Leia o fragmento de Terra Sonâmbula, do escritor
moçambicano Mia Couto, para responder a QUESTÃO.
Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos
caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e
poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em
cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que
tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de
levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os
viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem
da morte. (...)
COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 9.
Observando a passagem do romance, é CORRETO afirmar que
Gabarito comentado
Tema central da questão:
A questão exige do candidato a interpretação literária de um trecho do romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, focando principalmente nos efeitos da guerra sobre os viventes e no uso de linguagem metafórica. Isso se enquadra no estudo das Escolas Literárias Contemporâneas e da literatura pós-colonial africana, que frequentemente retrata realidades sociais por meio de recursos estilísticos ricos.
Comentário da alternativa correta – C:
O trecho destacado (“E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte”) utiliza uma comparação metafórica para mostrar como a guerra leva as pessoas a um estado de resignação e adaptação à presença constante da morte. O verbo “acostumaram” e a expressão “em resignada aprendizagem” evidenciam que o sofrimento tornou-se rotina, tornando inevitável a aceitação da destruição e do luto. A alternativa C está correta porque interpreta adequadamente o sentido figurado do texto, reconhecendo o impacto existencial da guerra sobre os personagens.
No estudo para concursos, é importante reconhecer palavras-chave como “acostumaram” e “resignada aprendizagem”, que indicam adaptação perante a adversidade.
Análise das alternativas incorretas:
A) Falsa. O narrador não usa linguagem objetiva. Frases como “cores sujas ... esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul” são fortes exemplos de linguagem subjetiva e metafórica, marcando a qualidade poética típica da obra de Mia Couto.
B) Incorreta. “A guerra tinha morto a estrada” é uma personificação que enfatiza a destruição causada pela guerra. Não há referência a reconstrução; pelo contrário, reforça a ideia de interrupção e morte do caminho, crítica à devastação.
D) Equivocada. A ideia de que a paisagem “se mestiçara de tristezas nunca vistas” expressa desolação e ausência de esperança, e não perspectiva de futuro melhor. Atenção para pegadinhas que se valem de leitura superficial!
Estratégias para provas:
Observe sempre os elementos simbólicos nos textos literários contemporâneos, distinguindo linguagem subjetiva de objetiva. Leia com atenção palavras de valor emocional e uso de metáforas, e desconfie de alternativas que afirmam o contrário do tom do trecho, como sugerir esperança onde há apenas tristeza.
Resumo teórico: Mia Couto emprega o realismo mágico, marca da literatura pós-colonial, servindo-se de imagens poéticas para retratar os traumas sociais da guerra. Referências didáticas como Literatura Brasileira: das Origens aos Nosso Dias, de Massaud Moisés, apontam para a importância dessas estratégias na interpretação textual para concursos.
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