— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é...
filho de uma escrava.
— Eu?
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta
é a verdade...
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim
de um silêncio:
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei
Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher
sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela
é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma
asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor
porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os
mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além
do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que
fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco
de lei, português ou descendente direto de portugueses!
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008.
Influenciada pelo ideário cientificista do Naturalismo,
a obra destaca o modo como o mulato era visto pela
sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel
traduz uma concepção em que a
— Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é... filho de uma escrava.
— Eu?
— O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade...
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio:
— Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008.
Influenciada pelo ideário cientificista do Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a