Questão 91ab827f-af
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Nenhum poema é necessariamente um bom poema; nenhum
texto é necessariamente um bom poema; logo, nenhuma letra é
necessariamente um bom poema.
O advérbio necessariamente, nas três ocorrências verificadas na
passagem mencionada, equivale, pelo sentido, a:
Nenhum poema é necessariamente um bom poema; nenhum
texto é necessariamente um bom poema; logo, nenhuma letra é
necessariamente um bom poema.
O advérbio necessariamente, nas três ocorrências verificadas na
passagem mencionada, equivale, pelo sentido, a:
Instrução: A questão toma por base
um fragmento da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio
Cicero.
Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente
perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A
expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão
deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O
que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um
poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas
na página e diz que é um poema, quem provará o contrário? Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é
um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda
não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas
coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente
um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um
bom poema. Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma
resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo,
nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o
que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um
bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de
canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois
considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento
musical? Não é difícil entender a razão disso.
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim
em si próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a
considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um
poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando
é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural. Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o
seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário
e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de
que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja
ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar,
para adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia,
do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada.
(Folha de S.Paulo, 16.06.2007.)
Instrução: A questão toma por base
um fragmento da crônica Letra de canção e poesia, de Antonio
Cicero.
Como escrevo poemas e letras de canções, frequentemente
perguntam-me se acho que as letras de canções são poemas. A
expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão
deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O
que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um
poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas
na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é
um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda
não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas
coisas distintas: 1) Se uma letra de canção é necessariamente
um bom poema; e 2) Se uma letra de canção é possivelmente um
bom poema.
Quanto à primeira pergunta, é evidente que deve ter uma
resposta negativa. Nenhum poema é necessariamente um bom
poema; nenhum texto é necessariamente um bom poema; logo,
nenhuma letra é necessariamente um bom poema. Mas talvez o
que se deva perguntar é se uma boa letra é necessariamente um
bom poema. Ora, também a essa pergunta a resposta é negativa. Quem já não teve a experiência, em relação a uma letra de
canção, de se emocionar com ela ao escutá-la cantada e depois
considerá-la insípida, ao lê-la no papel, sem acompanhamento
musical? Não é difícil entender a razão disso.
Um poema é um objeto autotélico, isto é, ele tem o seu fim
em si próprio. Quando o julgamos bom ou ruim, estamos a
considerá-lo independentemente do fato de que, além de ser um
poema, ele tenha qualquer utilidade. O poema se realiza quando
é lido: e ele pode ser lido em voz baixa, interna, aural.
Já uma letra de canção é heterotélica, isto é, ela não tem o
seu fim em si própria. Para que a julguemos boa, é necessário
e suficiente que ela contribua para que a obra lítero-musical de
que faz parte seja boa. Em outras palavras, se uma letra de canção servir para fazer uma boa canção, ela é boa, ainda que seja
ilegível. E a letra pode ser ilegível porque, para se estruturar,
para adquirir determinado colorido, para ter os sons ou as palavras certas enfatizadas, ela depende da melodia, da harmonia,
do ritmo, do tom da música à qual se encontra associada.
(Folha de S.Paulo, 16.06.2007.)
A
forçosamente.
B
raramente.
C
suficientemente.
D
independentemente.
E
frequentemente.