Nos versos em que aparece, a frase “– Eh, carvoero!” denota
uso
Leia o poema para responder a questão.
Meninos carvoeiros
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
– Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe,[dobrando-se com um gemido.)
– Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
–
Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimáriasApostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
[desamparados!
(Manuel Bandeira, Estrela da vida inteira, 1993)
Vocabulário:
• Relho: chicote
• Aniagem: tecido grosseiro usado na confecção de sacos e fardos
• Encarapitados: postos no alto
• Alimárias: bestas de carga
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto com foco em variedades linguísticas e marcas socioculturais na linguagem. Esta questão exige compreender o efeito de sentido produzido pelo uso de uma expressão popular e como ela revela relações sociais no poema.
Justificativa para a alternativa correta (A):
A expressão “– Eh, carvoero!” é uma forma popular, representando o jeito de falar das classes populares. De acordo com Cunha & Cintra, isso caracteriza a variedade linguística usada no cotidiano e evidencia relações sociais (Nova Gramática do Português Contemporâneo). O eu lírico observa os meninos carvoeiros de fora, empregando a expressão para ressaltar a diferença de condições sociais entre ele (observador) e eles (trabalhadores infantis). Assim, marca-se uma relação assimétrica de condição social no poema, tornando a alternativa A a única plenamente adequada.
Análise das alternativas incorretas:
B) A alternativa fala em “sobriedade” e distanciamento, mas a expressão usada é popular, não formal, contrariando a escolha do autor.
C) Sugere ser uma variedade infantil e entusiasmada. No texto, porém, não é a fala das crianças, e sim uma interjeição que marca a visão do eu lírico, mostrando o olhar de alguém externo ao grupo.
D) Aponta uso de “linguagem formal” e afastamento. O poema faz justamente o oposto, utilizando linguagem popular para aproximar-se do universo retratado, ainda que preserve a distância social.
E) Refere-se a interação social direta entre eu lírico, velhinha e meninos. O termo, apesar de coloquial, serve mais para marcar a observação do poeta, não um diálogo ou interação entre personagens.
Estratégia de prova: Atente-se ao registro de linguagem! Expressões de fala popular em poemas geralmente comunicam mais do que o mero ambiente, sinalizando relação social, aproximação ou distância, e marcas de classe. O emprego de linguagem formal ou informal é um dos recursos que o autor utiliza para revelar o ponto de vista do eu lírico e a posição dos personagens.
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