Questão 6e9a180b-34
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Sabemos que em Literatura nem tudo o que parece
é, de fato. As palavras possuem, no universo literário, pesos
e medidas imensuráveis. Assim, a história das irmãs
envolvidas na trama narrada por uma delas, no romance
Mesa dos inocentes, de Adelice da Silveira Barros, de
que faz parte o Texto 4, nos leva a concluir que (marque
a alternativa correta):
Sabemos que em Literatura nem tudo o que parece
é, de fato. As palavras possuem, no universo literário, pesos
e medidas imensuráveis. Assim, a história das irmãs
envolvidas na trama narrada por uma delas, no romance
Mesa dos inocentes, de Adelice da Silveira Barros, de
que faz parte o Texto 4, nos leva a concluir que (marque
a alternativa correta):
TEXTO 4 Lua de mel! Lua de fel. Bebi meu cálice de amargura,
cumprindo cada uma das estações da dor. Fui
para a cama com um rapaz decente, um amigo fiel,
porém insípido, insosso, desenxabido como a sopa
que agora engulo todas as noites. Enquanto isso, perto
dali, o homem pelo qual meu corpo inteiro latejava,
que eu queria e que me desejava, entrava debaixo dos
lençóis de outra mulher, minha irmã. Amor, paixão,
revolta. Ódio. Com que fúria maldisse meu pai, minha
mãe. Ana Alice, minha irmã, tão apaixonada pelo
Vítor quanto eu, e com a vantagem daquele odioso arzinho
de fragilidade, o trunfo que acabou lhe garantindo
a vitória. Na batalha da força contra a fraqueza,
a última saiu vitoriosa. Quem diria! Com tão escassa
munição, a sonsa Ana Alice venceu a peleja. O castigo tem pressa, não se faz esperar. Aqui
se faz, aqui se paga. O preço foi alto; durante anos,
minha irmã permaneceu chafurdada no inferno do
ciúme. Chamuscou na labareda da inveja a pureza de
suas lindas asas de anjo. Encontrou, um dia, a felicidade?
Não encontrou? Uma coisa é certa: ninguém
pode dizer que Ana Alice tenha sido rejeitada. E, ao
seu modo, talvez tenha sido feliz sim, não sei. No final,
acomodou-se nos braços de um amor maduro, se
morno ou não, quem há de saber? Morreu tranquila
ao lado do marido. Naqueles tempos em que a palavra
dada tinha peso de assinatura, ninguém ponderou
a força da paixão que unia o Vítor a mim. Não
avaliaram a ameaça que representava nossa cumplicidade,
o gosto pelas mesmas coisas, um amor jovem
demais desabrochado na clandestinidade. No início
de nossos casamentos, resistimos. Permanecemos
aparentemente acomodados em nossos compromissos
arranjados. Antes de tudo, vinha a arraigada convicção
de que era necessário manter as aparências. (BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes.
Goiânia: Kelps, 2010. p. 19.)
TEXTO 4
Lua de mel! Lua de fel. Bebi meu cálice de amargura,
cumprindo cada uma das estações da dor. Fui
para a cama com um rapaz decente, um amigo fiel,
porém insípido, insosso, desenxabido como a sopa
que agora engulo todas as noites. Enquanto isso, perto
dali, o homem pelo qual meu corpo inteiro latejava,
que eu queria e que me desejava, entrava debaixo dos
lençóis de outra mulher, minha irmã. Amor, paixão,
revolta. Ódio. Com que fúria maldisse meu pai, minha
mãe. Ana Alice, minha irmã, tão apaixonada pelo
Vítor quanto eu, e com a vantagem daquele odioso arzinho
de fragilidade, o trunfo que acabou lhe garantindo
a vitória. Na batalha da força contra a fraqueza,
a última saiu vitoriosa. Quem diria! Com tão escassa
munição, a sonsa Ana Alice venceu a peleja.
O castigo tem pressa, não se faz esperar. Aqui
se faz, aqui se paga. O preço foi alto; durante anos,
minha irmã permaneceu chafurdada no inferno do
ciúme. Chamuscou na labareda da inveja a pureza de
suas lindas asas de anjo. Encontrou, um dia, a felicidade?
Não encontrou? Uma coisa é certa: ninguém
pode dizer que Ana Alice tenha sido rejeitada. E, ao
seu modo, talvez tenha sido feliz sim, não sei. No final,
acomodou-se nos braços de um amor maduro, se
morno ou não, quem há de saber? Morreu tranquila
ao lado do marido. Naqueles tempos em que a palavra
dada tinha peso de assinatura, ninguém ponderou
a força da paixão que unia o Vítor a mim. Não
avaliaram a ameaça que representava nossa cumplicidade,
o gosto pelas mesmas coisas, um amor jovem
demais desabrochado na clandestinidade. No início
de nossos casamentos, resistimos. Permanecemos
aparentemente acomodados em nossos compromissos
arranjados. Antes de tudo, vinha a arraigada convicção
de que era necessário manter as aparências.
(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes.
Goiânia: Kelps, 2010. p. 19.)
A
A oposição contida na expressão “Lua de mel! Lua
de fel” dá o tom da temática central da narrativa
dessa autora, que nos leva a refletir sobre a dura
realidade: todo acontecimento positivo já anuncia
outro, fatalmente negativo, e não há recompensa
sem esforços.
B
A oposição contida na expressão “Lua de mel! Lua
de fel” não corresponde ao tom da temática central
da narrativa, uma vez que, no fundo, os dois
dizeres nela contidos nos levam à compreensão de
que a realidade é sempre muito surpreendente e,
em muitos casos, como acontece no fragmento em
questão, mel e fel se complementam.
C
trata-se de uma história aparentemente simples,
mas que, melhor observada, revela temas que extrapolam
o drama familiar que serve de pano de
fundo da narrativa. O tema central não é o desencontro
amoroso ou a inveja, mas a falta de diálogo
que se instalou, em nome de uma tradição familiar
que, em última análise, tem muito mais destruído
que reforçado a família como célula fundamental
da sociedade.
D
Trata-se de uma história realmente simples que,
mesmo observada por vários ângulos, não revela
temas que extrapolem os limites dos dramas familiares
cotidianos; afinal, apesar de a história que
serve de pano de fundo para a narrativa em questão
suscitar outros temas, nenhum deles vai além
de uma trama que volta sempre ao tema do desencontro
amoroso carregado de inveja e temperado
por um discreto suspense.