Questão 76156804-ab
Prova:INSPER 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Nesse fragmento, revelam-se etapas do método científico de investigação. Para convencer o leitor de que, de fato, esse texto está no universo do discurso científico, são usadas várias estratégias argumentativas, entre as quais se pode citar

As criadoras do passômetro

As formigas Cataglyphis sempre sabem onde estão. Quando saem para se alimentar, caminham em zigue-
zague, distanciando-se do formigueiro. Ao encontrarem alimento, dão meia-volta, se orientam na direção da entrada
do formigueiro e voltam ao seu buraco em linha reta. Isso significa que elas sabiam exatamente onde estavam. Nós
também somos capazes dessa proeza, mas só se estivermos aparelhados com mapa e bússola. Sem eles, a única
maneira de voltarmos ao local de onde partimos é percorrendo o mesmo caminho, fazendo o mesmo zigue-zague da
ida. Ainda assim, é preciso que nos lembremos do caminho ou que tenhamos deixado marcas de orientação.
Visto que as formigas só saem à noite e numa paisagem onde não há informações visuais, de que forma elas
se orientam era um mistério. Há alguns anos se descobriu que as formigas são capazes de determinar a direção em
que caminham recorrendo à imagem das estrelas, informação, porém, insuficiente, pois elas precisam saber a
distância que percorreram em cada direção. Conhecendo cada direção do zigue-zague e quantos metros caminharam
em cada uma dessas direções, elas poderiam calcular sua localização exata. Se fosse esse o caso, então as formigas
deveriam ter um meio de medir distâncias, uma espécie de hodômetro interno, semelhante aos que existem nos
carros. Sugerido inicialmente em 1904, esse hodômetro agora foi descoberto.
Os cientistas suspeitaram que as formigas determinam a distância que percorrem contando passos. Para
testar essa hipótese, fizeram um experimento simples e engenhoso. Imaginaram que se alterassem o comprimento
dos passos das formigas seriam capazes de induzi-las a errar a conta da distância.
As formigas iam sendo capturadas pelos cientistas assim que elas encontravam o alimento e iniciavam a
volta ao formigueiro. Num primeiro grupo, o comprimento das patas das formigas foi aumentado colando-se nelas
uma espécie de perna de pau feita de pelo de porco. Com passos mais longos, as formigas desse grupo erravam a
conta e ultrapassavam o buraco do formigueiro. Em outro grupo de formigas, os cientistas diminuíram o
comprimento das patas através de uma amputação parcial. Por causa dos passos curtos, essas formigas paravam
antes de chegar ao formigueiro.
E, por último, os cientistas colocaram a “perna de pau” em formigas que acabavam de sair do formigueiro.
Nesse caso, como elas contavam os passos maiores tanto na ida quanto na volta, o efeito da perna de pau se anulava
e elas eram capazes de voltar com precisão ao formigueiro.
A conclusão foi que o mecanismo de orientação das formigas é capaz de contar passos e integrar esse dado
ao da direção em que elas caminharam. Nada mau para o cérebro relativamente simples de uma formiga.
(REINACH, F. A longa marcha dos grilos canibais e outras crônicas sobre a vida no planeta Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.)

A
o emprego do nome científico da formiga em questão.
B
a valorização de termos coloquiais, como “zigue-zague”.
C
o uso sistemático da primeira pessoa do discurso.
D
a explicação detalhada sobre como funciona um hodômetro.
E
o uso de termos que suscitam certeza absoluta, como “suspeitaram”.

Gabarito comentado

J
João Silva Monitor do Qconcursos

Tema central da questão: Trata-se de interpretação de texto, com foco em identificar estratégias argumentativas que caracterizam o discurso científico segundo a norma-padrão.

Justificativa da alternativa correta (A):
O uso do nome científico “Cataglyphis” é uma prática típica de textos científicos. Conforme a norma acadêmica e obras como a “Moderna Gramática Portuguesa” de Evanildo Bechara, o emprego de nomenclatura científica confere precisão e universalidade, essenciais para o rigor científico, pois possibilita que qualquer leitor, independentemente do idioma ou cultura, compreenda exatamente a espécie referida.
Esse recurso atesta ao leitor que o texto está inserido no universo do discurso científico, reforçando legitimidade e credibilidade.

Análise crítica das alternativas incorretas:

B) A valorização de termos coloquiais (“zigue-zague”) aproxima o texto do leitor leigo, mas não é estratégia que autentica cientificidade, pois a linguagem científica preza pela precisão lexical.

C) O uso sistemático da primeira pessoa caracteriza textos opinativos ou narrativos pessoais. O discurso científico requer impessoalidade e objetividade, geralmente usando a terceira pessoa.

D) Explicar o funcionamento de um hodômetro é analogia didática, não uma estratégia que confirma o rigor científico do texto. O argumento está em como os dados são tratados e demonstrados, não apenas na descrição de instrumentos.

E) O termo “suspeitaram” denota incerteza e hipótese, não “certeza absoluta”. A linguagem científica valoriza a cautela e o reconhecimento de limites do conhecimento, diferentemente do que afirma a alternativa.

Estratégia para resolver questões semelhantes:
Ao identificar marcadores do discurso científico, procure exemplos como nomenclatura técnica, linguagem impessoal e referências a métodos experimentais. Fique atento a alternativas que confundem estratégia de clareza didática com estratégias de cientificidade.

Resumo para fixação: A alternativa A está correta pois explicita o uso de nomenclatura científica, principal elemento da argumentação científica no texto.

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