Observa-se a elipse (supressão) do termo “vontade” no
verso:
Aquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade,enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada.Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se de uma outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada.Ela só viu as lágrimas em fio que, de uns e de outros olhos derivadas, se acrescentaram em grande e largo rio.Ela viu as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso às almas condenadas. (Sonetos, 2001.)
(Sonetos, 2001.)
Gabarito comentado
Tema central da questão: O foco aqui é a figura de linguagem chamada elipse, relacionada à coesão textual e ao entendimento sintático das frases. Reconhecer elipse é fundamental em interpretação e análise de textos poéticos e literários, questões recorrentes em vestibulares.
Regra aplicada: Em gramática normativa, elipse é “a omissão de um termo facilmente identificado pelo contexto”. Como explica Bechara (Moderna Gramática Portuguesa): “na elipse, subentende-se o vocábulo ou oração graças à clareza do contexto sintático”. Evite confundir elipse com zeugma (quando o termo omitido já apareceu antes).
Justificativa da alternativa correta:
Letra A – “viu apartar-se de uma outra vontade,”
Neste verso, existe elipse do termo “uma vontade” logo após o verbo “viu”. O sentido completo seria: “[Ela] viu ‘uma vontade’ apartar-se de uma outra vontade”; o sujeito de “apartar-se” (uma vontade) está subentendido, pois não está explicitamente no texto. Esta omissão, facilmente percebida pelo contexto, caracteriza a elipse.
Análise das alternativas incorretas:
B) “cheia toda de mágoa e de piedade,”
Não há omissão de termos essenciais à estrutura. O verso está sintaticamente completo.
C) “quero que seja sempre celebrada.”
O sujeito implícito em “quero” (‘eu’) é um caso de sujeito elíptico, mas não de elipse por omissão de termo intermediário relevante entre verbo e complemento neste contexto. O sentido está completo.
D) “Ela só viu as lágrimas em fio”
O sujeito (“ela”) e o objeto (“as lágrimas”) estão explicitados. Não há omissão.
E) “que puderam tornar o fogo frio,”
Da mesma forma, a oração tem todos os seus elementos essenciais apresentados. Não ocorre elipse.
Orientações estratégicas: Para questões desse tipo, leia cada oração atentamente e busque identificar se há termos implícitos (mas semanticamente exigidos). Elipses são comuns em textos poéticos, mantendo o ritmo, mas nunca prejudicando o sentido. Segundo Cunha & Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), você só pode afirmar elipse se conseguir “preencher verbalmente a lacuna do enunciado sem prejuízo do contexto”.
Resumo: A alternativa correta é A, pois contém uma elipse – omissão de “vontade” após “viu”, identificável pelo contexto.
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