TEXTO 04
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. [...]
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 100. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 9-10)
No Brasil, o critério de temperatura revela a presença de dois vastos conjuntos climáticos, os climas
quentes e os mesotérmicos. A atuação das massas de ar
e as precipitações permitem distinguir diversos tipos
climáticos, dentre eles o clima semiárido, em cujas manifestações o autor do texto 04 se baseia para o desenvolvimento de sua narrativa. Sobre esse clima, assinale a
alternativa correta:
TEXTO 04
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. [...]
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 100. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 9-10)
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: clima semiárido brasileiro — sua definição, causas e distribuição. Para resolver a questão é preciso entender que os climas resultam da interação de massas de ar, sistema de circulação (ITCZ, Alta do Atlântico), posição continental e variabilidade interanual (El Niño/La Niña).
Resumo teórico: O clima semiárido caracteriza‑se por baixa pluviosidade anual (geralmente entre ~300–800 mm, com áreas mais secas abaixo de 400 mm), alto índice de variabilidade das chuvas e longos períodos secos. Não há uma única causa isolada: é produto da interação entre a Zona de Convergência Intertropical (ITCZ), a Alta Subtropical do Atlântico Sul (que inibe convecção), a continentalidade e anomalias de SST e ENSO. Fontes: IBGE, INMET, Atlas do Clima do Nordeste (ANA).
Por que A está correta: A alternativa reconhece que não existe uma explicação única e "cabal" para a formação da vasta mancha semiárida e que o fenômeno está ligado ao comportamento diferenciado das massas de ar. Essa afirmação é coerente com a literatura climatológica: o semiárido resulta da combinação de fatores dinâmicos (movimento das massas de ar e sistemas como a Alta do Atlântico e a ITCZ) e térmicos, não de uma única causa isolada.
Análise das alternativas incorretas:
B — Errada. A massa equatorial continental (mEc) é associada a ar quente e úmido no interior da Amazônia e tende a favorecer chuvas, não a prolongar estiagens. O semiárido do Nordeste decorre, em parte, da fraca atuação das massas úmidas e da influência de sistemas que inibem precipitação.
C — Errada. O semiárido não ocorre em estreita faixa litorânea protegida pela Serra do Mar. Pelo contrário, trata‑se de região interiorana (sertão nordestino, parte do norte de Minas e do oeste da Bahia). A descrição da alternativa mistura conceitos de sombra orográfica que não explicam a mancha semiárida brasileira.
D — Errada. A localização citada (entre RN e Pernambuco, vertente oriental do Planalto da Borborema) está parcialmente equivocada: a Borborema é apenas um elemento regional do Nordeste; as áreas mais secas se estendem mais amplamente (Polígono das Secas). Além disso, afirmar "estiagem de 11 meses" e "pouco mais de 300 mm" generaliza em excesso — embora haja locais muito secos, o padrão médio é variável e não tão extremo para toda a faixa mencionada.
Dica de interpretação: ao ler alternativas, busque inconsistências com a dinâmica atmosférica conhecida (quem traz chuva vs. quem provoca seca) e evite respostas que generalizem extremos para toda a área.
Referências sugeridas: IBGE (Atlas Climático), INMET, publicações sobre clima do Nordeste (ANA).
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