Não lhe parece bizarro, caro leitor, que a peça publicitária se
valha de uma expressão alienígena, pouco compreensível para
muita gente, e (bizarrice das bizarrices) imediatamente a apresente mais ou menos traduzida?
As expressões em destaque podem ser substituídas, corretamente
e sem alteração do sentido do texto, por
Leia o texto para responder à questão.
“Optical Parking System”
Está nas páginas das revistas especializadas em automóveis
uma peça publicitária de um veículo produzido por uma das multinacionais com fábrica no Brasil: “Optical Parking System”. A
maravilhosa engenhoca é um dos equipamentos do veículo.
O caro leitor sabe o que vem a ser o bendito “Optical
Parking System”? Bem, para ser justo, convém dizer que o
próprio anúncio explica (quase em português): “Display do
sensor de estacionamento”. Para quem não entendeu, explico:
na tradução, foi empregada a palavra “display”, que talvez
pudesse ser substituída por “mostrador”, “painel” ou sabe
Deus o quê.
Antes que alguém se empolgue e comece a pensar que este
texto é um manifesto contra todo e qualquer estrangeirismo ou a
favor de purismos linguísticos, vou logo dizendo: devagar com
o andor, por favor.
Nada de pensar que temos de trocar “futebol” por “ludopédio”,
“bola-pé” etc. ou que temos de banir termos mais do que consagrados como “show”, “gol” ou “know-how”.
O problema é outro. Mais precisamente, é a bizarrice de
certos usos de estrangeirismos. Se um publicitário usa “target”
no seu meio profissional, vá la. Qualquer publicitário sabe o que
é isso, mas quem não é do ramo não tem nenhuma obrigação
de saber o que é essa bobagem, sobretudo porque há na língua
materna o termo “alvo”, que é absolutamente equivalente e infinitamente mais conhecido.
Voltemos ao “Optical Parking System”. Não lhe parece
bizarro, caro leitor, que a peça publicitária se valha de uma
expressão alienígena, pouco compreensível para muita gente,
e (bizarrice das bizarrices) imediatamente a apresente mais ou
menos traduzida? Sob o ponto de vista da comunicação, não
seria mais eficiente e racional apresentar a informação só em
português mesmo?
Aliás, por que será que as fábricas de automóveis instaladas no
Brasil insistem em montar em seus produtos painéis com informações e respectivas abreviações em inglês? Será que nossa produção
em larguíssima escala – somos ora o quarto, ora o quinto mercado
do mundo – não justifica o custo de um painel tupiniquim?
Que fique claro: isto nem de longe é um manifesto purista,
xenófobo ou algo do gênero. O problema é outro; é o uso gratuito
do estrangeirismo, o que quase sempre se dá por esnobismo ou
tolice mesmo. Xô, complexo de vira-lata! É isso.
(Pasquale Cipro Neto. Folha de S.Paulo, 06.12.2012. Adaptado.)
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto com enfoque em sinônimos e regência verbal. É exigida a análise da relação semântica entre palavras e estruturas, preservando o sentido do texto, segundo a norma-padrão e o uso correto da regência pronominal (“valer-se de” = verbo pronominal).
Justificativa da alternativa correta: B) esquisito – se utilize de – estrangeira – inteligível.
1. “Bizarro” equivale, em contexto, a “esquisito” (“Evanildo Bechara” destaca, nos estudos de semântica, a importância do contexto na equivalência de sentidos).
2. “Valha-se de” significa, pela regência verbal, “se utilize de”. É verbo pronominal e exige a preposição “de” (Cf. Celso Cunha & Lindley Cintra, “Nova Gramática do Português Contemporâneo”).
3. “Alienígena” assume sentido de “estrangeira” (de origem exterior ao idioma padrão do receptor).
4. “Compreensível” pode ser trocado por “inteligível”, expressando algo que se pode entender, como recomendam os dicionários e gramáticas normativas.
Análise das alternativas incorretas:
A) “Traduza” não equivale a “valha-se de”. “Conhecida” é oposta a “alienígena”, que remete a algo estrangeiro/desconhecido.
C) “Rara” e “valorizada” fogem ao sentido de “alienígena” e “compreensível”.
D) “Literária” não corresponde a “alienígena”. “Acessível” não enfatiza a compreensão do termo.
E) “Retome” não é sinônimo de “valha-se de” (não expressa a ideia de se utilizar). “Fictícia” (imaginária) e “perceptível” (apreensível pelos sentidos) não se encaixam semanticamente.
Destaque para sua preparação:
Atente para a regência verbal dos verbos pronominais (como “valer-se de”) e para sinônimos de acordo com o contexto. Sempre desconfie de alternativas que tragam sentidos apenas aparentes ou substituções literais mas fora de contexto.
No texto, percebe-se crítica ao uso gratuito e pouco funcional de estrangeirismos. A compreensão dessa crítica reforça a necessidade de boas escolhas lexicais na hora de substituir termos!
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