Questão 6d9beaa0-d9
Prova:FASM 2014
Disciplina:Literatura
Assunto:Realismo, Escolas Literárias

Leia um trecho do conto No Moinho, do escritor português Eça de Queirós, em que Maria da Piedade é a personagem central do enredo.

Refugiava-se então naquele amor como uma compensação deliciosa. Julgando-o todo puro, todo de alma, deixava-se penetrar dele e da sua lenta influência. Adrião tornara-se, na sua imaginação, como um ser de proporções extraordinárias, tudo o que é forte, e que é belo, e que dá razão à vida. […] Leu todos os seus livros, sobretudo aquela Madalena que também amara, e morrera de um abandono. Estas leituras calmavam-na, davam-lhe como uma vaga satisfação ao desejo. Chorando as dores das heroínas de romance, parecia sentir alívio às suas.
Lentamente, esta necessidade de encher a imaginação desses lances de amor, de dramas infelizes, apoderou-se dela. Foi durante meses um devorar constante de romances. Ia-se assim criando no seu espírito um mundo artificial e idealizado. A realidade tornava-se-lhe odiosa, sobretudo sob aquele aspecto da sua casa, onde encontrava sempre agarrado às saias um ser enfermo. Vieram as primeiras revoltas. Tornou-se impaciente e áspera. Não suportava ser arrancada aos episódios sentimentais do seu livro, para ir ajudar a voltar o marido e sentir-lhe o hálito mau. Veio-lhe o nojo das garrafadas, dos emplastros, das feridas dos pequenos a lavar. Começou a ler versos. Passava horas só, num mutismo, à janela, tendo sob o seu olhar de virgem loura toda a rebelião duma apaixonada. Acreditava nos amantes que escalam os balcões, entre o canto dos rouxinóis: e queria ser amada assim, possuída num mistério de noite romântica…
(Eça de Queirós. Contos, s/d.)

Nesse trecho do conto, evidencia-se a ligação do escritor à estética realista, pois ele

A
enaltece a capacidade de resignação da protagonista que, diante de cruéis adversidades, aceita com benevolência sua condição feminina.
B
condena a atitude do forasteiro Adrião que, movido por interesses escusos, se apresenta como um homem indefeso e menosprezado pela sociedade a fim de seduzir Maria da Piedade.
C
enfatiza a função social da literatura que, por meio de narrativas de diferentes gêneros, define o casamento como uma instituição burguesa e ultrapassada a ser abolida.
D
critica a educação romântica que levava mulheres, como Maria da Piedade, a crer que o sentido da própria existência dependia exclusivamente de relacionamentos amorosos eternos e arrebatadores.
E
evidencia a situação de miséria e abandono em que viviam os camponeses no século XIX em Portugal, fato que conduzia esses indivíduos à total alienação social.

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