Questão c20dba0b-c2
Prova:UNESPAR 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Leia atentamente o trecho a seguir, retirado do livro O filho eterno, de Cristovão Tezza, p. 63 e marque A ÚNICA ALTERNATIVA INCORRETA.

“Escrever: fingir que não está acontecendo nada, e escrever. Refugiado nesse silêncio, ele voltava à literatura, à maneira de antigamente. Uma roda de amigos- o retorno a tribo- e ele lê em voz alta o capítulo quatro do Ensaio da Paixão, que continua a escrever para esquecer o resto. Ler em voz alta: um ritual que jamais repetiu na vida. Naquele momento, ouvir a própria voz e rir de seus próprios achados, com a plateia exata, é um bálsamo. E ele escreve de outras coisas, não de seu filho ou de sua vida- em nenhum momento, ao longo de mais de vinte anos, a síndrome de Down entrará em seu texto. Esse é um problema seu, ele repete, não dos outros, e você terá que resolvê-lo sozinho.”
(TEZZA, Cristovão. Rio de Janeiro: Record, 2009. p.63)

A
O narrador em terceira pessoa é um recurso utilizado pelo autor que facilita o distanciamento e mantém o narrador afastado do sentimentalismo, já que o livro tem forte cunho autobiográfico;
B
Ao narrar a história do filho com síndrome de Down, CristovãoTezza abandona a ficção para construir uma autobiografia, na qual todos os fatos narrados realmente aconteceram;
C
O Filho Eterno é um romance muito premiado, reconhecido pela crítica, de modo geral, já como um clássico, embora tenha sido publicado há pouco tempo;
D
Embora a narrativa seja em terceira pessoa, o narrador, diversas vezes, parece penetrar na mente do personagem “pai”, aproximando-se da narração em primeira pessoa, embora personagem e narrador nunca se confundam;
E
O texto dialoga frequentemente com as várias artes e também há várias referências a outras obras de Tezza, como acontece no trecho selecionado.

Gabarito comentado

F
Fábio Oliveira Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de Texto e Gêneros Narrativos (autobiografia, autoficção e romance autobiográfico).

Para resolver essa questão, o candidato precisava compreender a diferença entre autobiografia (relato fiel da própria vida, segundo o pacto de verdade, como ensinam Celso Cunha & Lindley Cintra), romance autobiográfico (baseado em fatos reais, mas com liberdade criativa), e autoficção (mistura elementos da realidade e da invenção).

Justificativa da alternativa INCORRETA (B):

A alternativa B afirma: “Cristovão Tezza abandona a ficção para construir uma autobiografia, na qual todos os fatos narrados realmente aconteceram.” Isso está INCORRETO, pois “O Filho Eterno” é reconhecido como um romance autobiográfico, empregando elementos reais, mas sem compromisso com veracidade absoluta. O texto se vale de recursos ficcionais, linguagem trabalhada e distanciamento do relato pessoal puro, como destacado por Evanildo Bechara quando define os limites do texto literário e do texto autobiográfico.

Análise das alternativas CORRETAS:

  • A — O uso do narrador em terceira pessoa é estratégia para evitar o sentimentalismo e promover distanciamento, algo frequente em relatos com base autobiográfica, conforme normas da literatura.
  • C — Fato reconhecido: o romance foi multi-premiado e já é considerado clássico contemporâneo.
  • D — O narrador em terceira pessoa adota, por vezes, a perspectiva íntima do “pai”, aproximando-se da narração em primeira pessoa sem se confundir com ela, caracterizando o estilo focalizado.
  • E — O texto apresenta diálogo com outras artes e referências literárias, inclusive às próprias obras do autor, o que pode ser chamado de intertextualidade (Resende & Dias, 2006).

Pontos-chave para acertar esse tipo de questão:

  • Leia atentamente as palavras que indicam generalizações ou absolutizações indevidas (“todos os fatos realmente aconteceram”), pois são frequentes em alternativas erradas.
  • Entenda a diferença entre relato autobiográfico (compromisso com a verdade) e romance autobiográfico/autoficção (liberdade de criação).
  • Observe o modo como o narrador se comporta: se há distanciamento emocional ou envolvimento direto (dica preciosa para reconhecer recursos literários e estilísticos).

Em resumo: a alternativa B está errada porque erra ao afirmar que se trata de uma autobiografia estrita, sem elementos ficcionais.

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