A ideia do narrador de que ele e “o povo” eram “dous rapazes” está ligada ao fato de Brás Cubas ser jovem e
No fragmento a seguir, extraído do capítulo XIV das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador
conta como ele conheceu Marcela, que viria a ser o primeiro amor de sua vida.
Via-a, pela primeira vez, no Rossio Grande, na noite das luminárias, logo que constou a declaração da
independência, uma festa de primavera, um amanhecer da alma pública. Éramos dous rapazes, o povo e eu; vínhamos da infância, com todos os arrebatamentos da juventude. Via-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma coisa que nunca achara nas mulheres puras. – Segue-me, disse ela ao pajem. E eu seguia-a, tão pajem como o outro,
como se a ordem me fosse dada, deixei-me ir namorado, vibrante, cheio das primeiras auroras. A meio caminho, chamaram-lhe “linda Marcela", lembrou-me que ouvira tal nome a meu tio João, e fiquei, confesso que fiquei tonto. (...)
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
conta como ele conheceu Marcela, que viria a ser o primeiro amor de sua vida.
Via-a, pela primeira vez, no Rossio Grande, na noite das luminárias, logo que constou a declaração da
independência, uma festa de primavera, um amanhecer da alma pública. Éramos dous rapazes, o povo e eu; vínhamos da infância, com todos os arrebatamentos da juventude. Via-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma coisa que nunca achara nas mulheres puras. – Segue-me, disse ela ao pajem. E eu seguia-a, tão pajem como o outro,
como se a ordem me fosse dada, deixei-me ir namorado, vibrante, cheio das primeiras auroras. A meio caminho, chamaram-lhe “linda Marcela", lembrou-me que ouvira tal nome a meu tio João, e fiquei, confesso que fiquei tonto. (...)
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
1. Tema central
A questão exige relacionar um recurso de linguagem do narrador (“éramos dous rapazes, o povo e eu”) ao contexto histórico-literário: a imagem indica a juventude da nação após a declaração de independência — isto é, o início da fase nacional da história brasileira.
2. Resumo teórico
Na literatura, imagens como “amanhecer da alma pública” e personificações do “povo” como jovem são recursos retóricos que concretizam processos históricos: aqui, simbolizam a formação de uma identidade nacional pós-1822. Em Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas) há constante ironia, mas também evocação do contexto histórico que ilumina sentidos do texto (ver: Machado de Assis; síntese em Massaud Moisés, História da Literatura Brasileira).
3. Justificativa da alternativa C
A expressão compara o narrador à recém-nascida nação: ambos “vindos da infância”, cheios de “arrebatamentos da juventude”. Isso aponta para o início da fase nacional do país — a construção de uma consciência pública e cultural após a independência política. Portanto, C é a leitura correta e coerente com o trecho.
4. Por que as outras alternativas estão erradas
A — Fala da abolição da escravidão (1888): cronologia e tema diferentes; o texto alude à independência (1822), não à abolição.
B — “Independência econômica da Inglaterra”: impreciso e não mencionado; a metáfora do trecho é política/cultural, não econômica.
D — “Independência ter ocorrido precocemente”: afirmação sem suporte no texto; o narrador não comenta sobre ser precoce, mas sobre o nascimento da vida pública.
E — “Portugal querer desligamento”: absurdo interpretativo — a frase trata da experiência coletiva brasileira, não de uma vontade metropolitana.
5. Estratégia para resolver questões assim
- Identifique palavras-chave históricas no enunciado: “independência”, “amanhecer”, “povo”.
- Traduza figuras de linguagem em sentidos históricos (ex.: amanhecer = início/constituição).
- Relacione cronologia: que evento histórico o texto indica? (Independência = início do processo nacional.)
Fontes para consulta: Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas; Massaud Moisés, História da Literatura Brasileira; sínteses de História do Brasil sobre 1822.
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