Questão 90af96f3-6e
Prova:INSPER 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Ao analisar a condição de Amaro, o narrador destaca

Leia o texto para responder a questão.


    A disciplina militar, com todos os seus excessos, não se comparava ao penoso trabalho da fazenda, ao regímen terrível do tronco e do chicote. Havia muita diferença... Ali ao menos, na fortaleza, ele tinha sua maca, seu travesseiro, sua roupa limpa, e comia bem, a fartar, como qualquer pessoa, hoje boa carne cozida, amanhã suculenta feijoada, e, às sextas-feiras, um bacalhauzinho com pimenta e “sangue de Cristo”... Para que vida melhor? Depois, a liberdade, minha gente, só a liberdade valia por tudo! Ali não se olhava a cor ou a raça do marinheiro: todos eram iguais, tinham as mesmas regalias – o mesmo serviço, a mesma folga. – “E quando a gente se faz estimar pelos superiores, quando não se tem inimigos, então é um viver abençoado esse: ninguém pensa no dia d’amanhã!”

    Amaro soube ganhar logo a afeição dos oficiais. Não podiam eles, a princípio, conter o riso diante daquela figura de recruta alheio às praxes militares, rude como um selvagem, provocando a cada passo gargalhadas irresistíveis com seus modos ingênuos de tabaréu; mas, no fim de alguns meses, todos eram de parecer que “o negro dava para gente”. Amaro já sabia manejar uma espingarda segundo as regras do ofício, e não era lá nenhum botocudo em artilharia; criara fama de “patesca”.

    Nunca, durante esse primeiro ano de aprendizagem, merecera a pena de um castigo disciplinar: seu caráter era tão meigo que os próprios oficiais começaram a tratá-lo por Bom-Crioulo.


(Adolfo Caminha, Bom-Crioulo)


Vocabulário:

Tabaréu: soldado inexperiente, ingênuo

•  Botocudo: rude, de modos simples

•  Patesca: marinheiro que vive à bordo, é eficiente e tem grande amor à profissão

A
seu caráter dissimulado, com atitudes que visam agradar aos seus superiores como forma de garantir uma vida confortável e, sobretudo, despertando a admiração, como mostra a frase “começaram a tratá-lo por Bom-Crioulo."
B
sua submissão, seja com o senhor da fazenda, seja com os oficiais, que, além de explorarem sua força de trabalho sem reconhecimento, ainda zombam dele, como se vê no trecho “Não podiam eles, a princípio, conter o riso diante daquela figura”.
C
sua condição anterior de escravo, por meio da qual se denuncia o regime opressivo da escravidão, cujo caráter discriminatório é possível de se ver nas considerações dos oficiais, quando afirmam que “o negro dava para gente”.
D
seu desinteresse pelas questões emergenciais do povo negro, uma vez que ele está mais preocupado com suas necessidades pessoais e imediatas, como comer e não ter preocupações, como afirma em “Para que vida melhor?”.
E
sua saudade da vida na fazenda, ainda que difícil, mas que representava a forma como o povo negro se impunha em relação à força opressora que o subjugava, como se vê na passagem “ao regímen terrível do tronco e do chicote.”

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