Considere as seguintes afirmações:
I – O sujeito de “rega” (terceiro verso da segunda estrofe) é “o sangue das mães”.II – A palavra “ais” (quinto verso da última estrofe) é uma interjeição empregada em função de substantivo.III – As formas verbais “Vibrai” e “Fazei” (quinto e sexto versos da penúltima estrofe) são formas da segunda pessoa do singular do imperativo.IV – O sujeito de “Diz” (quarto verso da penúltima estrofe) é “o mar”.
Texto para a questão.
Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!”
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual num sonho dantesco as sombras voam!
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
ALVES, Castro. Navio Negreiro. Editora Virtual Books Online M&M Editores
Ltda: 2000. (Canto IV)
Gabarito comentado
Gabarito comentado:
Tema central: Morfologia (análise das classes de palavras, flexão e formas verbais) e análise sintática (identificação do sujeito e análise do termo desempenhado em versos poéticos).
A alternativa correta é a B) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
I – Certa. O verbo “rega” tem como sujeito o termo “o sangue das mães”. A estrutura da oração segue a regra: Sujeito + Verbo + Objeto Direto. Segundo Cunha & Cintra, o núcleo do sujeito é quem pratica a ação verbal (“o sangue rega as bocas…”).
II – Certa. O vocábulo “ais” (plural de ai, interjeição de dor) aparece usado como substantivo. Conforme Evanildo Bechara, toda interjeição pode ser substantivada e flexionada (“os ais do sofrimento” = “os lamentos”). No verso, “gritos, ais, maldições, preces ressoam!”, “ais” funciona como núcleo de um sujeito composto.
III – Errada. “Vibrai” e “Fazei” estão no imperativo afirmativo da segunda pessoa do plural (vós), e não do singular. O imperativo para tu seria “vibra”, “faz”. Assim, a alternativa traz um erro de pessoa verbal.
IV – Errada. “Diz do fumo entre os densos nevoeiros:” tem como sujeito “o capitão”, não “o mar”. Analisando o trecho: “No entanto o capitão manda ... e após fitando o céu ... Diz do fumo...”, percebe-se claro encadeamento sintático. O sujeito oculto (o capitão) é mantido por elipse – fenômeno frequente em textos literários e poéticos.
Pegadinhas e dicas:
Preste atenção em:
- Flexão verbal: Imperativo para “vós” termina em -ai/-ei.
- Função sintática: Sujeito nem sempre está explícito; busque anteriores referenciais.
- Substantivação de interjeições: muito comum em poesias (“ais”, “ui”, “suspiros”).
- Interpretação: Nunca isole versos; leia o entorno e observe elipses e anáforas.
Referências: Cunha & Cintra (sintaxe), Bechara (morfologia e emprego de interjeições).
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