Ao analisar a condição de Amaro, o narrador destaca
Leia o texto para responder a questão.
A disciplina militar, com todos os seus excessos, não se
comparava ao penoso trabalho da fazenda, ao regímen terrível
do tronco e do chicote. Havia muita diferença... Ali ao menos, na
fortaleza, ele tinha sua maca, seu travesseiro, sua roupa limpa,
e comia bem, a fartar, como qualquer pessoa, hoje boa carne
cozida, amanhã suculenta feijoada, e, às sextas-feiras, um bacalhauzinho
com pimenta e “sangue de Cristo”... Para que vida
melhor? Depois, a liberdade, minha gente, só a liberdade valia
por tudo! Ali não se olhava a cor ou a raça do marinheiro: todos
eram iguais, tinham as mesmas regalias – o mesmo serviço, a
mesma folga. – “E quando a gente se faz estimar pelos superiores,
quando não se tem inimigos, então é um viver abençoado
esse: ninguém pensa no dia d’amanhã!”
Amaro soube ganhar logo a afeição dos oficiais. Não podiam
eles, a princípio, conter o riso diante daquela figura de recruta
alheio às praxes militares, rude como um selvagem, provocando
a cada passo gargalhadas irresistíveis com seus modos ingênuos
de tabaréu; mas, no fim de alguns meses, todos eram de
parecer que “o negro dava para gente”. Amaro já sabia manejar
uma espingarda segundo as regras do ofício, e não era lá
nenhum botocudo em artilharia; criara fama de “patesca”.
Nunca, durante esse primeiro ano de aprendizagem, merecera
a pena de um castigo disciplinar: seu caráter era tão meigo
que os próprios oficiais começaram a tratá-lo por Bom-Crioulo.
(Adolfo Caminha, Bom-Crioulo)
Vocabulário:
• Tabaréu: soldado inexperiente, ingênuo
• Botocudo: rude, de modos simples
• Patesca: marinheiro que vive à bordo, é eficiente e tem grande amor
à profissão
Leia o texto para responder a questão.
A disciplina militar, com todos os seus excessos, não se comparava ao penoso trabalho da fazenda, ao regímen terrível do tronco e do chicote. Havia muita diferença... Ali ao menos, na fortaleza, ele tinha sua maca, seu travesseiro, sua roupa limpa, e comia bem, a fartar, como qualquer pessoa, hoje boa carne cozida, amanhã suculenta feijoada, e, às sextas-feiras, um bacalhauzinho com pimenta e “sangue de Cristo”... Para que vida melhor? Depois, a liberdade, minha gente, só a liberdade valia por tudo! Ali não se olhava a cor ou a raça do marinheiro: todos eram iguais, tinham as mesmas regalias – o mesmo serviço, a mesma folga. – “E quando a gente se faz estimar pelos superiores, quando não se tem inimigos, então é um viver abençoado esse: ninguém pensa no dia d’amanhã!”
Amaro soube ganhar logo a afeição dos oficiais. Não podiam eles, a princípio, conter o riso diante daquela figura de recruta alheio às praxes militares, rude como um selvagem, provocando a cada passo gargalhadas irresistíveis com seus modos ingênuos de tabaréu; mas, no fim de alguns meses, todos eram de parecer que “o negro dava para gente”. Amaro já sabia manejar uma espingarda segundo as regras do ofício, e não era lá nenhum botocudo em artilharia; criara fama de “patesca”.
Nunca, durante esse primeiro ano de aprendizagem, merecera a pena de um castigo disciplinar: seu caráter era tão meigo que os próprios oficiais começaram a tratá-lo por Bom-Crioulo.
(Adolfo Caminha, Bom-Crioulo)
Vocabulário:
• Tabaréu: soldado inexperiente, ingênuo
• Botocudo: rude, de modos simples
• Patesca: marinheiro que vive à bordo, é eficiente e tem grande amor
à profissão
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto. A compreensão desse tipo de questão exige identificar o sentido explícito e implícito das informações, reconhecendo a ideia principal e as nuances do texto.
Justificativa da Alternativa Correta (C):
A alternativa C é a correta porque destaca a condição anterior de Amaro como escravo e a denúncia do regime opressivo da escravidão. O trecho “ao regímen terrível do tronco e do chicote” ilustra a crueldade vivida por Amaro na fazenda. Já a expressão “o negro dava para gente” traz à tona o preconceito e a desumanização, revelando que era preciso “provar-se” para alcançar certa aceitação. Essas marcas linguísticas apontam para o caráter discriminatório da sociedade narrada.
Pela norma-padrão e segundo Koch e Elias (2012), identificar conotações ou subentendidos é fundamental em questões interpretativas.
Análise das Alternativas Incorretas:
A) Fala-se em caráter dissimulado de Amaro, mas o texto relata sua sinceridade e meiguice, afastando qualquer ideia de falsidade. Cuidado: Pegadinha que tenta confundir sinceridade e adaptação com dissimulação.
B) Sugere submissão e exploração contínua, porém o texto evolui: Amaro é acolhido e reconhecido por suas qualidades. O riso inicial dos oficiais cede à consideração. Atenção à mudança no tratamento dispensado a Amaro.
D) Não há elementos textuais suficientes para afirmar desinteresse por causas do povo negro, pois o foco do trecho é o contraste entre a opressão anterior e a nova condição mais digna.
E) O texto recusa a ideia de saudade: Amaro compara negativamente a fazenda e valoriza as melhorias na fortaleza. Pegadinha de leitura superficial.
Estratégias de Prova:
Busque palavras-chave que revelem sentimento, julgamento ou oposição. Compare sempre as alternativas ao texto, fugindo de interpretações “fora do texto”.
Segundo Bechara (2009), analisar a progressão dos fatos no texto é essencial para entender a verdadeira posição do personagem.
Resumo: A alternativa correta interpreta fielmente o sofrimento anterior de Amaro e a crítica social implícita no texto, habilidades essenciais em provas de vestibular e concursos públicos.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






