Questão 90c190d6-6e
Prova:INSPER 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Leia o poema de João Cabral de Melo Neto.


         A Educação pela Pedra


Uma educação pela pedra: por lições;

para aprender da pedra, frequentá-la;

captar sua voz inenfática, impessoal

(pela dicção ela começa as aulas).

A lição de moral, sua resistência fria

ao que flui e a fluir, a ser maleada;

a de poética, sua carnadura concreta;

a de economia, seu adensar-se compacta:

lições de pedra (de fora para dentro,

cartilha muda), para quem soletrá-la.


Outra educação pela pedra: no Sertão

(de dentro para fora, e pré-didática).

No Sertão a pedra não sabe lecionar,

e se lecionasse, não ensinaria nada;

lá não se aprende a pedra: lá a pedra,

uma pedra de nascença, entranha a alma.


(João Cabral de Melo Neto, Poesias Completas)


Massaud Moisés, em A literatura brasileira através dos textos (2004), afirma que há na poesia de João Cabral de Melo Neto uma ideia geral de despoetização do poema. Essa afirmação se justifica com o poema lido na medida em que nele se identifica

A
o exercício lúdico com as palavras, tal como expresso no verso “(de dentro para fora, e pré-didática)”.
B
a visão idílica do mundo, tal como expresso no verso “No Sertão a pedra não sabe lecionar”.
C
a contenção sentimental, tal como expresso no verso “captar sua voz inenfática, impessoal.”
D
a contestação do fazer poético, tal como expresso no verso “a de poética, sua carnadura concreta”.
E
a representação poética pelo viés do espiritualismo, tal como expresso no verso “uma pedra de nascença, entranha a alma”.

Gabarito comentado

I
Isadora CostaMonitor do Qconcursos

TEMA CENTRAL: Esta questão avalia interpretação de texto poético com foco em características da obra de João Cabral de Melo Neto, especialmente a ideia de despoetização — ou seja, a opção por uma linguagem contida, objetiva e pouco sentimental.

JUSTIFICATIVA DA ALTERNATIVA CORRETA (C):

A alternativa C (“a contenção sentimental, tal como expresso no verso ‘captar sua voz inenfática, impessoal.’”) está certa porque evidencia dois traços centrais na poesia cabralina:
"voz inenfática": ausência de expressividade exaltada, sem emoção exagerada;
"impessoal": distanciamento do eu-autor, foco no objeto (pedra).
Segundo os estudos clássicos, como Evanildo Bechara e Massaud Moisés, João Cabral buscava “uma poética da objetividade”, evitando o sentimentalismo. O poema valoriza a pedra pela sua concretude e lição seca, não pelo viés lírico.

ANÁLISE DAS ALTERNATIVAS ERRADAS:

A) Não há “exercício lúdico” com palavras. A linguagem utilizada é sóbria e analítica, sem brincar com sons ou significados.

B) “Visão idílica” se refere a embelezamento da realidade. O poema apresenta o Sertão e a pedra de modo seco, duro e concreto — tudo oposto ao idílio poético tradicional.

D) O verso citado reforça o valor da “carnadura concreta” na poesia, não uma contestação da poesia em si, mas, sim, uma afirmação de outro modo de poeticidade.

E) O poema não adota perspectiva espiritualista — “pedra de nascença, entranha a alma” significa “a dureza” incorporada a quem vive no Sertão, e não um elemento metafísico ou espiritual.

COMO EVITAR PEGADINHAS EM INTERPRETAÇÃO POÉTICA:

Leia atentamente palavras-chave: “impessoal”, “inenfática” e expressões que remetem ao tom racional. No poema de João Cabral, busque sempre o sentido de contenção da emoção e concretude. Quando o enunciado mencionar despoetização, recorde-se que isso é afastar sentimento e excessos do texto.

REGRA RESUMIDA: Pela norma-padrão e pelas grandes gramáticas (Bechara, Rocha Lima), interpretação exige priorizar o sentido explícito das palavras, evitando projeções subjetivas não sustentadas pelo texto.

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