Assinale o exemplo de personagem interiormente cindida e contraditória, cuja estrutura moral se esquiva a classificações muito rígidas, como a que se estabelece a partir das noções típicas de bem e mal.
Gabarito comentado
Alternativa correta: B — Brás Cubas
Tema central: identificação de personagem interiormente cindida e contraditória — ou seja, figura que reúne traços opostos, não se reduz a rótulos simples de “bom” ou “mau”. Exige conhecimento de caracterização psicológica na literatura e do perfil de personagens em obras-canônicas.
Resumo teórico: personagens interiormente cindidos aparecem na tradição realista e especialmente em textos com ironização do narrador e foco na subjetividade. São anti-heróis que alternam lucidez e autopiedade, candidamente confessam falhas e se contradizem — característica marcante do modernismo/proto‑modernismo de Machado de Assis. Fontes recomendadas: Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1881); críticos como Antônio Candido (Formação da Literatura Brasileira) e estudos sobre ironia machadiana.
Justificativa da alternativa correta: Brás Cubas é narrador-protagonista com voz irônica, autoexame e contradições explícitas — ora remorso, ora cinismo; mistura lucidez e vaidade; assume atitudes moralmente ambíguas e comenta-as com distância. Sua estrutura moral foge a um binarismo, fazendo dele exemplo claro de personagem cindido e contraditório.
Análise das alternativas incorretas:
A — Chicó: personagem cômico de Ariano Suassuna (O Auto da Compadecida), tipo popular e arquetípico (o covarde/mentiroso exagerado). É caricatura e função cômica, não o estudo psicológico profundo pedido.
C — João Romão: protagonista de O Cortiço (Aluísio Azevedo). Representa o determinismo naturalista — ambição e exploração sociais muito marcantes, mas caracterização tende ao tipo social e ao determinismo, não à ambivalência psicológica introspectiva típica de Brás Cubas.
D — Brísida Vaz: figura secundária/típica em sua obra (não é exemplo clássico de protagonista interiormente dividido). Não reúne a consciência crítica e a ironia narrativa exigidas pelo enunciado.
E — Rita Baiana: personagem ligada à sensualidade/recordação do narrador (aparece em textos como elemento de desejo). É figura mais objetificada do que sujeito psicológico complexo e contraditório.
Dica de prova: ao ver “cindida/contraditória” procure por narrador/autorretrato com ironia, autocrítica e ambivalência moral — autores como Machado de Assis são apostas seguras. Exclua tipos caricatos, arquetípicos ou naturalistas bem “rotulados”.
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