joelho uma criança

Sorridente, feia e morta

Estende a mão (Trecho da música Tropicália, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, presente no álbum Tropicália.)


O universo musical brasileiro estava saindo dos embalos da bossa nova, quando mergulhou num movimento cultural contestador e vanguardista, em plena década de 60, a Tropicália ou Tropicalismo. [...] Embora prestes a enfrentar um regime endurecido, após um golpe dentro do golpe, realizado em 1968 pela ala mais conservadora do Exército, através da promulgação do Ato Institucional número 5, o famoso AI-5, a geração dos Centros Populares de Cultura, da Arena, dos movimentos estudantis, continuava a pleno vapor no exercício de uma energia criativa que parecia inesgotável.

(SANTANA, Ana Lucia. Tropicália e Tropicalismo.

Disponível em: https://www.infoescola.com/movimentos-culturais/tropicalia-tropicalismo/.

Acesso em: 14 ago. 2018, às 11h30.)


Se no ano de 1958 o Brasil vivia uma euforia, tendo a Seleção Brasileira de Futebol, inclusive, conquistado seu primeiro título mundial na Suécia, dez anos depois a situação era bem diferente.


De acordo com as informações e tomando por base os contextos apresentados, assinale a alternativa que mais bem representa o surgimento destes movimentos culturais em cada uma das épocas.

A
A Bossa Nova surgiu em meio à euforia provocada, entre outros fatores, pelo sucesso do projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitscheck, por isto não apresenta um conteúdo crítico em seu início, ao contrário da Tropicália, surgida no auge da repressão política e ideológica do regime militar.
B
Apesar de separados por uma década, os dois movimentos apresentam um conteúdo de críticas à situação política e econômica de sua época, caracterizadas por graves crises institucionais e pelo aumento da dependência em relação aos capitais estrangeiros
C
Ao contrário da Bossa Nova, movimento iniciado por membros da elite econômica e intelectual dos anos 1950, a Tropicália, desde seu início, apresentou um caráter fundamentalmente popular, sendo grande representante dos movimentos sociais de oposição ao regime militar.
D
Tanto a Bossa Nova como a Tropicália representam o clima de euforia vigente no Brasil de sua época, uma vez que, a partir do governo de Juscelino Kubitscheck, a industrialização do país se efetivou, atingindo seu auge nos governos militares.
E
Uma das diferenças fundamentais entre os dois movimentos culturais pode ser encontrada no nível de suas críticas ao governo vigente em sua época. Enquanto a Bossa Nova procurava disfarçar seu descontentamento por meio de metáforas, a Tropicália fazia críticas explícitas.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: compreensão do contexto histórico-cultural que deu origem à Bossa Nova (final dos anos 1950) e à Tropicália (década de 1960), relacionando clima político, origem social e grau de crítica nos respectivos movimentos.

Resumo teórico conciso: A Bossa Nova surge no final dos anos 1950 num Brasil otimista: governo Juscelino Kubitschek (1956–1961), projeto desenvolvimentista e euforia simbólica (ex.: Copa de 1958). Musicalmente, privilegiou intimismo, sofisticação harmônica e temas afetivos — sem projeto político de ruptura inicial. Já a Tropicália (meados/final dos anos 1960) nasce em ambiente de repressão pós-golpe e intensificação autoritária (Ato Institucional nº 5, 1968), adotando postura contestadora, experimentação estética e crítica social explícita (Gil, Caetano, etc.).

Justificativa da alternativa A: A alternativa A situa corretamente os dois movimentos em seus contextos: a Bossa Nova ligada ao clima eufórico e ao projeto desenvolvimentista de JK, sem conteúdo crítico marcante no início; a Tropicália surge como resposta estética e política em época de crescente repressão. Fontes históricas: registros da música (João Gilberto, 1958), estudos sobre JK e desenvolvimentismo, e a recrudescência autoritária dos anos 1968–69 (AI-5).

Por que as outras alternativas estão incorretas:

B — Afirma que ambos os movimentos têm conteúdo crítico e surgem em contexto de graves crises institucionais; incorreto porque a Bossa Nova inicial não tinha caráter crítico articulado contra o regime ou a economia, e 1958 foi período de otimismo relativo.

C — Afirma que a Tropicália foi desde o início fundamentalmente popular e grande representante dos movimentos sociais; incorreto: Tropicália foi vanguardista, urbana e culturalmente experimental, não um movimento de massas organizado como movimento social popular tradicional.

D — Sustenta que ambos representam clima de euforia; incorreto porque a Tropicália nasce em clima de contestação e reação à repressão, não de celebração do desenvolvimentismo.

E — Diz que Bossa Nova “procurava disfarçar descontentamento” em metáforas enquanto Tropicália fazia críticas explícitas. Parcialmente atraente, mas equivocada ao imputar à Bossa Nova um projeto crítico velado; seu caráter inicial era mais estético/intimista do que uma crítica política cifrada.

Dica de prova: identifique rapidamente o recorte temporal e o tom (euforia vs. contestação). Se a alternativa vincula Bossa Nova a crítica política imediata, desconfie — esse vínculo é típico da Tropicália.

Principais referências: registros musicográficos (João Gilberto; Caetano Veloso; Gilberto Gil), estudos sobre JK e o desenvolvimentismo, e sobre o AI-5 (1968) e a repressão do regime militar.

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