Questão 963e70b8-7f
Prova:ENEM 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos
Palavras jogadas fora
Quando criança, convivia no interior de São Paulo
com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá
esporadicamente. O sentido da palavra é o de “jogar fora"
(pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora" (pincha
esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras
que ouvi menos na capital do estado e, por conseguinte,
deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem
esse verbo, comumente escuto respostas como “minha
avó fala isso". Aparentemente, para muitos falantes, esse
verbo é algo do passado, que deixará de existir tão logo
essa geração antiga morrer.
As palavras são, em sua grande maioria, resultados
de uma tradição: elas já estavam lá antes de nascermos.
“Tradição", etimologicamente, é o ato de entregar, de
passar adiante, de transmitir (sobretudo valores culturais).
O rompimento da tradição de uma palavra equivale à sua
extinção. A gramática normativa muitas vezes colabora
criando preconceitos, mas o fator mais forte que motiva
os falantes a extinguirem uma palavra é associar a
palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão normativa, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar,
associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade
e refinamento citadino, está fadado à extinção?
É louvável que nos preocupemos com a extinção
de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a
extinção de uma palavra não promove nenhuma comoção,
como não nos comovemos com a extinção de insetos, a
não ser dos extraordinariamente belos. Pelo contrário,
muitas vezes a extinção das palavras é incentivada.
VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n. 77, mar. 2012 (adaptado).
A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo
“pinchar" nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus
usos, a partir da qual compreende-se que
Palavras jogadas fora
Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O sentido da palavra é o de “jogar fora" (pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora" (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras que ouvi menos na capital do estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso". Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é algo do passado, que deixará de existir tão logo essa geração antiga morrer.
As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de nascermos. “Tradição", etimologicamente, é o ato de entregar, de passar adiante, de transmitir (sobretudo valores culturais). O rompimento da tradição de uma palavra equivale à sua extinção. A gramática normativa muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator mais forte que motiva os falantes a extinguirem uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão normativa, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado à extinção?
É louvável que nos preocupemos com a extinção de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a extinção de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não nos comovemos com a extinção de insetos, a não ser dos extraordinariamente belos. Pelo contrário, muitas vezes a extinção das palavras é incentivada.
VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n. 77, mar. 2012 (adaptado).
A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar" nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus usos, a partir da qual compreende-se que
Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O sentido da palavra é o de “jogar fora" (pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora" (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras que ouvi menos na capital do estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso". Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é algo do passado, que deixará de existir tão logo essa geração antiga morrer.
As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de nascermos. “Tradição", etimologicamente, é o ato de entregar, de passar adiante, de transmitir (sobretudo valores culturais). O rompimento da tradição de uma palavra equivale à sua extinção. A gramática normativa muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator mais forte que motiva os falantes a extinguirem uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão normativa, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado à extinção?
É louvável que nos preocupemos com a extinção de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a extinção de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não nos comovemos com a extinção de insetos, a não ser dos extraordinariamente belos. Pelo contrário, muitas vezes a extinção das palavras é incentivada.
VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n. 77, mar. 2012 (adaptado).
A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar" nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus usos, a partir da qual compreende-se que
A
as palavras esquecidas pelos falantes devem ser
descartadas dos dicionários, conforme sugere o título.
B
o cuidado com espécies animais em extinção é mais
urgente do que a preservação de palavras.
C
o abandono de determinados vocábulos está associado
a preconceitos socioculturais.
D
as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário
de uma língua.
E
o mundo contemporâneo exige a inovação do vocabulário
das línguas.
Gabarito comentado

Isabel VegaMestra em Letras na UFRJ, Coordenadora e Professora Aposentada de Português do Colégio Pedro II-RJ