Questão 9a1bec73-b9
Prova:UECE 2019
Disciplina:Sociologia
Assunto:Globalização, reestruturação produtiva e mudanças recentes do trabalho, Mundo do trabalho

As novas técnicas de controle organizacional sobre os trabalhadores – chamados atualmente de “colaboradores” – são, na fase contemporânea das empresas capitalistas, menos diretas e mais sutis (ALVES e OLIVEIRA, 2011). Tais técnicas possibilitam uma sensação de maior liberdade e autonomia aos trabalhadores dentro e, mesmo, fora do ambiente laboral, mas não deixam de ser formas de manutenção do controle das empresas sobre sua mão de obra.

ALVES, D. e OLIVEIRA, S. R. de. “Controle organizacional no processo capitalista de produção” In: PICCININI, Valmíria Carolina et ali (org.). Sociologia e Administração – Relações sociais nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

Considerando essas sutis formas contemporâneas de controle organizacional, é correto afirmar que

A
a identificação do trabalhador com os valores da organização em que trabalha diminui a responsabilidade individual para o atingimento dos resultados e metas estabelecidos.
B
a manipulação de símbolos da cultura organizacional que aproximam os valores dos trabalhadores aos das empresas faz com que os funcionários sejam mais descompromissados.
C
a utilização de tecnologias da informação e comunicação, como os grupos de trabalho nos aplicativos de mensagens, são maneiras sutis de controle das organizações.
D
essas técnicas de controle sutil, que podem conceder liberdade e autonomia ao trabalhador, desestimulam a participação dos colaboradores para atingirem as metas das empresas

Gabarito comentado

S
Sofia LopezMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: técnicas contemporâneas de controle organizacional — mais sutis que a supervisão direta — que produzem a sensação de autonomia enquanto mantêm a submissão da mão de obra às metas da empresa. Compreender esse tema exige distinguir entre controle formal (regras, fiscalização direta) e controle simbólico/normativo (valores, cultura, tecnologias que estendem o trabalho).

Resumo teórico: autores como ALVES & OLIVEIRA (2011) mostram que as organizações usam identificação, manipulação cultural e TICs para internalizar metas nos trabalhadores. Foucault (Disciplina e Punir) e teóricos do controle normativo explicam como poder se exerce por auto‑vigilância; Zuboff aborda a vigilância mediada por tecnologia. As TICs (grupos de mensagem, apps corporativos) ampliam o controle ao promover disponibilidade, troca contínua de informações e pressão social entre pares.

Por que a alternativa C é correta: a utilização de tecnologias de informação e comunicação — especialmente grupos e aplicativos de mensagens — funciona como forma sutil de controle. Elas permitem monitoramento indireto, intensificam a disponibilidade do trabalhador, criam normas informais e peer pressure; tudo isso converte comportamentos em disciplina sem supervisão explícita. Logo, C descreve corretamente um mecanismo contemporâneo de controle organizacional.

Análise das alternativas incorretas:

A incorreta: afirma que a identificação com a organização diminui responsabilidade individual. Na realidade, a identificação tende a aumentar o compromisso e a responsabilidade em prol das metas (controle normativo), não a reduzi‑la.

B incorreta: a manipulação simbólica busca alinhar valores e, portanto, aumenta engajamento e compromisso, não gera descompromisso. A alternativa inverte a direção do efeito.

D incorreta: técnicas sutis que oferecem sensação de autonomia normalmente estimula a participação em metas (pois o trabalhador adere voluntariamente às normas); dizer que desestimulam é contraditório com a lógica do controle normativo.

Estratégias para a prova:

  • Atente para verbos que invertem causalidade (ex.: “diminui”, “desestimulam”) — muitas pegadinhas usam essas palavras.
  • Relacione termos: “autonomia aparente” → costuma indicar controle normativo/tecnológico.
  • Associe exemplos práticos (grupos de WhatsApp corporativos, apps de produtividade) às funções de controle: disponibilidade, monitoramento e conformidade social.

Bibliografia sugerida: ALVES & OLIVEIRA (2011); Michel Foucault, Disciplina e Punir; Shoshana Zuboff, The Age of Surveillance Capitalism.

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