Leia atentamente o fragmento I-Juca-Pirama.

Em fundos vasos d'alvacenta argila

Ferve o cauim;

Enche-se as copas, o prazer começa,

Reina o festim.

O prisioneiro, cuja morte anseia,

Sentado está,

O prisioneiro, que outro sol no ocaso

Jamais verá!

A dura corda, que lhe enlaça o colo,

Mostra-lhe o fim

Da vida escura, que será mais breve

Do que o festim!

Contudo os olhos d'ignóbil pranto

Secos estão;

Mudos os lábios não descerram queixas

Do coração.

Mais um martírio, que encobrir não pode

Em rugas faz

A mentirosa placidez do rosto

Na fronte audaz!

Que tens, guerreiro? Que temor te assalta

No passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te viram,

Folga morrendo.

Folga morrendo; porque além dos Andes

Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

Da fria morte.

GONÇALVES, Dias. Poesia e Prosa Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998, p. 380-381.

Considerando o poema como um todo e seu conhecimento sobre o Romantismo brasileiro, assinale a alternativa CORRETA.

Gabarito Comentado – Literatura – Vestibular

Tema central: O foco da questão está na representação do indígena como herói nacional e no papel do indianismo como traço marcante do Romantismo brasileiro, principalmente em sua primeira geração.

Explicação Didática:

No contexto do Romantismo brasileiro, especialmente na primeira fase, destacou-se a exaltação do indígena como forma de construir e afirmar uma identidade nacional logo após a independência. Poetas como Gonçalves Dias buscaram valorizar o nativo, erguendo-o a um patamar heroico e pintando-o com qualidades nobres, como coragem, honra, bravura e dignidade. Em “I-Juca-Pirama”, o guerreiro tupi representa esses valores de forma emblemática.

Justificativa – Alternativa Correta (E):

A alternativa E é a correta porque reconhece que “o heroísmo indígena é essencial para a geração que procurava afirmar a identidade cultural de uma nação recém-constituída”. O indianismo romântico buscava criar um herói genuinamente brasileiro, diferenciando-se dos modelos europeus e projetando valores nacionais. O fragmento reforça a dignidade e audácia do guerreiro e aborda sua aceitação consciente do destino, confirmando essa proposta literária.

Análise das alternativas incorretas:

A) Erro: O texto não opõe o índio ao homem “civilizado” nem foca no sofrimento imposto por este. O destaque é para a nobreza própria do indígena.

B) Erro: Não equipara os sentimentos do índio aos dos “civilizados”, mas ressalta sua singularidade e coragem, visando a criação do mito do herói indígena.

C) Erro: O fragmento é típico da primeira geração romântica (indianismo), e não da terceira, que aborda questões sociais e aproxima-se do Realismo.

D) Erro: Embora o guerreiro aceite a morte com bravura, o texto não sugere que ele queira ser “espectro do homem civilizado”. O elogio é às virtudes próprias indígenas.

Dica de interpretação em concursos:

Fique atento a termos geracionais (primeira geração, indianismo, questões sociais, realismo), associações indevidas (homem civilizado x indígena) e generalizações. O conhecimento sobre as escolas literárias é fundamental para não confundir objetivos e temas de cada período.

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