O que primeiro chama a atenção do crítico na ficção deste escritor é a despreocupação com as modas dominantes e
o aparente arcaísmo da técnica. Num momento em que Gustave Flaubert sistematizara a teoria do “romance que narra
a si próprio”, apagando o narrador atrás da objetividade da
narrativa; num momento em que Émile Zola preconizava o
inventário maciço da realidade, observada nos menores detalhes, ele cultivou livremente o elíptico, o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa.
A sua técnica consiste essencialmente em sugerir as
coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os
ironistas do século XVIII); ou em estabelecer um contraste
entre a normalidade social dos fatos e a sua anormalidade
essencial; ou em sugerir, sob aparência do contrário, que o
ato excepcional é normal, e anormal seria o ato corriqueiro. Aí
está o motivo da sua modernidade, apesar do seu arcaísmo
de superfície.
(Antonio Candido. Vários escritos, 2004. Adaptado.)
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor
Gabarito comentado
Tema central: O texto analisa as características técnicas e narrativas de um autor brasileiro, alinhando sua obra a traços de modernidade apesar de um estilo considerado arcaico à primeira vista. A questão exige reconhecer elementos típicos de Machado de Assis, principalmente sua postura crítica, irônica e independente das tendências dominantes.
Explicação teórica essencial: Machado de Assis (Realismo brasileiro) era conhecido por:
- Narrador intrusivo: Frequentemente dialoga diretamente com o leitor, intervindo na narrativa;
- Ironia sutil: Sugere ideias e críticas de modo indireto;
- Fragmentação/elipse: Prefere sugerir situações do que exibí-las explicitamente;
- Contraposição à objetividade do naturalismo ou ao detalhismo do realismo europeu.
No trecho, Antonio Candido aponta o “arcaísmo de superfície” e, ao mesmo tempo, a modernidade do autor, marcando as diferenças em relação a Zola (naturalismo extremo) e Flaubert (impessoalidade).
Justificativa da alternativa correta (A): Apenas Machado de Assis se encaixa nesse perfil. Questão de estratégia: Para identificar o autor, note:
- Referência ao “elíptico, incompleto, fragmentário” (traço machadiano);
- Ironia ao “sugerir coisas tremendas da maneira mais cândida”;
- Crítica aos modismos literários europeus (Zola, Flaubert);
- Allusão à modernidade – Machado é pioneiro do romance moderno nacional.
Análise das alternativas incorretas:
- B) José de Alencar: Do Romantismo, narrativas lineares, sem a complexidade fragmentária do texto analisado.
- C) Manuel Antônio de Almeida: Narrativa simples em Memórias de um Sargento de Milícias, sem arcaísmo irônico ou elipse.
- D) Aluísio Azevedo: Naturalismo brasileiro, foco na objetividade e descrição minuciosa.
- E) Euclides da Cunha: Narrativa ensaística, muito descritiva e analítica (Os Sertões), sem ironia ou fragmentação machadianas.
Dica de ouro para provas: Observe sempre palavras-chave (ex: “elíptico”, “fragmentário”, “sugestão”, “modernidade”) e relacione com as escolas literárias e seus principais representantes. Fique atento para não confundir ironia machadiana com crítica social naturalista!
Gabarito: A) Machado de Assis.
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