Questão 6d9beaa0-d9
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Leia um trecho do conto No Moinho, do escritor português Eça
de Queirós, em que Maria da Piedade é a personagem central do
enredo.
Refugiava-se então naquele amor como uma compensação deliciosa. Julgando-o todo puro, todo de alma, deixava-se penetrar
dele e da sua lenta influência. Adrião tornara-se, na sua imaginação, como um ser de proporções extraordinárias, tudo o que é forte,
e que é belo, e que dá razão à vida. […] Leu todos os seus livros,
sobretudo aquela Madalena que também amara, e morrera de um
abandono. Estas leituras calmavam-na, davam-lhe como uma vaga
satisfação ao desejo. Chorando as dores das heroínas de romance,
parecia sentir alívio às suas.
Lentamente, esta necessidade de encher a imaginação desses lances de amor, de dramas infelizes, apoderou-se dela. Foi
durante meses um devorar constante de romances. Ia-se assim
criando no seu espírito um mundo artificial e idealizado. A realidade tornava-se-lhe odiosa, sobretudo sob aquele aspecto da sua
casa, onde encontrava sempre agarrado às saias um ser enfermo. Vieram as primeiras revoltas. Tornou-se impaciente e áspera.
Não suportava ser arrancada aos episódios sentimentais do seu
livro, para ir ajudar a voltar o marido e sentir-lhe o hálito mau.
Veio-lhe o nojo das garrafadas, dos emplastros, das feridas dos
pequenos a lavar. Começou a ler versos. Passava horas só, num
mutismo, à janela, tendo sob o seu olhar de virgem loura toda a
rebelião duma apaixonada. Acreditava nos amantes que escalam
os balcões, entre o canto dos rouxinóis: e queria ser amada assim,
possuída num mistério de noite romântica…
(Eça de Queirós. Contos, s/d.)
Nesse trecho do conto, evidencia-se a ligação do escritor à estética realista, pois ele
Leia um trecho do conto No Moinho, do escritor português Eça
de Queirós, em que Maria da Piedade é a personagem central do
enredo.
Refugiava-se então naquele amor como uma compensação deliciosa. Julgando-o todo puro, todo de alma, deixava-se penetrar
dele e da sua lenta influência. Adrião tornara-se, na sua imaginação, como um ser de proporções extraordinárias, tudo o que é forte,
e que é belo, e que dá razão à vida. […] Leu todos os seus livros,
sobretudo aquela Madalena que também amara, e morrera de um
abandono. Estas leituras calmavam-na, davam-lhe como uma vaga
satisfação ao desejo. Chorando as dores das heroínas de romance,
parecia sentir alívio às suas.
Lentamente, esta necessidade de encher a imaginação desses lances de amor, de dramas infelizes, apoderou-se dela. Foi
durante meses um devorar constante de romances. Ia-se assim
criando no seu espírito um mundo artificial e idealizado. A realidade tornava-se-lhe odiosa, sobretudo sob aquele aspecto da sua
casa, onde encontrava sempre agarrado às saias um ser enfermo. Vieram as primeiras revoltas. Tornou-se impaciente e áspera.
Não suportava ser arrancada aos episódios sentimentais do seu
livro, para ir ajudar a voltar o marido e sentir-lhe o hálito mau.
Veio-lhe o nojo das garrafadas, dos emplastros, das feridas dos
pequenos a lavar. Começou a ler versos. Passava horas só, num
mutismo, à janela, tendo sob o seu olhar de virgem loura toda a
rebelião duma apaixonada. Acreditava nos amantes que escalam
os balcões, entre o canto dos rouxinóis: e queria ser amada assim,
possuída num mistério de noite romântica…
(Eça de Queirós. Contos, s/d.)
Nesse trecho do conto, evidencia-se a ligação do escritor à estética realista, pois ele
A
enaltece a capacidade de resignação da protagonista que,
diante de cruéis adversidades, aceita com benevolência sua
condição feminina.
B
condena a atitude do forasteiro Adrião que, movido por interesses escusos, se apresenta como um homem indefeso e menosprezado pela sociedade a fim de seduzir Maria da Piedade.
C
enfatiza a função social da literatura que, por meio de narrativas
de diferentes gêneros, define o casamento como uma instituição burguesa e ultrapassada a ser abolida.
D
critica a educação romântica que levava mulheres, como
Maria da Piedade, a crer que o sentido da própria existência dependia exclusivamente de relacionamentos amorosos
eternos e arrebatadores.
E
evidencia a situação de miséria e abandono em que viviam
os camponeses no século XIX em Portugal, fato que conduzia esses indivíduos à total alienação social.